Descubra se você está sendo vigiado pelo seu celular

Saiba como se proteger da constante coleta de dados realizada  por  grandes empresas

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  • Kalven Figueiredo

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 08:46

- Atualizado há um ano

A resposta é: depende. Desde que os assistentes virtuais como Siri (IOS), Google (Android) e Cortana (Windows) ficaram mais acessíveis, tem muita gente se sentindo constantemente vigiado. E se você tem algum deste sistema habilitado no seu celular, segundo especialistas consultados pelo CORREIO, a resposta é sim. Eles escutam tudo o que é dito perto dele, o tempo todo. 

Enquanto vasculhava algumas pastas de seu celular, o estudante de engenharia elétrica João Marcelo, 22 anos, encontrou uma delas repleta de áudios de conversas aleatórias, que tem certeza de não ter gravado. Tem coisa mais ‘Black Mirror’ que isso? O fato se explica porque  o Google faz gravações aleatórias de trechos de conversas dos usuários e as separa em uma pasta, onde podem ser escutados e até excluídos. A empresa justifica que esta gravação automática é feita para a melhoria das ferramentas de reconhecimento de idioma e até a pronúncia do Google Translate, por exemplo.“É invasivo. Não acho certo porque mesmo com você concordando com isso ao inicializar o Android, os termos não estão claros e facilmente acessíveis. É preciso ler muito texto para saber o que eles realmente podem fazer com a nossa permissão”, opina o estudante.Pra ele não é surpresa que o celular escuta o que ele diz o tempo todo. “Na última sexta eu comemorei meu aniversário em uma casa de jogos de mesa com alguns amigos. Na volta pra casa, no meu instagram, apareceram diversos anúncios e ofertas de jogos de tabuleiro, inclusive alguns que jogamos ”, relata. Embora se considere uma pessoa descuidada com seus dados pessoais, ele diz que  não compartilhar dados sensíveis em aparelhos eletrônicos.

Mas o caso do estudante pode não ser a realidade de todos, isso porque a ‘espionagem’ é, na maioria das vezes, autorizada pelo usuário, ainda que  não tenha conhecimento. Essa facilidade de acesso ao microfone do celular tem relação direta à popularização dos assistentes virtuais. 

O especialista em segurança digital Alexandro Silva, 44, alerta que a maioria das situações é causada pelos próprios usuários. “A gente entrega todas essa informações para essa empresas, de forma ingênua e muitas vezes descuidada”, avisa. 

Ele explica que existem dois meios de obter estes dados: Os cookies do navegador e por meio da integração entre os bancos de dados. Os cookies coletam informações a partir do acesso do usuário, como a localização, horários que costuma acessar, o que tem pesquisado ultimamente e até coisas mais específicas como a número da rede que o usuários está logado. Todas essas informações são vendidas à empresas que trabalham com publicidade para direcionar seus produtos a um público correspondente.

A segunda maneira é mais simples e tem relação com a conexão entre aplicativos. Por exemplo, quando um jogo pede acesso a um aplicativo medidor de passos, ou o usuário realiza um cadastro com base em dados já armazenados em uma rede social. 

A advogada Ana Paula De Moraes, especializada em direito digital, alerta para os termos de condições e uso. “Uma vez que são aceitos não tem volta”, ressalta. Ela ainda lembra que, por enquanto, esses termos não têm limites e podem fazer qualquer exigência, ao menos  até o dia 16 de fevereiro de 2020, prazo final para que as empresas que trabalham com dados se enquadrem na lei nº 13.709 de proteção dos dados pessoais.

Quando o prazo se extinguir, todas as empresas deverão solicitar permissões no dispositivo do usuário apenas quando forem essenciais para o funcionamento do software. Além disso, o desenvolvedor deverá explicar as finalidades da coleta. 

Quem não cumprir as medidas dentro do prazo poderá ser multado, em valores que podem chegar até 50 milhões de reais, e ter seu banco de dados suspenso temporariamente.  As empresas terão, ainda, que  comunicar o fato à Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais (ANPD), órgão responsável pela fiscalização.

Como as grandes empresas justificam a coleta de dados?

Facebook Afirma que as ferramentas de áudio e vídeo/foto são usadas apenas quando o usuário habilita a câmera ou o microfone. Sobre os anuncios sugeridos, a empresa garante que é baseado nos interesses das pessoas (páginas curtidas, grupos que participa, barra de pesquisa) e outras informações de perfil. 

Google Quando o assistente virtual está ativado, a empresa assumiu que grava áudios ao longo do dia para aprendizado do assistente e melhorias em outras ferramenteas como o Google Tradutor. Além disso, o navegador registra e coleta dados de acesso, como as buscas do usuários, senhas, horário de acesso, localização e com base nisso, algumas publicidades direcionadas começam a surgir. 

Apple Embora tenha o lema: "o que acontece no iPhone, fica no iPhone", a Siri, quando ativada, tem acesso aos dados pelo microfone. Além de aplicativos organizadores como o Saúde que registra a quantidade de exercícios feitos pelo usuário. Além do Wallet que pode monitorar a renda mensal e outro aplicativos organizadores que acabam servindo para entender mais sobre o usuário.

Dicas do especialista

1- Navegador Prefira navegadores com navegação criptografada, ou simplesmente a aba anônima.

2 - Cookies Exclua os cookies do navegador. São eles que armazenam suas informações e ajudam no direcionamento de publicidade

3- Termos  Leia com atenção os termos de condição e uso de programas e aplicativos antes de aceitá-los 

4- Funcionalidade Avalie as permissões pedidas antes de aceitá-las. Se o aplicativo é para agendar coisas, por exemplo, não precisa ter acesso a microfone e câmera

* Com orientação da editora Ana Cristina Pereira