Desinteresse do povo vem das derrotas

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Publicado em 17 de maio de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Falta um mês para a estreia do Brasil na Copa do Mundo e reflito sobre recente pesquisa Datafolha que aponta que o brasileiro está menos interessado na Copa do Mundo. Segundo o levantamento, feito em janeiro, 42% dos entrevistados disseram não estar nem aí para o que Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo e companhia podem fazer na Rússia. O índice impressiona ainda mais se comparado com a pesquisa feita em dezembro de 2009, quando 18% declararam não ter interesse na Copa que seria realizada na África do Sul no ano seguinte.

Daqui em diante, permita-me especular, e em duas frentes. A primeira fonte de desinteresse da população pode ser o legado da Copa de 2014, no Brasil. Como vimos, foi uma grande oportunidade para construir elefantes brancos em cidades onde não há demanda futebolística e gastar R$ 8 bilhões só em estádios, sendo que 10 dos 12 utilizados na Copa são investigados por fraude – Fonte Nova inclusa. As exceções são Beira-Rio, em Porto Alegre, e Arena da Baixada, em Curitiba, cujas reformas foram comandadas pelo Internacional e pelo Atlético-PR, donos das praças.

Para se ter ideia, todas as obras em arenas públicas (e mais o Itaquerão, do Corinthians) são suspeitas de superfaturamento e/ou pagamento de propina a agentes públicos para favorecer empreiteiras interessadas em ganhar o contrato com o governo.

Como se não bastasse, dois anos depois o Brasil sediou a Olimpíada, e as sequelas apareceram novamente, dessa vez concentradas no Rio de Janeiro. Obras apontadas como legado olímpico não saíram do radar da trupe do então governador Sérgio Cabral, preso desde novembro de 2016.

Tem mais: os últimos três presidentes da CBF são investigados e/ou condenado por corrupção (Ricardo Teixeira não sai do Brasil porque aqui não será extraditado, José Maria Marín está preso nos EUA e Marco Polo del Nero também não deixa o país para não ter fim igual), mas nada disso é capaz de mudar o comando do futebol brasileiro. Pelo contrário: Del Nero até fez o sucessor e, antes disso, capitaneou uma manobra no estatuto da CBF que deu às federações estaduais mais poder perante os clubes.

Vem daí tamanho desinteresse pelo maior evento de futebol do planeta? Talvez, mas acredito que só em parte. Essa primeira versão considera que o povo brasileiro se indigna com a corrupção a ponto de perder interesse na Copa do Mundo. Seria ótimo se fôssemos assim, mas desta visão otimista e altruísta do nosso povo, infelizmente, não compartilho. 

Para mim, o motivo maior está a seguir: o brasileiro não gosta de perder. É a herança do 7x1 que incomoda, envergonha e enfurece. 

Todo esse lamaçal dá nojo. Mas e se tivéssemos dado 7x1 na Alemanha e ganhado a Copa de 2014 em cima da Argentina? Ah, amigo. Aí eu boto minha mão no fogo para dizer: não teria desinteresse certo. País do futebol? Sim, se me permite uma pequena adaptação: somos o país que gosta de ganhar no futebol. Espera só Neymar enfileirar suíços, sérvios e outros “joões” pra ver a euforia. O problema é que, na contramão desse desejo, já são três Copas seguidas vendo derrotas. Até Dunga como treinador inventaram no período. Aí não tem torcedor que aguente.*Herbem Gramacho é editor do Esporte e escreve às quintas-feiras