Dez mil peças do século XVII são encontradas durante obra no Carmo

As louças, que estão em exposição, são consideradas as verdadeiras ‘jóias da coroa’

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  • Carol Aquino

Publicado em 11 de janeiro de 2018 às 04:05

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Um conjunto de pratos quebrados, frascos de perfume usados e chaves antigas. Tudo isso parece algo sem valor à primeira vista, mas não quando se trata de peças de 200 a 400 anos de história.

Um conjunto com dez mil objetos, entre inteiros e fragmentos, foi encontrado durante uma obra de construção de três subestações da Coelba em Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. Uma pequena amostra está exposta até a sexta-feira, no Forte da Capoeira, no Santo Antônio.

As peças encontradas durante as escavações dizem respeito ao dia a dia da população que habitava o bairro entre os séculos XVII e XX, segundo o arqueólogo e museólogo responsável pela coleta e catalogação das peças, Joalbo de Moraes. Curador da exposição Bairro Santo Antônio Além do Carmo, uma visão arqueológica, ele conta que são peças relativas a hábitos de higiene e alimentação da população.

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“São urinóis, louças e cachimbos que indicam não só o período em que a população habitou aquela área, bem como a sua condição social”.

Pelas peças coletadas e pelos estudos históricos já existentes, é possível dizer que o bairro teve uma ocupação residencial até o início do século XX. A ocupação era mista, tinha desde casarões mais abastados a pequenos casebres e habitações coletivas (chamadas de lojas) que reuniam trabalhadores pobres, escravos de ganho ou alforriados.

Entre as descobertas estão peças sem datação determinada, como cravos (primeiros pregos),  garrafas de vidro feitas com a técnica de sopro e porrões (vasos para carregar água). Do conjunto se destaca um frasco de perfume. Ao contrário do que se vê hoje, a peça (anterior ao século XX) é uma garrafa deitada. “Era uma técnica para preservar melhor a essência”, conta Moraes. Entre as peças é possível achar ainda pratos de barro, alguidares, ainda hoje usados nas religiões de matriz africana.

As louças são consideradas as verdadeiras ‘jóias da coroa’. “Através das técnicas de produção e padrão de pintura, é possível encontrar indícios da cronologia e do padrão executivo dos seus donos”, revela Moraes. No acervo há as chamadas “faianças portuguesas”. Anteriores ao século XVIII, foram o primeiro tipo de louça que chegou ao Brasil vinda diretamente de Portugal. Como na colônia não era possível ter indústrias ou importar peças, somente itens lusitanos chegavam por aqui.

Apenas cerca de 20 peças estão em exposição no Forte da Capoeira, porque a maioria do material encontrado era formada de pequenos fragmentos. Do acervo, só 20% do que foi coletado tem condição de ser exposto.

Como o bairro do Santo Antônio Além do Carmo é uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pela Unesco, o acompanhamento arqueológico das escavações era um requisito obrigatório para a intervenção. Operários da obra também foram capacitados para saber quando se tratava de indícios de material histórico e não danificar as peças.