Diário da Série B: Começar de novo

Geninho estreia em mais um empate sem gols em casa, onde o time não marca há 5 jogos: Vitória 0×0 Atlético-GO

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  • Gabriel Galo

Publicado em 28 de setembro de 2019 às 22:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Salvador, 24 de setembro de 2019

Rodada 24 de 38

O amigo Eugênio

O São Bento provocou mais uma troca de comando no Vitória. Se no primeiro turno a vitória por 3 a 1 em pleno Barradão causou a queda de Tencati, no segundo turno o estrago se repetiu.

Perder para o modesto time de Sorocaba foi mais uma etapa de um futebol que nunca empolgou sob a ordens de Carlos Amadeu. No que a queda consecutiva para o lanterna da Série B foi demais para manter Amadeu. Despediu-se logo após a volta de São Paulo.

Não tardou e o presidente rubro-negro, mais uma vez fazendo de seu twitter pessoal o canal oficial de comunicação do Vitória, anunciou a chegada de Geninho.

O amigo Eugênio não é um novato na Toca do Leão. O que não necessariamente significa boas lembranças. Em sua última passagem pelo Barradão, Geninho foi demitido após um começo cambaleante na Série B de 2011.

Já rompendo a barreira dos 70 anos, Geninho ainda tem lenha pra queimar. No ano passado liderou o Avaí de volta à primeira divisão.

Se a briga do Vitória, por motivos óbvios, não é para subir, a chegada de um técnico com mais experiência pode ser o caminho para evitar o desastre do rebaixamento.

Aos primórdios de Amadeu

Como todo trabalho que chega que começa no meio do caminho, a primeira atitude de Geninho foi retomar a formação que deu certo nos primórdios da esquecível passagem de Amadeu. Gedoz, Wesley, Jordy e Anselmo Ramon formariam o quarteto ofensivo, enterrando o esquema com 3 volantes, pelo menos por enquanto.

Mudança forçada apenas na zaga. O zagueiro Dedé, contratado em maio, finalmente estrearia no profissional rubro-negro. Foi escalado pro jogo nno lugar de Zé Ivaldo, o beque que veio do Atlético-PR no mesmo voo de Felipe Gedoz. Enquanto Gedoz assumiu a titularidade e se tornou peça fundamental do esquema (tem esquema?) tático (tem tática?) rubro-negro, Ivaldo sofreu com lesão e parece não ter espaço no elenco.

Para completar, Matheus Rocha e Capa fariam as laterais.

Era o Vitória de Amadeu de volta.

A Fonte e o “conforto”

Antes de entrar no aspecto técnico (tem técnica?) da partida, um absurdo acontecia nos anéis superiores da Nova Fonte.

Se um dos argumentos de assumir o estádio central como casa rubro-negra, além da tal isonomia de contrato para impedir o rival de controlar com exclusividade um equipamento público, era o conforto proporcionado pelas instalações modernas da arena de Copa do Mundo.

Só que a conta de custos vale mais do que o bom senso.

O plano Prata do Sou Mais Vitória concentra a maior parte dos associados rubro-negros. Mais de 10 mil sócios se enquadram neste perfil. Só que para evitar mais trechos de arquibancada, a administração da dita arena confinou a torcida num minúsculo espaço.

Risco de acidente.

Direitos de consumidor desrespeitados.

Maus tratos.

Tudo em nome de uma economia de custos – faltava segurança para abrir o novo trecho. Como disse Diego de Assis, foi um estranho e inaceitável caso de estádio vazio superlotado.

Foi necessária a chegada da Polícia ordenando a abertura do setor Norte Superior. Obedecido parcialmente e a contragosto pela administração do estádio.

É só mais um exemplo de descaso e maus tratos à nação rubro-negra. É inconcebível o que sofre o torcedor do Vitória.

2, 1, 3

A sequência de três partidas do Vitória na Série B preocupa. Às portas do Z4, iniciaria uma turnê particular contra os 3 líderes da competição.

Primeiro, o segundo colocado Atlético-GO em casa. Ou melhor: “casa”, com aspas.

Depois, visitaria o primeirão Bragantino no interior paulista. Parada duríssima.

Encerraria a triplíce problemática contra o Sport, em Salvador.

A zona da degola chama o Vitória de volta.

Bom primeiro tempo

Na largada do baba, uma boa postura do Vitória era vista em campo. Bom posicionamento defensivo, um pouco mais de organização ofensiva. Nada que chegasse a incomodar o Atlético-GO, entretanto. Na evolução ao ataque, passes errados de Gedoz e Wesley, como sempre, interrompiam a sequência.

Do outro lado, os goianos não pareciam muito interessados em tentar algo mais.

E assim se fez um primeiro tempo morno, mas dadas as recentes apresentações rubro-negras, para muitos, foi até boa.

Vai mesmo jogar pelo empate?

Só que como já foi deliberado e comprovado, ao Vitória não é permitido jogar bem (bem?) mais do que uma metade de jogo. E a segunda etapa foi daquelas que habitam os pesadelos da arquibancada. Passes errados em profusão. Erros básicos de fundamentos do futebol.

Se tem coisas que só acontecem com o Botafogo, algo de muito estranho acontece pelos lados de Canabrava.

Diante da inoperância baiana, o Atlético-GO se mantinha impávido. Parecia contente com o empate. E o obteve.

Vitória 0×0 Atlético-GO. E muito trabalho para editores de melhores momentos nos programas esportivos.

Qual é dessa história com Eron?

Se uma das queixas com Amadeu era a demora nas substituições, Geninho já chegou mostrando que esta é a norma.

Se por um lado faz sentido deixar uma formação ganhar entrosamento ao mantê-la em campo o máximo de tempo possível, por outro, aguentar 26 minutos de desafio ao juízo que foi o futebol (futebol?) do Vitória para realizar a primeira substituição. Anselmo Ramon, muito vaiado, cumprimentou Felipe Garcia na entrada.

Mas, nada.

Aos 37, foi a vez de Gedoz, outra vez muito mal (é de se pensar qual a real capacidade do badalado atleta, mal em quase todas as apresentações), dar lugar a Chiquinho.

Mas, nada.

Só que tem algumas coisas que são fazem parte realmente de um folclore. No Vitória em 2019, foi criado um conto que envolve Eron e sua participação em campo.

Se com Amadeu era quase certo que seria acionado depois dos 40 minutos do segundo tempo como último recurso, desta feita ele foi ao gramado aos 48 minutos do segundo tempo.

QUARENTA E OITO MINUTOS.

É do futebol: substituição a esta hora só se aceita em dois cenários. Ou é para consagrar um jogador para ser aplaudido pela torcida depois de uma grande exibição, ou é para ganhar aqueles segundos quando o time está ganhando. De resto, razão se ausenta.

Pois com o Vitória tudo é possível.

O nosso amigo Eugênio, pois, sacramentou a terceira e última troca quando nem tocar na bola era mais possível.

E segue a fritura de Eron. 

A trama se adensa

O último gol rubro-negro com mando de campo foi no longínquo 10 de agosto, ainda no primeiro tempo contra o Paraná. Desde então, foram 4 empates por zero a zero e uma derrota por 1 a 0.

São cinco jogos seguidos sem faer com se grite gol em casa.

E não é que seja possível dizer que o time esteve perto.

Os melhores tempos – o primeiro contra o Operário-PR e este primeiro contra o Atlético-GO – aconteceram sem grandes oportunidades. O bom (bom?) Vitória tem volume de jogo, controle da bola, mas não agride, não evolui, não finaliza.

Só que faltam apenas catorze rodadas para o fim da Série B. E diante dos desafios que se apresentam com Bragantino e Sport, teme-se uma volta ao Z4.

Se nem contra os lanternas foi possível sequer empatar, esperar grandes vitórias contra os líderes é questão de fé. Algo ao que os torcedores têm que se agarrar, porque elementos de realidade só servem como desestímulo.

Ainda há tempo para fugir de vez da ameaça de uma catástrofe. O que parece não haver é competência e tranquilidade para trabalhar. Frente a isso, mesmo muito tempo parece pouco.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do CORREIO.