Diário da Série B: Diagonal

Terminar o turno contra o 2° colocado fora de casa seria sinal de desastre. Mas o empate foi excelente resultado, especialmente com o pobre futebol apresentado. Coritiba 1×1 Vitória.

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  • Gabriel Galo

Publicado em 28 de agosto de 2019 às 10:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Gabriel Machado/Estadão Conteúdo

Curitiba, 27 de agosto de 2019

Rodada 19 de 38

Desfalques

O confronto que encerraria o primeiro do turno desta Série B poderia representar uma volta rubro-negra ao Z4 e à desconfiança. À desconfiança porque a sequência de empates em zero a zero no Barradão geraram despertaram o medo de que as vitórias na chegada de Amadeu tenham sido obra do acaso.

O Vitória, pois, enfrentaria o forte Coritiba, fora de casa, que tem na 9 o artilheiro da competição. E seguiria ao sul com 2 desfalques fundamentais.

Na volância, Baraka foi injustamente amarelado em lance que sequer falta fora. Somou o terceiro e ficaria em Salvador.

Na meiuca, Gedoz deu piti incompreensível, foi advertido pelo árbitro e faria companhia a Baraka em Salvador.

Se completo o futebol da equipe não é exatamente vistoso, a ausência de ambos, importantes que são na organização tática rubro-negra, deixava a matemática desfavorável aos baianos.

As substituições

Os desfalques foram supridos sem criatividade. O que, dado o momento que acumula jogos um atrás do outro, é até recomendável.

Assim, Chiquinho ocuparia a vaga de Gedoz, a formar mais uma vez a dupla com Capa pelo lado esquerdo rubro-negro. Já na posição de Baraka, Leo Gomes estava escalado. Se não empolga, ao menos, a estrutura da equipe seria mantida. Wesley, Anselmo Ramon e Jordy completariam a linha de frente.

A incógnita, contudo, era sobre qual a seria a postura da equipe em campo. Depois da apatia do par de jogos anteriores, a melhor substituição possível seria a raça retornar.

Segura a diagonal!

A maior mudança na equipe, porém, foi a estabilidade defensiva desmoronando para apresentar os mesmos problemas de sempre. Sabedor dos atalhos para enfrentar o Vitória, o Coritiba tratou de abusar de uma jogada: o lançamento em diagonal de um lado do campo procurando um ponta aberto do lado oposto.

E a diagonal da redonda desbaratinou o sistema defensivo rubro-negro.

Consciente, o Coritiba levava a bola pra um lado, posicionava o ponta no lado oposto, invertia num lançamento e o salseiro estava armado.

Com dificuldades nessas recomposições, Van e Capa sofreram, em especial o lateral direita. E o Vitória, consequentemente, também.

Cada ataque do coxa era um perigo. Subiam com o controle do jogo pra, na diagonal que escancarava o caminho para o gol rubro-negro, encontrar a meta com visão aberta. Era um remake dos tempos de Mancini e a defesa mais esburacada do Brasil. Bola na trave uma vez, duas vezes, gols feitos desfeitos no arremate torto ou no bote salvador de última hora.

Até que numa dessas invertidas, o Coxa teve falta na intermediária esquerda para cobrar. Relógio passava dos 40 minutos do primeiro tempo. Não ter saído gol até aquele momento era muito mais questão de sorte rubro-negra que de não merecimento curitibano.

Junte o clichê de que água mole em pedra dura, pipipi, popopó com aquele outro que afirma que o gol estava maduro, e pronto! Bola na área, Martin sai errado, e na diagonal do levantamento entra no gol sem tocar em ninguém, balançando as redes. Era o primeiro gol sofrido pelo rubro-negro na era Amadeu.

Coritiba 1×0 Vitória.

No lance, Martin cai pedindo atendimento por contusão. Pouco tempo depois é substituído, ainda antes do intervalo. Se com 2 desfalques estava difícil, com 3 era barril dobrado.

Mais do mesmo, com sorte, com tudo

E o segundo tempo manteve a toada. Vitória sem qualidade na progressão, sentindo muito a falta de Gedoz na condução ofensiva. Só que o Vitória pode ser acusado de quase tudo neste campeonato, mas não de falta de sorte.

Aos 21 minutos da etapa complementar, quando Felipe Garcia já tinha enviado Wesley para o banco (PASSA A BOLA, WESLEY!), Lucas Cândido recebe na intermediária, ajeita e solta um petardo dali mesmo, do meio da rua. A trajetória engana o goleiro, com a ajuda providencial de um verde-e-branco que oferece as costas como redirecionador do balaço, indo se aninhar nos fundos da rede paranaense.

Incréus dirão que foi sorte, como se este tipo de situação não fosse exaustivamente treinado. Ora, mas quá!

Tem coisas no futebol que exigem trabalho e preparo. Ou vocês acreditam que aquele cachorro que evitou um gol na terceirinha argentina foi obra do acaso? Ora, ora! Nos porões do futebol, cada um joga com suas armas.

Então, categoricamente, insisto: Lucas Cândido mirou com precisão milimétrica, calculando a velocidade e a parábola ideais para que a sacana batesse no defensor que ainda se agacharia, cambaleando imprevisível até o gol indefensável.

Depois, foi aquele deus-nos-acuda a que a torcida rubro-negra se acostumou. Era o Coritiba subindo com perigo, sádicos pregando a diagonal do desalento.

Mas o resultado se manteve. Coritiba 1×1 Vitória.

Ficou de bom tamanho

Noves fora o terceiro empate consecutivo, no contexto que envolvia a partida, o empate foi excelente resultado.

Pelas premissas anteriores à peleja, envolvendo desfalques e novos distúrbios externos que atrapalham a concentração em campo, além de um adversário que é favorito pra subir, o empate já estaria de bom tamanho.

Dentro de campo, dado o bombardeio (Coritiba teve 65% de posse de bola, finalizou 24 vezes a gol, contra apenas 13 do Vitória), o empate foi simplesmente espetacular.

Manteve-se, pois, a fase invicta de Amadeu, 2 vitórias e 3 empates. Mas era o terceiro empate consecutivo. Se não perdia, o Vitória tampouco vencia.

Saldo do primeiro turno

Terminar fora do Z4, apesar da baixa pontuação (20 pontos), foi um feito para o Vitória. Principalmente pelo fato de rodar o terceiro técnico nesta Série B.

A expectativa com Tencati e com Loss era de rebaixamento certo. Agora, com Amadeu, se o acesso parece um sonho distante, quase um milagre, vê-se melhoria a ponto de imaginar dias mais tranquilos no Barradão.

Se não apresenta futebol vistoso, e tendo deixar escapar pontos cruciais contra América-MG e Operário-PR nos zero a zeros em casa, estancou-se a sangria defensiva. Contra o Coritiba, muito pela noite ruim do ataque paranaense. Ainda assim, é de se exaltar o fato de que a pior defesa do campeonato termine o turno tendo sofrido apenas 1 gol em 5 partidas.

Ufa. A primeira sensação é de alívio. Agora é se afastar cada vez mais do Z4 e trabalhar para, degrau a degrau, galgar posições mais confortáveis. A sequência colabora: 4 jogos contra equipes com posições ruins na tabela: Botafogo-SP em casa, Vila Nova-GO fora, Guarani em casa e São Bento fora. No primeiro turno foram apenas 3 pontos conquistados. Agora, dá pra buscar pelo menos 10. E aí, com o tempo passando e o saldo de pontos for melhorando, quem sabe não se pode mais?

Que assim seja!

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do jornal.