Diário da Série B: Fantasma do passado

Leão decepciona e empata no Barradão contra um concorrente na disputa pra fugir do Z4: Vitória 0x0 América-MG

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  • Gabriel Galo

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 11:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Pietro Carpi / EC Vitória

Salvador, 21 de agosto de 2019

Rodada 17 de 38

Suspensão

Um dos momentos mais comemorados do jogo em Maceió foi o terceiro cartão amarelo tomado por Wesley, suspenso, portanto, do duelo contra o América/MG em Salvador. Com exibições bastante contestáveis, o tropeçante ponta daria lugar a alguém. E por esta troca, acendeu-se a esperança na torcida de que a tendência ascendente da equipe ganharia um novo e importante capítulo.

As duas vitórias seguidas evidenciavam aspectos a serem trabalhados. De impacto menor na defesa, bem postada e sem sofrer tantos riscos, as oportunidades de melhoria vinham na linha ofensiva, no controle do jogo, na transição em velocidade.

Se por um lado, o 4-4-2 parece ter surtido efeito, com zaga invicta, a posição na tabela ainda exige vencer. E para vencer, há de se marcar gols, por óbvio.

Ruy no lugar de Jordy? Oi?

Só que quando a escalação saiu, ninguém entendeu. Talvez nem mesmo Carlos Amadeu. Porque ninguém esperava o que foi divulgado no pré-jogo.

Na vaga de Wesley, Thiaguinho foi escalado. Muita gente pedia uma oportunidade para o jovem e arisco jogador começar jogando. Agora seria sua hora e sua vez!

Parasse aí, tudo certo, bora pro jogo. Mas Carlos Amadeu resolveu inovar.

Assim, mandou ao banco Jordy Caicedo e promoveu o inexplicável Ruy ao 11 titular. Durma com um barulho desse. Agosto pr’além da metade e gente ainda insistindo com Ruy. E bancando o equatoriano que acelerava contra-ataques perigosos.

Se a transição com a bola dominada deveria ser corrigida, não tinha por que abrir mão da transição em velocidade.

Mas é claro!

No pré-jogo da quarta em horário lamentável, nas 19:15h, tão cedo que nem sol tinha raiado ainda, Amadeu mandou a letra para a TV justificando que a saída de Jordy era pra poupar o atleta – que saiu com câimbras no jogo anterior – e também para controlar melhor a posse de bola. Por isso, Ruy.

Ninguém entendeu. Talvez nem ele. E absolutamente ninguém comprou a versão do professor rubro-negro.

Com a bola em ação, foi uma surra de obviedade no gramado do Santuário.

De consistência impressionante, Ruy, adiantado para se unir a Anselmo Ramon, jogava mal mais uma vez. Mal é até maneira de suavizar a análise. Ruy maltratava a bola.

Deslocado de sua posição onde funcionou nos 2 embates anteriores, Gedoz foi mandado para fechar o lado direito da defesa e sumiu. Maltratou a bola, coitada.

Redonda que seria submetida a uma torturante jornada. Anselmo Ramon calçava coturnos. Distribuía petardos no pivô, estragando qualquer avanço rubro-negro que ousava chegar a seus pés.

E Thiaguinho…

É complicado dizer que Thiaguinho sentiu. O que se sabe é que o garoto errou absolutamente tudo que tentou. Tropeçava nas próprias pernas, perdia todos os lances. Tempo de bola não tinha, parecendo que seguia aos trancos e barrancos.

E se individualmente quase todos deixavam a desejar, coletivamente não poderia ser diferente.

Como esperado, além de não ter o controle da partida, o contra-ataque inexistia sem Jordy. E com o esquema tático alterado em tão pouco tempo para acomodar o rechonchudo Ruy, cabeças se batiam umas contra as outras, num espetáculo um tanto ridículo, que remetia à nefasta era pré-Amadeu.

Perainda…

Na largada do segundo tempo, Amadeu tentou corrigir seu erro. Jordy foi a campo em substituição ao inacreditável Ruy. Mas… parecia que era tarde demais.

A vibração dos 2 jogos anteriores se perdeu. A sonolência virou regra. Pararam de tentar evoluir.

Quem quer que pegasse a bola no meio-campo, sapeecava de primeira num chutão pra frente buscando sinal de Jordy. Era um “se vira” que enviava bolas quadradas para o equatoriano se desmanchar em desespero.

Enquanto isso, era tudo na base do devagar, quase parando.

― Bora atacar?

― Perainda…

Até que aos 22 minutos, Zé Ricardo, volante do América-MG, foi expulso ao tomar o segundo amarelo. A torcida se inflamou! Agora vai! Umbora, Vitória!

#sqn

O festival de baba de maluco permanecia. Eron, com mais uma chance, abusava de erros. Thiaguinho errava e fingia ais, aquela patacoada básica de “errei porque senti dor”. Você sabe do que eu estou falando…

Depois de esgotar a paciência de todos, Thiaguinho saiu para dar lugar a Marcelo. E aí, meu amigo, e aí, minha amiga, eu encerro aqui porque quando se apela para Marcelo para vencer uma partida, melhor interromper a crônica para não criar dor de cabeça.

Balde de água fria

O jogo contra o América-MG tinha a relevância fundamental de ser briga de faca no escuro. Com ambos frequentando a mesma região da classificação, 3 pontos viram 6. Era pra ganhar. Terceiro triunfo consecutivo, cimentando de vez a recuperação e fortalecendo o sonho de uma arrancada rumo à subida.

Mas não.

Empatar em casa, mesmo que se contabilize 3 jogos sem sofrer gols, é um mau resultado dado o contexto. Tinha a expectativa, a estabilidade, a empolgação, um oponente teoricamente mais fraco.

No fim, placar inalterado: Vitória 0x0 América-MG.

A ordem do dia é recuperar o fôlego.

Fantasma de incompetentes passados

Ah, a pulga atrás da orelha…

Os erros de Amadeu na escalação fizeram todos se entreolharem um tanto assustados. Aquele ar de “será que vai dar ruim?”

Porque este filme já foi visto. As escalações esdrúxulas, as decisões injustificáveis, um time que regride…

Parecia que o comandante rubro-negro incorporou o fantasma de incompetentes passados. O déja vú não agradou. Gato escaldado tem medo balde de água fria.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do jornal.