Diário da Série B: Solidão

Vitória empata pela terceira vez consecutiva por zero a zero no Barradão e segue desperdiçando oportunidades de crescer. Vitória 0×0 Botafogo-SP

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  • Gabriel Galo

Publicado em 31 de agosto de 2019 às 10:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Salvador, 30 de agosto de 2019

Rodada 20 de 38

Mais desfalques

Se na rodada anterior o Vitória foi a Coritiba desfalcado de Baraka e Felipe Gedoz, em Salvador, o duelo contra o Botafogo-SP na estreia do returno não seria diferente.

A lesão do goleiro Martin ainda provocava dores. Apesar dos treinos no dia anterior e no dia do jogo, ele foi cortado. O mesmo caso de Van, que sentiu lesão na véspera e foi cortado. Além deles, o zagueiro Everton Sena também ficaria de fora por causa do terceiro cartão amarelo.

Dada a espinha dorsal do 11 ideal, seriam mais 2 dos 7 titulares absolutos de fora.

Mais uma vez, Amadeu foi prudente nas trocas. Ronaldo no gol, Matheus Rocha na zaga e Bruno Bispo na zaga. Baraka e Gedoz, como era de se esperar, foram reconduzidos ao time principal.

Último jogo no Barradão?

As negociações para que o Vitória transfira seus mandos de campo para a Arena Fonte Nova tiveram novos e desgastantes capítulos. A situação segue estranha, sem muita compreensão das efetivas possibilidades de que um acordo seja alcançado.

Por um lado, o presidente rubro-negro solta notas sobre atrasos em reuniões, pressiona o Governo do Estado e ataca o Consórcio. Em nenhum momento, contudo, qualquer das partes apresenta provas de em que pé está efetivamente este imbróglio.

Fica, assim, um empurra-empurra de responsabilidades e culpas. Pra lá e pra cá, vai-e-volta. Enquanto isso, perde o torcedor, sem saber se o jogo contra o Botafogo-SP será o derradeiro no Barradão ou não.

A insegurança tira parte do tesão da torcida, gera insegurança, o que somados aos 3 empates consecutivos, mina a empolgação.

Antes de se clamar presença maciça da torcida, o clube precisa aprender a apaziguar os ânimos.

Nota zero

Tenham certeza. Eu tentei. Com todas as forças, eu tentei.

Tentei achar qualquer fiapo de boa notícia no primeiro tempo deste Vitória 0×0 Botafogo-SP. Mas, entregue, confesso ser incapaz diante da impossibilidade.

Nenhuma combinação de ataque que prestasse, enquanto o Botafogo de Ribeirão Preto se mostrava perigoso nas chegadas.

Aos 35 minutos, um lance emblemático. O Vitória dispara para o ataque com Wesley. Logo ele recebe a companhia de Gedoz, embora, como sempre, tenha demorado para passar a bola. Anselmo Ramon chega no pique pela esquerda.

Atrás, num ritmo lento, devagar, quase parando, como quem chega nas mansas e fofas areias da praia do Porto da Barra para lagartixar ao sol, Jordy, em preguiça incompreensível, trota sem qualquer interesse no desfecho do lance.

Zero foi a única nota possível nota do primeiro tempo.

Nota zero ao quadrado

O segundo tempo veio com a esperança de que algo mudasse. #sqn.

Jordy fez Amadeu perder a paciência. No intervalo mesmo deu lugar a Rodrigo Andrade, alterando a constituição tática da equipe. A troca não seria inédita e é pedida por parte da torcida, que vê que o time talvez encaixe melhor ao liberar o trio de ataque para agredir com mais liberdade.

Qual o quê!

Não era dia.

Tenham certeza. Eu tentei. Com todas as forças, eu tentei.

Tentei achar qualquer fiapo de boa notícia no segundo tempo deste Vitória 0×0 Botafogo-SP. Mas, entregue, confesso ser incapaz diante da impossibilidade.

Ainda assisti a uma bola na trave que quase transforma o consolo inaceitável do ponto solitário em derrota vexatória.

O caso Eron

Existem algumas certezas na vida. A morte é uma delas. Os mais economistas dizem que impostos também são. A novidade neste 2019 é que Eron vai para o jogo com mais de 40 minutos do segundo tempo para atuar fora de sua posição, ocupando as pontas, o que não sabe fazer.

A questão principal deste dilema quase insolucionável não é nem a insistência de Amadeu com Eron quando ele claramente não rende. É a insistência com Eron deslocado sem qualquer tempo hábil para ser produtivo.

O que Amadeu faz, neste caso, é uma injustiça com o garoto da base, que parece sentir sempre que entra no profissional. O que se pede é um “vai lá, garoto, agora é contigo, resolve aí. Você tem 5 minutos pra ganhar o jogo pra gente.”

O que se pede pra alguém rondando os 20 anos, com pouquíssima rodagem e com o relógio pressionando pronto para expirar é inacreditável. Ao insistir em mandar Eron a campo nestas condições, Amadeu não dá confiança à cria da base rubro-negra. Tanto pelo contrário. Incita a torcida contra o jovem atleta e queima o que poderia um ativo valioso do clube.

Está tudo errado nessa relação. Ou se oferece a Eron a condição ideal para que ele desempenhe bom papel, ou é melhor preservá-lo.

Parou de vez

Durante o jogo uma cena foi irritantemente comum. Um jogador do Vitória procurava avançar rumo ao campo de ataque. Mas o fazia absolutamente sozinho. Sem ter com quem tabelar ou desafogar a ação, via-se cercado por até 4 defensores, que tomavam a bola sem dificuldade.

Era a única via ofensiva de uma equipe sem ímpeto e sem organização. E a matemática é quase infalível: no um-contra-quatro, coloque todo seu dinheiro que nada vai acontecer. E nada acontecia.

Tenham certeza. Eu tentei. Com todas as forças, eu tentei.

Tentei achar qualquer fiapo de boa notícia que envolvesse este Vitória 0×0 Botafogo-SP. Mas, entregue, confesso ser incapaz diante da impossibilidade.

Ou melhor, vou na conta do professor, mais uma vez vaiado em casa, torrando 2 pontos necessários à equipe. Se é melhor ganhar 1 ponto que nenhum, preocupa o fato de ser o quarto empate consecutivo, sendo inacreditáveis 3 placares em zero a zero no Barradão. Entendo que se enxergue-se alívio nisso – Amadeu continua invicto, equipe sofreu apenas 1 gol em 6 partidas – mas do ponto de vista de oportunidades desperdiçadas, estes chochos oxos foram um golpe duro na esperança rubro-negra.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do jornal.