Diário da Série B: Tá puxado…

Na volta como mandante à Fonte Nova após dois anos, Vitória cai diante do lanterna Guarani

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  • Gabriel Galo

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 16:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

Salvador, 14 de setembro de 2019

Rodada 22 de 38

Fonte Nossa

Foi anunciado pelo Twitter oficial do Vitória – o de Paulo Carneiro, por supuesto – o acordo com o consórcio pelo qual a Fonte Nova será a casa rubro-negra nos próximos três anos. Os efeitos práticos deste anúncio foram diversos.

Se por um lado havia de se comemorar por estar num estádio central e de fácil acesso, duas dúvidas rondavam a torcida rubro-negra: o que será feito do Barradão? E quais os acessos à Arena garantidos de acordo com o atual Sou + Vitória.

Se a primeira dúvida fala da preservação do patrimônio do clube, com altíssimo valor sentimental, a segunda diz respeito a um eventual empurra-empurra para os planos mais caros. Em especial, havia muito receio dos associados Prata, a maioria, de ficarem no terceiro anel do estádio, longe do gramado e com desconfortável espaço para pernas.

Os novos planos SMV

Pois não demorou para que fossem divulgados os novos planos de sócio rubro-negro. E o temor da galera do plano Prata se fez realidade.

No acordo costurado com a Arena, os Prata seriam jogados para o distante terceiro anel, onde tudo se vê miúdo. E a insatisfação foi grande. E o argumento utilizado foi justamente o da chantagem: quer visão melhor, compre os planos novos, claro, mais caros.

Assim surgiram os planos Topázio, Rubi e Diamante.

(Uma pausa para recuperar o ânimo com esta breguice inacreditável que se chamam os novos planos do Vitória. São idênticos aos de certa pirâmide que teve auge há dois anos, e como todo esquema de pirâmide, morreu. Leva a uma tosca imagem de riqueza – lembremos, ouro, prata e bronze, remetem a competições esportivas. Não dá pra dizer que não combina com a nova gestão.)

As novas categorias se equivalem à do Bahia em valores e em acessos. Parte do acordo de isonomia no contrato com o consórcio.

Migrar para a Fonte deu certo de cara para dar volume ao programa de sócio-torcedor, com mais de mil associados no dia seguinte ao anúncio. Restaria, pois, as perguntas de sempre: o que será do Barradão? E conseguirá a Arena Fonte Nova ser considerada como casa rubro-negra?

É o lanterna

A estreia não poderia ter adversário melhor. O Guarani estava preso na última posição da Série B. Depois de duas vitórias seguidas, uma delas fora de casa contra o Figueirense, tinha perdido na rodada anterior em casa do Oeste.

Os seis pontos obtidos fizeram o Bugre campineiro se aproximar das outras equipes na classificação, dando um gás na equipe que passava a contemplar recuperação no campeonato.

Mini pausa

O intervalo tanto pedido por Amadeu foi providencial. Foram 11 dias de treinos entre a vitória contra o Vila Nova-GO e o jogo contra o Guarani. Prazo para testar novas formações, sedimentar treinamentos táticos, ajustar pontos que vinham incomodando.

Acontece que as experiências com longos prazos de treinos foram um tanto traumáticas pelos lados do Barradão.

Primeiramente, Claudio Tencati teve 17 dias para preparar o time que estrearia na Série B depois das eliminações em todas as competições do primeiro semestre.

Depois, Osmar Loss teve quase um mês para implantar seu plano de jogo durante a pausa para a Copa América. O resultado todos conhecemos…

A pausa para Amadeu seria menor, mas ainda assim, necessária. Ele, que tanto pediu, agora passaria a não ter mais desculpas. A melhora haveria de vir!

Time completo

E o time perfilado no onze titular é aquele que hoje é considerado o melhor do Vitória. Sem desfalques, ia completo pra cima do Guarani. Capa no banco, Rodrigo Andrade formando trio de volantes no meio, Wesley e Gedoz abertos com Anselmo Ramon centralizado. Van de um lado, Chiquinho do outro, Everton Sena e Ramon fechando a zaga, protegendo o gol de Martín Rodríguez.

Era problema nenhum. Bastava fazer a sua parte.

Logo de cara

Só que logo de cara o que se viu foi o Vitória de sempre. Ou ainda pior.

Sem qualquer traquejo na evolução ofensiva, o rubro-negro entregava a bola para o Guarani, que chegava com perigo. Inofensivo, o Vitória não finalizava, não construía.

Foi nas costas de Van, que sofre com o posicionamento defensivo em jogadas de ultrapassagem, que a surpresa se fez presente. Cruzamento rasteiro de Thallyson - aquele mesmo de passagem esquecível pelo Barradão – para antecipação e finalização na pequena área de Michel Douglas. Vitória 0x1 Guarani.

Um velho problema se abateu sobre a cabeça de todos. Acostumados a não tomar gols na gestão Amadeu, sair atrás causava estranheza.

Quando o intervalo, o enredo parecia inacreditável: o invicto Vitória de Amadeu caía para o lanterna da Série B no dia da inauguração da Fonte Nova como casa definitiva.

Amadeu, mais uma vez, foi homenageado na saída do gramado.

Só aos 12 minutos

Voltar com a mesma formação para o segundo tempo fez a paciência da torcida se esgotar. Durante 12 minutos, o mesmo Vitória do primeiro tempo se manteve. Apático, sem tática. Sonolento, perdido.

Somente aos 12 minutos Amadeu pensou na troca. Ela veio com Felipe Garcia no lugar de Rodrigo Andrade. A substituição alterou o posicionamento do time em campo. Wesley foi para a ponta esquerda, com Felipe Garcia na direita, Gedoz pelo meio e Anselmo Ramon na nove. Mas não houve melhora.

Indício de tempos melhores houve quando Jordy, pedido pelas arquibancadas, foi chamado a campo. Anselmo Ramon foi o homenageado da vez, intensamente vaiado na saída do gramado.

E a primeira bola deu a tônica do que é a ausência de alternativas do Vitória. Volante dominou na saída de bola e de primeira lançou Jordy no ataque, que brigou com o zagueiro, colocou na frente abusando de sua velocidade e foi parado quase na linha de fundo pelo goleiro.

Em segundos, o equatoriano produziu mais que o time nos 66 minutos anteriores. Mas sem arrumação ou organização. O Vitória joga na base do “se vira aí”. A única jogada que parece ser treinada é a que Carlos Amadeu comentou no TVEsporte com Elton Serra. Os volantes, da intermediária, lançam o ponta na diagonal. Assim, numa bola de Baraka, Wesley quase empatou o jogo. Muito pouco.

Ah, Gedoz…

Quando até mesmo Eron já tinha sido acionado no seu tradicional trabalho impossível, entrando depois dos 40 minutos do segundo tempo, aquela hora em que ninguém mais acredita, Gedoz mostrou que anda em péssima fase.

Também homenageado durante o jogo pela torcida – há limites para tantos passes errados e cobranças de bolas paradas sem perigo -, Gedoz perdeu a cabeça. Num lance lamentável, entrou na maldade num atacante campineiro e foi merecidamente expulso direto pelo árbitro.

Deixou a equipe na mão mais uma vez. Dá pra confiar em Gedoz?

Complicou

Assimilar a derrota neste Vitória 0x1 Guarani vai ser um trabalho amargo. Por tudo que envolvia a partida, vencer era fundamental. Seguir evoluindo, melhorando. Aproveitar o ar da Fonte Nova para escrever uma nova história do clube.

Só que tudo foi abaixo com uma exibição que fez renascer o pior Vitória do ano inteiro. Retornou o desinteresse, a bagunça, a desconfiança. Voltou o abalo psicológico, compreensível pelo clima de já ganhou que antecedeu a partida.

Perder do Guarani era inacreditável demais até mesmo para os mais céticos. Mas o que é a sina do Vitória em 2019 senão testar nossas crenças e convicções recorrentemente?

Tá puxado…

A derrota vira desespero quando se projetam as próximas rodadas. Na seguinte, o Vitória enfrenta o São Bento, de quem também perdeu no Barradão, em Sorocaba. Depois, enfrenta os 3 primeiros colocados no campeonato na sequência.

É esta trinca que complica ainda mais o cenário rubro-negro neste estágio do campeonato. O breve descanso se tornou assombração com o Z4 de novo à espreita. Assim, qualquer resultado que não somem 3 pontos contra o São Bento é péssimo.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do CORREIO.