Dias de cão: cadelas são sequestradas, vira-lata é atropelada sem socorro e homem obriga pitbull a comer fezes

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Publicado em 8 de dezembro de 2018 às 07:58

- Atualizado há 10 meses

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Princesa e Kiara: tutor suspeita que vizinha entrou em sua casa e sequestrou cadelas (Foto: Reprodução Instagram) O caso Carrefour chocou o pais! E tem que chocar mesmo! Mas, episódios semelhantes acontecem perto da gente a toda hora. Infelizmente, nem sempre ocorrem flagrantes com fotos e imagens em vídeo. Aqui em Salvador, na mesma semana em que o segurança do supermercado de Osasco matava cruelmente um cachorro, três exemplos absurdos revoltaram não só os amantes de bichos, mas também quem tem o mínimo de respeito pela vida. O Cãogaceiro e a coluna @lugarbompracachorro ficaram em cima dessas três denúncias e agora trazem detalhes sobre elas. 

O caso mais recente aconteceu entre terça-feira (4) e quarta-feira (5), no bairro de Mussurunga. Ao passar a noite fora e chegar em casa pela manhã, o mecânico de automóveis Osvaldo Falcão, 28 anos, encontrou tudo no lugar, exceto suas duas cadelas: Princesa (pitbull de 4 meses) e Kiara (vira-lata adotada de 1 ano) haviam sido sequestradas. Ele relata que, nos dias anteriores ao sequestro, teve discussões com a vizinha, que ameaçou "dar fim" nas cadelas. Princesa e Kiara estavam com Osvaldo desde setembro. Nas últimas semanas, a vizinha reclamou do fato de elas estarem frequentando a área comum da garagem da casa, que fica na Estrada das Mangueiras e é dividida entre o térreo, onde Osvaldo mora sozinho, e a vizinha, que também mora sozinha, só que no subsolo.

Osvaldo diz que, nos últimos dias, vinha deixando as cachorras na área interna da residência para evitar confusão. "Tive que deixar elas dentro da minha casa pois a vizinha tinha reinvindicado que elas só ficassem na minha vaga da garagem, sendo que as vagas não são fechadas. Alguns dias antes, depois de mais uma discussão, ela ameaçou dar fim nas cadelas caso eu não resolvesse. No dia 4 eu sai de lá às 23h30", conta o mecânico. "No dia 5, cheguei lá as 11h e encontrei a porta da minha casa trancada, sem sinais de arrombamento. Já estranhei quando não ouvi os latidos. Quando abri a porta, estava tudo no lugar, menos as cadelas", lamentou Osvaldo. Na hora, só pensou em três pessoas que poderiam ter a chave da residência dele. "Eu, o dono da casa que é alugada por mim e a própria vizinha, que já havia morado no mesmo lugar antes", desconfiou. "Segundo o dono, ela devolveu as chaves. Mas, o segredo da porta nunca foi trocado. Ela poderia ter uma cópia esquecida ou na mão de alguém", aposta o mecânico, que registrou ocorrência na 12 Delegacia (Itapuã) no mesmo dia e agora só consegue pensar na vizinha como suspeita "Uma era uma pit bull filhote, que poderia até ter valor de revenda, mas quem roubaria uma vira-lata de um ano. Nada mais na casa foi subtraído", observa. O caso foi resgistrado como "furto de animais" na ocorrência de número 14.239. Registro feito na 12 Delegacia (Foto: reprodução) O Cãogaceiro conseguiu localizar a vizinha, de prenome Viviane, e tentou ouvi-la por telefone. Mas, ela não quis falar com a coluna. "Quem te deu meu número? Não tenho nada para declarar. Eu disse a ele se quisesse denunciar prestasse queixa na delegacia. Eu tenho mais o que fazer, meu amor", declarou a vizinha. No início da noite de ontem, tentamos entrar em contato com a Delegacia de Itapuã, mas não tivemos sucesso. Segundo Osvaldo, o policial que o atendeu prometeu intimar a vizinha a depor neste domingo, caso as cadelas não aparecessem. Com medo, Osvaldo saiu de casa e, além de prestar queixa, esteve no gabinete da vereadora Ana Rita Tavares para denunciar o fato. "Tirei minhas coisas de lá. Quem entrou em minha casa pode agora fazer algum mal contra mim. Estou com saudades e preocupado com as minhas cachorras", disse. 

Espancamento John Luna foi flagrado espancando seu pitbull (Foto: Reprodução Instagram)  Além dos maus-tratos, o desenrolar das outras duas histórias mostram também o descaso e despreparo da polícia com a questão dos animais. No quintal de uma casa do Rio Vermelho, cenas grotescas de um rapaz obringando seu cachorro a comer as próprias fezes causaram repulsa nas redes sociais. Mesmo assim, houve quem constestasse que se tratava de maus tratos porque o rapaz "somente tentava educar o cachorro a fazer cocô no local certo". Imagine! Acontece que, logo depois, um novo vídeo mostra John Luna dando socos, chutes e usando um pedaço de tubo de PVC para agredir o pitbull, um filhote de menos de um ano. Os urros do cachorro chorando a cada pancada chamaram a atenção de vizinhos e um deles filmou tudo. Os vídeos foram postados no perfil do Instagram da protetora Patruska Barreiro e compartilhadas em diversas redes. Se você tiver estômago, assista ao primeiro abaixo. O outro, veja no perfil do Cãogaceiro no endereço @lugarbompracachorro no Instagram. 

Descobrimos algumas informações sobre a vida de John Luna. Seu nome completo é John Anderson Luna Gallego. Ele é natural da Colômbia e morava de aluguel na Rua Ipirá, 918, Rio Vermelho. Sim, "morava" porque John Luna desapareceu depois que o caso ganhou repercussão na Internet. Na verdade, a própria polícia esteve na casa de Luna para averiguar a denúncia de que ele havia espancado o cachorro e o obrigado a comer as próprias fezes. Lideranças do movimento animal estão indignadas com o fato de os policiais não terem apreendido o pitbull quando teve chance, apesar dos dois vídeos que mostram do que o colombiano é capaz. "Não entendi como a polícia foi ao local e não conduziu o agressor para a delegacia e tampouco retirou o cachorro da guarda dele. Os vídeos são provas cabais. Como a polícia deixa o cachorro nessa condição vulnerável?", pergunta Ana Rita Tavares, que  formalizou uma notícia crime contra Luna no Juizado Especial Criminal. 

Os policiais da 7 Delegacia (Rio Vermelho) teriam ido à sua residência e averiguado que o animal estava "bem". Na oportunidade, o colombiano apresentou cartão de vacinação em dia e ração. Pronto. Foi o suficiente para a polícia ir embora. Ao site Bocão News, que entrou na casa junto com os policiais, Luna disse que estava arrependido e fez tudo "sem pensar". O cachorro havia feito cocô dentro de casa, comeu uma camisa e uma sandália. "Achei que ele comendo cocô não faria mais dentro de casa", justificou. Estivemos ontem com a delegada responsável pelo caso. Lúcia Maria Dias, titular da 7 Delegacia, não soube explicar porque o cachorro não foi apreendido e porque Luna não foi chamado a depor. Disse apenas que protetores do movimento animal haviam feito estardalhaço na mídia e nas redes sociais, mas sequer fizeram o Boletim de Ocorrência. "Disseram que viriam registrar e não vieram", disse a delegada, que agora pretende tirar o pitbull da guarda do dono.  Comprovante do registro do Boletim de Ocorrência do caso John Luna (Foto: Reprodução) Segundo os protetores, o boletim foi, sim, registrado. Localizamos a mulher que registrou o BO. Ela não quer se identificar e apresentou o canhoto entregue a ela por um investigador como comprovante do registro (veja acima). "Eles ficaram de me mandar a certidão completa por email e até hoje nada! Mas fizemos o BO, sim!". A mulher mora no mesmo bairro do agressor e ficou com medo depois que ouviu outros moradores sobre o histórico dele. "Um cara que faz isso com um cachorro já deixa a gente com o pé atrás. Mas, ao conversar com moradores do bairro, descobrimos que ele é conhecido por ser uma pessoa agressiva. Já agrediu algumas pessoas, inclusive".Um passarinho contou para o Cãogaceiro que John Luna responde a processo em Santa Catarina. Traremos detalhes em breve! Protetores preparam uma Cãominhada de protesto para que o caso não caia no esquecimento.  

'Luto por Pretinha' Dona de Restaurante na Vila Caramuru é suspeita de atropelar Pretinha (Foto: Reprodução Instagram) Falando em protesto, ativistas da causa animal se manifestaram há uma semana no mesmo Rio Vermelho. Isso porque, bem ao lado da própria delegacia, ocorreu outro caso brutal. Dessa vez, o atropelo da vira-lata Pretinha, uma das integrantes da matilha de cachorros comunitários da Vila Caramuru, antigo Mercado do Peixe. Os moradores e as protetoras acusam a dona do Restaurante Auge da Bahiana de atropelar e matar uma cadela sem prestar socorro. O fato teria ocorrido no dia 11 de novembro e,  no último  dia 30, aconteceu o protesto pacífico com faixas e cartazes."O caso de Pretinha não pode ser esquecido. Queremos que a polícia intime a agressora", afirmou Angela Junqueira, uma das organizadoras da manifestação."Luto por Pretinha", dizia um dos cartazes. Ativistas da causa animal cobraram autoridades pela morte de Pretinha (Foto: Acervo Pessoal) Duas testemunhas e uma protetora registraram o Boletim de Ocorrência. No boletim, elas narram que a mulher entrou no estacionamento da Vila Caramuru com velocidade acima do permitido, atropelou Pretinha e lhe negou socorro. "Ressalta a comunicante que a condutora do veículo entrou na localidade com muita velocidade. Após o atropelo tirou algumas mercadorias do carro e entregou no estabelecimento sem dar a mínima atenção". As testemunhas informaram que a dona do restaurante, que estava dirigindo um Uno, "entrou no estabelecimento muito rápido e, ao ver Preta, não parou, passou por cima da cachorra e continuou dirigindo sem sequer pretar socorro". Leiam o relato compartilhada no Facebook. Relato de testemunha foi compartilhado nas redes sociais (Foto: Reprodução Facebook) Segundo o post, duas testemunhas contaram que viram a dona do restaurante entrando no estacionamento e atropelando a cadela. Elas teriam questiona à mulher o motivo de ela não ter prestado socorro e a dona do bar teria afirmado que "estava com pressa". "Descarregou as compras no seu bar, depois entrou no carro e foi embora. As moças então foram atrás de Preta e quando a encontraram já estava morta em frente a uma casa, ao lado da delegacia do Rio Vermelho". Neste caso, a delegada Lúcia Maria confirma a existência do Boletim de Ocorrências, mas solicitou à reportagem que passasse segunda-feira na delegacia para ter detalhes sobre o caso. Conseguimos o BO com as protetoras.  Protetores nos enviaram o BO registrado no caso Pretinha (Foto: Reprodução) Ouvimos a proprietária do estabelecimento. Bárbara Juliana Almeida, 28 anos, conhecida na Vila Caramuru como Juliana, disse que não socorreu Pretinha porque a mãe estava passando mal em casa. "Jamais na minha vida eu iria matar um cachorro porque eu quis. Eu errei? Errei! Porque não dei socorro. Mas, entre o cachorro e minha mãe, a prioridade é de minha mãe. Ela não estava bem". Juliana afirma que contribuiu com uma Ong para a cremação da cachorra, que teria custado R$ 250. "Minha irmã deu R$ 50". Juliana reclama que, desde que o fato ocorreu, tem sido massacrada, ameaçada e pré julgada nas redes sociais. "As pessoas estão me xingando, dizendo que sou 'uma desgraçada', que eu 'deveria bater o carro e morrer presa nas ferragens sem socorro'. Quer dizer, como pode ter tanto amor a um bicho e não ter ao ser humano? Pelo amor de Deus! Eu tenho cachorro dentro de casa". 

Denuncie!

É denunciando, protestando e demonstrando indignação que situações como a do Carrefour vai mudar. "Praticar abuso de maus-tratos, ferir e mutilar animais" é crime previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais Número 9.605 de 1998. A pena prevê detenção de três meses a um ano. Mas, o agressor nunca fica preso porque, no Brasil, o crime de maus-tratos contra animais é considerado de "menor potencial ofensivo". O Cãogaceiro defende mudanças em uma lei que está completando 20 anos. Isso só vai mudar se a gente continuar cobrando as autoridades. Já enxergamos mudanças e o simples registro dos boletins de ocorrência já demonstram que estamos, ainda bem, em transformação. O próprio agressor do caso Carrefour saiu da delegacia de Osasco escoltado e sob protestos da população. Quando tivemos isso antes por causa de um cachorro? 

Por isso, nos casos de Salvador, os protetores também exisgem Justiça. Eles defendem que, no mínimo, a polícia deve intimar os agressores e impedir que eles voltem a praticar esses atos. E você, cidadão, denuncie ao Ministério Público, secretarias de meio ambiente e delegacias de polícia. Aliás, a Bahia ainda não tem delegacia especializada de proteção animal, como existe em outros estados. São raros os agentes policiais sensibilizados com a causa. "As violências contra os animais acontecem o tempo inteiro, dia após dia. Estamos cansados disso", indigna-se o delegado de polícia, vejam só, da Delegacia de Proteção à Pessoa (DHPP), Jamal Youssef. Ele defende que só existe humanidade, de fato, com a inclusão dos animais na causa da não violência.

"É uma sociedade humana que precisa ter mais humanidade. Não tem como alguém ser humano sem defender a causa animal. Somos contra o sofrimento desses bichos. Confiamos que as autoridades, em muito breve, vão mudar esse pensamento", afirma doutor Jamal, que também é protetor. Pois é, doutor Jamal. Um dia, quem sabe, veremos atuando nas ruas de nossa cidade agentes policiais como os que aparecem nas séries de tv americana e que são exclusivos para resgate de animais que estão sofrendo maus-tratos ou em risco. Enquanto isso, seguiremos cobrando.