Diego Cerri sobre o Bahia: 'Vejo como um gigante se estruturando'

Diretor de futebol do Bahia completa dois anos no Fazendão e concede entrevista exclusiva ao CORREIO

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  • Bruno Queiroz

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Oliveira / EC Bahia

Ainda está “enraizada” no futebol brasileiro a cultura da troca de treinador como medida emergencial para quaisquer mudanças que um clube precise passar. Geralmente, é a cabeça do técnico que costuma rolar quando as coisas não vão bem. Outros que sofrem com frequentes demissões são os diretores/gerentes de futebol, mesmo que a função tenha uma rotatividade menor.

No último dia 7 de agosto, Diego Cerri completou dois anos no Bahia. Período que sequer representa o de um mandato de presidente no tricolor, que é de três anos, mas que é incomum se comparado ao histórico recente do próprio clube.

Desde Paulo Angioni, diretor contratado por Marcelo Guimarães Filho em 21 de abril de 2010 e que permaneceu até 12 de maio de 2013, nenhum outro profissional permaneceu por tanto tempo no Departamento de Futebol do Bahia. O que mais assusta é que nesse intervalo, 10 nomes passaram pelo Fazendão entre diretores e gerentes.

“O trabalho do diretor de futebol ele é complicado pois muitas vezes você não tem tempo para colocar as ideias que você acredita e tentar ajudar um pouco na construção do projeto do clube. Fica muito restrito, muitas vezes, a você apagar incêndios, contratar jogadores emergencialmente para sair de uma situação difícil e você não consegue com calma desenvolver um projeto que é o mais importante para o clube. Aqui no Bahia eu tô tendo esse tempo”, disse Diego Cerri em entrevista exclusiva ao CORREIO.

Só para refrescar a memória do torcedor tricolor, entre Angioni e Cerri passaram pelo Bahia: Anderson Barros, Willian Machado (apenas por três meses), Cícero Souza (já era Supervisor e se tornou Gerente), Ocimar Bolicenho (um mês depois se tornou diretor com Cícero de gerente e só permaneceu por três meses), Rodrigo Pastana e Marcus Vinicius Lima (Diretor e gerente respectivamente), Pablo Ramos (gestor de negócios virou diretor de futebol em novembro de 2014), Alexandre Faria (diretor) e Eder Ferrari (gerente) e por último Nei Pandolfo, que ficou a temporada de 2016 inteira no clube. Hoje Diego Cerri tem Jayme Brandão como Gerente de futebol, o auxiliando no departamento.

Diferentemente da maioria dos seus colegas, Cerri conseguiu ao longo de sua carreira ter tempo em seus trabalhos. “No Ceará, trabalhei três anos; no Red Bull, trabalhei dois anos; na época no Barueri, que era Série B, depois subimos para Série A, onde disputamos duas vezes seguidas, foram três anos também. Nos Estados Unidos, trabalhei três anos. No Al Nassr, dos Emirados Árabes, eu fiquei uma temporada por opção minha mesmo e resolvi voltar. Mas a maioria foi sempre trabalho de mais médio ou longo prazo”, contou.

O trabalho no Bahia tem despertado interesse até mesmo de outros clubes do Brasil e também do exterior. Este ano, por exemplo, o Santos fez um convite ao gestor tricolor.

“Eu acho que é normal que existam propostas, nesse caso essa do Santos se tornou pública. Teve também umas outras sondagens naquele momento, agora também. Só que não vejo no momento razão para sair do Bahia e deixar um projeto no meio. A questão é que o presidente Guilherme Bellintani estava entrando e, naquele momento, exigia uma conversa maior para entender qual seria a ideia e o projeto do clube. A gente precisava conversar um pouco mais e tal. Acabou vazando. Eu não vejo o Bahia como um clube menor do que os outros, vejo como um gigante que está se estruturando cada vez mais e realmente para mim é muito bacana poder fazer parte desse processo de gestão e reconstrução da parte do futebol”.

A outra equipe que fez contato foi o Al-Wheda da Arábia Saudita, time comandado pelo brasileiro Fábio Carille. “É um clube que tá crescendo agora, recebendo um investimento maior financeiro. É uma proposta diferente, fora do país. Eu trabalhei no Al Nassr, dos Emirados Árabes, por um ano e trabalhei nos EUA três anos também, fiquei um pouco na Europa”, conta. “Foi um convite que o Fábio me fez, coisa nova para ele. Parece que tá se adaptando bem, mas, nesse momento, acho que é melhor continuar no Bahia e, como eu disse, vamos passo a passo, ver como as coisas vão estar, se existe possibilidade de continuar e achei que, naquele momento, não fosse a hora de sair, mesmo sendo uma proposta financeiramente boa. Não descarto sair do país novamente, mas, neste momento, não foi o que mais pesou para mim”, explicou.

Elogios Mesmo tendo “tanto tempo” no clube, Cerri admitiu estar feliz no Bahia, mas afirmou ser movido a desafios e não quis projetar o futuro. “O clube tem que ter desejo da permanência e eu também preciso me sentir desafiado e com condições de colocar em prática o que eu acredito. Importante que haja essa junção. Eu não posso trabalhar só para ficar empregado. Eu preciso sempre ter um objetivo, de melhorar algo no clube, de buscar resultado maior. Todo mundo tem ambição profissional e eu quero também brigar por coisas grandes”, diz.  Cerri ainda elogiou a campanha do time na Copa do Brasil. “Fiquei realmente orgulhoso com o nível de apresentação que a gente teve. O jogo do Vasco lá no Rio foi ruim mas aqui fizemos um jogo muito bom, o 3x0 aqui foi excelente. Contra o Palmeiras jogamos duas partidas de muito bom nível também. Bateu na trave. Podíamos ter classificado para a semifinal e conquistar uma coisa muito grande. A gente precisa ter condições sempre de brigar por coisas grandes”. A entrevista completa com  Cerri está disponível em áudio no Bate-Pronto Podcast.

*COLABOROU GABRIEL RODRIGUES