Diogo Nogueira faz ponte entre o ancestral e o novo em disco

MunduÊ é o primeiro álbum completamente autoral do sambista

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  • Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Rafae/Divulgação

Há dez anos, Diogo Nogueira vem levantando a bandeira do samba, paixão herdada de berço. Para celebrar a marca, ele lança MunduÊ, seu primeiro disco completamente autoral.

“Durante esses dez anos, compus e preparei os arranjos de mais de 100 canções. Achei que era o momento perfeito de lançar algumas delas, aindamais depois de fazer um DVD em homenagem à música popular brasileira. Cada trabalho teve seu momento e agora era o momento disso”, conta o artista, ao negar que houvesse certo receio de bancar um trabalho autoral antes.

Nas palavras de Martinho da Vila, o quinto disco de estúdio de Diogo Nogueira, “na essência, é o seu primeiro de puro samba, cem por cento autoral, com novas parcerias e completamente inédito”. Desde a primeira faixa e ao longo das outras 13 músicas, o álbum soa luminoso e vai de encontro ao clima caótico do país.

Fortes cores políticas dão o tom à faixa-título MunduÊ e de canções como Tempos Difíceis, Dança do Tempo e Coragem. “Acho que todos nós devemos fazer isso, levar essa missão encorajadora, de enfrentamento, no coração. É preciso mudar toda essa loucura que está acontecendo no mundo, no país, para gerar um futuro melhor”, deseja Diogo Nogueira.

A palavra MunduÊ, criada pelo artista e por Hamilton de Holanda, sintetiza o espírito do trabalho. “É uma mensagem muito espiritual, que nos ensina a caminhar, que ilumina a nossa vida e, ao mesmo tempo, que nos faz ultrapassar coisas que precisamos. MunduÊ é uma criança que comanda o universo. É uma criança que mostra a sua pureza, sua verdade e autenticidade”, explica.

Força Ancestral A conexão entre passado, presente e futuro é algo que caracteriza o trabalho de Diogo Nogueira, que sempre prezou a história trilhada pelo pai, o também sambista João Nogueira (1941-2000), mas fez questão de seguir seus próprios passos. Por conta disso, ele decidiu conectar MunduÊ ao espírito infantil - que para ele representa o amanhã - sem esquecer do ancestral.

Diogo visitou a comunidade quilombola de São José da Serra - formada por descendentes de escravos vindos de Angola, Congo e Guiné e considerada a mais antiga do Rio de Janeiro - e posou para fotos com as vestimentas tradicionais, ao lado de crianças e idosos.

“Queria voltar ao lugar onde o samba começou, onde aconteciam as batucadas, os jongos. Por isso a ideia de fazer em um quilombo, que é exatamente esse lugar”, recorda.

Na capa, Diogo caminha em uma estrada de barro de mãos dadas a duas crianças. “Eu queria muito posar ao lado de crianças e lá acabamos encontrando esses irmãos, gêmeos. É o mundo espiritual movimentando tudo”, comenta.

Irmandade  Mesmo sendo seu primeiro disco autoral, MunduÊ não foge à lógica dos outros trabalhos assinados pelo sambista no que diz respeito a convidados e colaborações.

Além de retomar a parceria com o bandolinista Hamilton de Holanda, com quem gravou o premiado Bossa Negra, ele estreia outras duas novas parcerias: com Arlindinho, filho de Arlindo Cruz, que divide com ele a faixa Império e Portela; e Lucy Alves, que toca sanfona e divide com ele os vocais do coco suingado Mercado Popular.

“Meu desejo era gravar Império e Portela com Seu Wilson das Neves, mas ele morreu antes.  Foi aí que resolvi trazer Arlindinho, jovem intérprete, grande amigo e representante do samba”, explica.

Vale ressaltar que tanto Diogo quanto Arlindinho são filhos de bambas vitoriosos nas disputas de sambas de enredo das respectivas escolas de samba. A dupla ainda teve a honra de ter a lenda viva do samba e do Império Serrano, Dona Ivone Lara, presente nesta parceria.

Homenagem Apesar de não ter conseguido gravar uma faixa com  Wilson dos Neves, o disco é dedicado ao sambista, morto no dia 26 de agosto passado. “Desde o início eu queria dedicar o álbum aos percussionistas e, com a morte de seu Wilson, acabei dedicando a ele, que foi um grande baterista e percussionista. Mais uma vez, o universo conspirou”, acredita.