Dirigentes de times do interior veem risco do Baianão não acabar

"Já determinei aos diretores que liberem os jogadores sem prazo para retornar", diz presidente do Flu de Feira

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  • Vitor Villar

Publicado em 18 de março de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bahia de Feira / Divulgação

Os presidentes dos clubes do interior do estado que disputam o Campeonato Baiano divergem em relação ao recuo da Federação Bahiana de Futebol (FBF), que determinou na terça-feira (17) a suspensão por tempo indeterminado do estadual. Um dia antes, a entidade havia mantido as duas rodadas finais da fase classificatória com portões fechados.

A maioria das equipes possui contratos com jogadores apenas até abril, prazo de duração do torneio originalmente - o campeão seria conhecido no dia 26 de abril. Com o agravamento da pandemia do Covid-19 e a suspensão do calendário, alguns clubes liberaram seus atletas a partir desta terça. Há equipes que alegam não ter condições de renovar os contratos e manter os jogadores por mais meses, até que o estadual seja retomado. 

A primeira decisão tomada pela FBF foi de realizar as duas últimas rodadas da fase classificatória no domingo (22) e na quarta-feira (25), com os portões fechados. A proposta, sustentada por parte dos clubes, visava a definir logo os quatro classificados para as semifinais e os seis eliminados. Assim, estas seis equipes poderiam liberar os jogadores dos seus contratos.

DIFICULDADES

Presidente da Juazeirense, Roberto Carlos aponta limitações financeiras: "Vou me reunir com elenco e comissão técnica e fechar as portas do clube sem saber quando voltaremos. Ninguém vai ficar pagando jogador com ele em casa sem poder treinar. O patrocinador não vai pagar o clube, não tem renda. Como vou fechar essa conta?", indaga.

"A maioria dos nossos contratos acaba em abril. Postergando o campeonato, teremos que renovar os contratos. Não dá para esperar. Se ficarmos dois meses, três meses com esse custo e sem jogar nem treinar, vou contrair uma dívida que o clube nunca teve", explica o presidente do Cancão de Fogo.

Outro que considera a manutenção do clube algo inviável é o presidente do Fluminense de Feira, Pastor Tom. "Como um time de interior vai manter 40 homens alojados com alimentação e tudo sem ter jogo para fazer? É complicado. Já determinei aos diretores que liberem os jogadores sem prazo para retornar. Nos próximos dias vamos avaliar o que fazer, se dispensamos dos contratos ou não", revela.

Roberto Carlos e Pastor Tom defenderam a proposta de encerrar a fase classificatória e depois parar o Baianão: "Era a medida mais salutar, porque terminaríamos logo a primeira fase e depois paralisaríamos o torneio só com quatro equipes na competição. E seria com os portões fechados, baseados na declaração do secretário de saúde do estado (Fábio Vilas-Boas) de que ainda não há razão para desespero", argumenta o dirigente do Cancão.

Além de Juazeirense e Fluminense de Feira, o CORREIO entrou em contato com dirigentes de Atlético de Alagoinhas e Vitória da Conquista, que confirmaram a liberação dos atletas e da comissão técnica e o encerramento das atividades sem prazo para retorno, e também com a direção do Bahia de Feira, que interrompeu os trabalhos do clube até o fim do mês.

O Doce Mel se posicionou por meio de uma nota oficial assinada pelo presidente Eduardo Catalão na qual informa que paralisou o futebol profissional e de base.

Presidente do Jacobina, Rafael Damasceno afirmou que o clube é totalmente a favor da paralisação alegando que "a prioridade do momento é a saúde". O dirigente afirmou que todos precisam colaborar para conter o avanço da pandemia e foi enfático ao declarar que "neste momento o menor prejuízo é o financeiro".

O Jacobina tem 53 pessoas em seu quadro - número que engloba elenco, funcionários, diretoria e comissão técnica. Damasceno alertou que já existem casos de suspeita na região e que os atletas ficaram receosos de continuar treinando. Por conta disso, as atividades no clube foram interrompidas nesta terça-feira (17) e não há previsão de volta.

"Nossos contratos são até abril, mas neste momento o prejuízo menor é o financeiro. Parabenizamos a sensatez da Federação Baiana por ouvir clubes e os jogadores para tomar a decisão. Paramos as atividades, os jogadores estão sem querer treinar. Agora vamos aguardar os desdobramentos para ver o que fazer no futuro", disse Rafael Damasceno.

O Jacuipense, que vai disputar a Série C, vive situação diferente da maioria. Na capital, Bahia e Vitória também interromperam as atividades: o tricolor para até 30 de março; o rubro-negro, por tempo indeterminado.

SÉRIE D

Ederlane Amorim, presidente do Vitória da Conquista, reconhece as dificuldades, mas apoia a decisão da FBF: "Será uma dor de cabeça enorme, mas não há o que fazer. É uma questão de saúde pública mundial e todos nós temos que dar nossa parcela de contribuição. Esses problemas que os clubes do interior vão enfrentar eu encaro como secundários. Há um risco muito maior".

Diferentemente de Juazeirense e Fluminense de Feira, o Vitória da Conquista tem vaga para disputar a Série D de 2020, que estava prevista para começar no dia 3 de maio. O mesmo vale para Bahia de Feira de Atlético de Alagoinhas. As três equipes aguardam também um posicionamento da CBF em relação à competição nacional.

"Nós temos vários contratos com jogadores que terminam agora em abril e alguns outros com validade até o final da Série D. Cada caso vai ser conversado de forma isolada, vamos tentar resolver da melhor maneira possível, para que ninguém se prejudique", comenta Ederlane Amorim sobre o Vitória da Conquista.

O Bahia de Feira, que também aceitou a decisão, está numa situação mais tranquila em relação a contratos: "No nosso elenco, a maioria dos contratos vai até o final do próximo Baiano (de 2021)", diz o presidente do Tremendão, Thiago Souza. "A princípio vamos liberar os atletas até dia 31 de março, mas podemos ampliar a depender do que acontecer. Isso se o Baiano for retomado", completa.

"A maioria dos nossos contratos já é visando a Série D", informa Albino Leite, presidente do Atlético. "Mas a gente nem sabe se vai ter Série D ainda. A providência é liberar os atletas, suspender todas as atividades do clube. A partir daí vamos avaliar juridicamente se vamos suspender os contratos ou não".

BAIANÃO SEM FIM?

Diante das dificuldades apresentadas pela pandemia do Covid-19, todos os dirigentes ouvidos admitem a possibilidade do Campeonato Baiano 2020 não ter um desfecho em campo. "Eu não acredito que o Baiano volte mais. Não teremos mais datas para isso. Para mim, o campeonato acabou do jeito que está", opina Ederlane Amorim.

"Só queria entender agora como será feita a distribuição de vagas para os torneios nacionais (Série D, Copa do Brasil e Copa do Nordeste). Qual será o critério adotado, já que não houve finalização da parte de campo? E sobre rebaixamento? Vamos aguardar um posicionamento da FBF quanto a isso", completa o presidente do Vitória da Conquista.

Roberto Carlos, da Juazeirense, reforça o coro: "Eu acho muito difícil mesmo retomar esse campeonato no futuro. Agora, quero saber como serão distribuídas as vagas para as competições nacionais do ano que vem. E também quem é que vai pagar o prejuízo financeiro que tivemos ao investir nesse período todo".

Presidente do Fluminense de Feira, Pastor Tom afirma que vai buscar medidas jurídicas caso o campeonato seja retomado: "A Justiça terá que entender a necessidade e ser branda nesse momento para que aceite que prolonguemos os contratos dos atletas. Só assim para realizarmos os jogos finais do campeonato".

*com colaboração de Vinícius Nascimento