Discursos a favor da inclusão e da diversidade marcam Oscar 2018

A campanha Time's Up, contra assédios e abusos sexuais em Hollywood, também foi lembrada

Publicado em 5 de março de 2018 às 09:31

- Atualizado há um ano

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Sem grandes surpresas na lista de vencedores, o Oscar 2018 teve uma cerimônia regular, mas marcada por discursos que enfatizaram a nova era de Hollywood, marcada pela inclusão. Um dos mais emocionantes foi o de Frances McDormand, vencedora do Oscar de Melhor Atriz pela atuação em Três Anúncios Para Um Crime.

Depois de colocar a estatueta no chão, ao seu lado, Frances pediu que todas as indicadas da noite se levantassem na plateia. Ela se dirigiu a Meryl Streep e disse que se a atriz levantasse, todas as outras criariam coragem para atender ao pedido. "Gostaria de pedir a todos os homens da indústria que falassem conosco, não agora na festa, mas nos recebessem em seus escritórios para falar de projetos".  Frances McDormand pediu que todas as mulheres indicadas a alguma categoria do Oscar se levantassem; tônica do discurso foi inclusão e diversidade (Foto: AFP) "Eu tenho duas palavras para vocês: inclusion rider". Assim Frances terminou seu discurso. A expressão é, na verdade, uma cláusula que exige que tanto o elenco quanto a equipe técnica tenham um certo nível de diversidade. Através dela, artistas podem pedir para ser incluída em seus contratos.

Quem entregou o prêmio a Frances McDormand foram as atrizes Jodie Foster e Jennifer Lawrence. Tradicionalmente, a estatueta dessa categoria é entregue à vencedora pelo ganhador do prêmio de Melhor Ator no ano anterior. No entanto, por causa de acusações recentes de assédio, Casey Affleck teve sua participação cancelada pela Academia.

As atrizes Annabella Sciorra, Salma Hayek e Ashley Judd também subiram ao palco para falar em nome do movimento Time's Up, que dá assistência legal às mulheres em várias inústrias para prevenir assédio sexual e desequilíbrio de gênero no ambiente de trabalho. Todas elas acusaram o produtor Harvey Weinstein de assédio entre outubro e dezembro do ano passado. Na semana passada, a The Weinstein Company, um dos mais importantes estúdios de Hollywood, fundado por Harvey Weinstein e pelo irmão, Bob Weinstein, anunciou que irá decretar falência. A empresa entrou em declínio desde que começaram a ser divulgadas as denúncias.  Annabella Sciorra, Salma Hayek e Ashley Judd reforçaram campanha Time's Up, contra assédio e abusos sexuais em Hollywood (Foto: AFP) "Estamos ansiosos para garantir que os próximos 90 anos apoderem essas possibilidades infindáveis de igualdade, diversidade, inclusão, intersecção. É o que este ano nos promete", disse Ashley Jude antes da exibição de um vídeo com diversas integrantes do Time's Up reforçando as denúncias contra grandes nomes do cinema.

Muitos homens presentes na cerimônia endossaram os protestos contra abusos e assédios sexuais em Hollywood. Eles se juntaram à causa usando broches escritos Time's Up. Um dos cineastas a usar o broche foi Guillermo del Toro, vencedor da categoria de Melhor Diretor por A Forma da Água. O filme que narra uma história de amor entre uma criatura aquática capturada na Amazônia e a faxineira muda de um laboratório, foi o grande vencedor da noite e conquistou quatro estatuetas - ele também foi o recordista de indicações, concorrendo em 13 categorias. Usando broche em apoio à campanha Time's Up, cineasta mexicano Guillermo Del Toro fez discurso emocionado ressaltando a importância de se apagar fronteiras (Foto: AFP) Ao receber a estatueta de Melhor Filme, Guillermo Del Toro falou sobre a importância de "apagar fronteiras" e fez uma referência indireta à proposta do presidente dos EUA, Donald Trump, de construir um muro entre os Estados Unidos e o México. "Eu sou um imigrante, como Alfonso [Cuarón], Gael [Garcia Bernal] e muitos de vocês. A melhor coisa no nosso setor é poder apagar as linhas, as fronteiras. Muros só vão piorar as coisas", afirmou, ao dedicar a estatueta aos jovens cineastas de todo o mundo.