DJ acusado de agredir ex-namorada já responde a outros quatro processos

Em 2008, ele foi preso em flagrante acusado de agredir e jogar da escada ex-companheira e sogra

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

Seis. Esse é o número de mulheres que foram agredidas e registraram ocorrência contra João René Espinheira Moreira, 33 anos, conhecido em Salvador como o DJ John Oliver. Ele responde a quatro processos no Tribunal de Justiça da Bahia, todos por agressão a mulheres, tendo, inclusive, sido preso em flagrante em 2008 após jogar da escada a sogra e uma ex-companheira.

O CORREIO conseguiu entrar em contato com duas das vítimas de John Oliver, sendo uma delas a bacharel em Direito Juliana Galdino, agredida na madrugada de sexta (4) para sábado (5). A outra, que preferiu não se identificar, contou que recebeu murros na cabeça em frente a uma casa de show no bairro do Rio Vermelho. As duas registraram ocorrência e passaram por exames. Bacharel em Direito Juliana foi uma das vítimas das agressões do DJ (Fotos: Acervo Pessoal) No entanto, além de conversar com duas das vítimas, a equipe do CORREIO teve acesso na íntegra a todos os processos que tramitam no TJ-BA contra João Espinheira. Confira abaixo o histórico do acusado, bem como, o depoimento dele sobre as situações.

Primeiro episódio

O histórico de agressão de João Espinheira, o que ele chama de “calcanhar de Aquiles”, é antigo, tendo começado há quase 11 anos, em 27 de janeiro de 2008, quando aconteceu o primeiro episódio, que foi levado à Justiça dois anos depois. Na ocasião, ele foi acusado de cometer lesões corporais contra a ex-companheira e a sogra, tendo empurrado ambas escada abaixo.

No processo, aberto em 2010, consta que uma das vítimas, com quem John Oliver tinha um relacionamento e dividia a casa, estava arrumando as malas para se separar do acusado. No entanto, ele, inconformado com a situação, agrediu a jovem, à época com 21 anos, com murros, empurrões, além de xingamentos.

Na tentativa de defender a filha, a sogra do DJ também foi agredida e jogada da escada. A polícia foi acionada e efetuou a prisão em flagrante de João, que, no momento, portava uma pistola de choque com as iniciais dele gravadas e um par de algemas. No entanto, em 31 de janeiro, foi concedida a liberdade provisória ao DJ.

A partir daí, o processo correu sem muitas movimentações na Justiça e sem sentença condenatória, tendo sido, em outubro de 2016, extinto por “prescrição retroativa”, segundo entendimento da juíza Nartir Dantas Weber, da 1º Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Salvador.

Com a decisão, o processo foi extinto sem a análise do mérito e, com ele, toda e qualquer pena que poderia ser aplicada contra João Espinheira, o DJ John Oliver.

Segundo episódio O segundo caso de agressão contra o DJ levado à Justiça aconteceu em 10 de maio de 2014, tendo a ocorrência sido registrada da Delegacia Especial de Proteção à Mulher em julho do mesmo ano.

No documento, uma mulher, à época com 32 anos, ex-namorada de João Espinheira, acusa ele de tê-la atingido com “chutes, murros e pontapés”, além de ter desferido golpes contra ela com um cacetete, atingindo braços e pernas.

Em julho de 2014, a juíza Márcia Nunes Lisboa concedeu de ofício (sem precisar ouvir o acusado) medida protetiva em favor da vítima. Inicialmente, o prazo estipulado para a manutenção de distância e ausência de contato foi de 4 meses.

Após um tempo parado, o processo foi retomado em agosto de 2018, quando a agredida demonstrou interesse em continuar com a ação penal, apesar de ter afirmado à Justiça “que não mantém mais contato” com João Espinheira.

Terceiro episódio Já o terceiro caso, que João Espinheira prefere chamar de “uma coisa de família”, envolve a irmã do DJ. De acordo com a ação penal que tramita no TJ-BA, em 13 de dezembro de 2016, John Oliver agrediu a irmã, dentro de casa, com socos na cabeça e nos braços.

“Foi uma briga de família. Minha irmã me ameaçou com uma faca e eu apenas me defendi, como qualquer pessoa faria”,  disse ele ao CORREIO. Ainda segundo João, o processo trata de um assunto pessoal e de família, “algo que pode acontecer com qualquer pessoa”.

Na petição inicial deste processo, João se defendeu e disse que apenas deu um tapa na irmã. Ela, por sua vez, afirmou ainda que ele destruiu um notebook e um celular no momento da briga, que teve início porque o DJ teria agredido o animal de estimação da família.

Desta forma, com a ação penal em curso, em 19 de dezembro de 2016, a juíza Nartir Dantas Weber concedeu medida protetiva para afastamento e ausência de contato em favor da irmã de João. O acusado, no entanto, só recebeu a intimação em fevereiro de 2017.

Em agosto de 2017, durante audiência de conciliação, a qual o DJ não compareceu, a irmã de John Oliver afirmou que durante os meses de vigência das medidas protetivas o acusado “não entrou em contato com ela”, mas, diz “para terceiras pessoas, familiares em comum, que ‘se não retirar o processo vai ser pior para ela’”, referindo-se à vítima.

Por esse motivo, na mesma audiência foi pedida a renovação das medidas protetivas contra João Espinheira, que não foi citado ainda, em razão de não ter sido localizado pela Justiça. Cabe ressaltar que no dia em que agrediu a irmã, o DJ John Oliver estava acompanhado da então namorada Juliana, a mesma que sofreu agressões na madrugada deste sábado (5).

Quarto episódio O último episódio, excluindo da contagem o deste sábado (5), ao qual o CORREIO teve acesso envolve uma mulher que, diferente das demais, sequer conhecia João Espinheira no dia em que alega ter sido agredida por ele.

De acordo com ela e com o boletim de ocorrência lavrado em dezembro de 2018, o DJ estava em uma casa de show no Rio Vermelho, acompanhado de uma mulher, mesmo lugar onde a vítima estava com mais duas amigas.

No momento da agressão, que aconteceu em setembro do ano passado, a vítima estava do lado de fora do estabelecimento à espera de um Uber, quando foi abordada por John Oliver. Horas antes, dentro da boate, houve uma confusão entre ela e a acompanhante do DJ, que acabou sendo expulsa do local.

A vítima acredita que John Oliver quis vingar a acompanhante e, por isso, “deu vários murros e socos” no rosto da mulher. “Eu fui até a delegacia no mesmo dia, mas precisei correr para um hospital, pois estava muito machucada. Depois voltei à delegacia e fiz o boletim de ocorrência”, contou.

Ainda segundo a mulher, “foi difícil abrir a ação penal”, porque ela não sabia o nome do DJ John Oliver. “Depois de descobrir o nome, o problema foi conseguir concluir a intimação, o que só aconteceu no final de outubro e já tem uma audiência de conciliação marcada para o dia 25 de fevereiro de 2019. Vamos ver se ele vai comparecer”, disse.

O que diz o acusado Por telefone, João Espinheira afirmou ao CORREIO que é um homem “correto e trabalhador”. “Se eu fosse um agressor, um sacana, não iria conseguir trabalhar e ter uma vida normal”, declarou.

Ainda segundo ele, “as pessoas se aproveitam da lei para transformar qualquer briga e discussão em processos, o que é muito sério, porque pode marcar a vida do outro, não tem como apagar”.

João Espinheira negou ao CORREIO todas as acusações e disse que, mesmo nos processos ainda em curso, ele é inocente e todos os episódios não passaram de situações nas quais as mulheres, que não aceitavam o fim da relação, queriam se vingar dele. “Mulher é assim mesmo, acha que pode agredir e nada vai acontecer”, disse.

Quanto ao caso que envolve a irmã, João disse que ela é advogada e está usando da profissão para destruir a vida dele. “Esse é um caso à parte, porque, na verdade, ela que quis me agredir com uma faca e eu apenas me defendi, como qualquer pessoa faria”, concluiu.

Veja onde buscar ajuda: Creas - O Centro de Referência Especializada de Assistência Social atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (coordenação estadual) e 3176-4754 (coordenação municipal)

CRLV - O Centro de Referência Loreta Valadares promove atenção à mulher em situação violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº 1 – Barris, em frente à Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268

Deam Brotas - (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) - Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000

Deam Periperi - Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217

Disque Denúncia - As mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres

Fundação Cidade Mãe - Órgão municipal que presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas

Gedem - O Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público da Bahia atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1.312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424.

* Com supervisão do chefe de reportagem Perla Ribeiro