Do barraco ao 'só love': de perto todo mundo é igual

Série É o Amor: Família Camargo, que estreia nesta quinta (9), na Netflix, mostra intimidade do sertanejo Zezé em cinco capítulos

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  • Doris Miranda

Publicado em 8 de dezembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Quem se comoveu com o sensível 2 Filhos de Francisco (2005), filme de Breno Silveira que virou fenômeno de bilheteria (5,3 milhões de espectadores) no Brasil ao contar a origem da dupla Zezé di Camargo & Luciano, certamente vai se sentir atraído por É o Amor: Família Camargo. A série de cinco episódios, que estreia nesta quinta (9) ,na Netflix, sob direção de Ricardo Perez, não tem o mesmo brilho do filme estrelado por Ângelo Antônio e Dira Paes, porém acalma a curiosidade do público ao revelar a intimidade do núcleo familiar de Zezé. 

É o Amor, na verdade, se propõe a mostrar o lado pai de Zezé, especialmente com Wanessa, a única filha que seguiu na carreira artística. Juntos, eles costuram as histórias da família com a feitura do álbum Pai e Filha, que deve ser lançado no ano quem vem com produção de Kassim. O repertório será inédito em maioria, mas trará uma releitura pop do clássico que nomeia a série, apenas na voz de Zezé e Wanessa. A sugestão é do produtor, que trabalha para chamar outro público e o resultado fica bem bacana. 

Luciano, que 'suspendeu' a dupla com o irmão para investir em carreira gospel durante a pandemia, só aparece em imagens de arquivo. E só a menção ao seu nome provoca uma saia justa já no primeiro episódio. É quando o jornalista Fefito pergunta se a ausência é porque a dupla acabou. Zezé não responde mas faz uma cara... Mais para frente, dona Helena entrega o jogo e afirma que se Seu Francisco estivesse vivo a separação dos dois não teria acontecido. Questões que os fâs da dupla não verão respondidas agora, não antes da agenda dos artistas ser estabilizada no Brasil se os números da covid permitirem.

Instalados na Fazenda É o Amor, que Zezé mantém no interior de Goiás, a família Camargo apresenta momentos do seu dia a dia e conversa muito. Saem declarações inesperadas, como a autorização que Zezé dá para os filhos trazerem Zilu para passar uns dias no lugar que ela viu crescer - isto é, quando ele não estiver, claro. O cantor diz que nunca proibiu a ex-mulher de frequentar o local mas ressalta que a fazenda é dele e que ela não pode se sentir responsável por parte do seu crescimento - e, por isso, brigar pela divisão exata dos bens.

"Não foi ela quem me fez mas ela estava do meu lado como minha mulher quando isso aconteceu. Agora, falar que ajudou no meu sucesso... Desculpa, ela não fez nada mais do que a obrigação dela como mulher: estar ao meu lado. Foi um ciclo importante na minha vida, vivemos 28 anos. Mas chega um momento que tem que ter a ruptura", justifica o cantor em outro momento, sem a presença de Wanessa e do irmão Igor.

A necessidade de responder a tudo, sem interromper a câmera, foi um acordo que a cantora firmou com o pai antes das filmagens começarem: "Não interessava o que ia acontecer, não podia pedir para cortar a câmera”. Zezé complementa: “Quando você é sincero com aquilo que você tá falando, acho que as chances de ser reprovado pelas pessoas é muito pouca. A série acabou me dando isso, a oportunidade de mostrar pras pessoas o porquê disso, o porquê daquilo”. Zezé e Wanessa gravaram juntos o álbum Pai e Filha, que será lançando em 2022 (divulgação) Morando em Miami, Zilu também está presente e revela uma certa agonia pela mágoa que ainda sente do ex-marido. “Queria um dia poder me livrar disso, aprender a perdoar porque ainda não consegui essa dádiva. Mas isso também tem que vir do lado dele. Se soubesse que minha vida ia tomar o rumo que tomou eu tinha ficado totalmente no anonimato. Imaginar que seu marido é infiel é uma coisa. Ver a infidelidade é outra”, desabafa.

A certa altura da série, vemos Zezé nervoso, se preparando com uma dose de uísque, para conversar com Zilu por chamada de vídeo. Corta para o pedido de casamento que Graciele Lacerda faz ao cantor. Num relacionamento há quase uma década, o casal está batalhando para ter um filho por inseminação, já que Zezé é vasectomizado há anos. Graciele conta como foi viver no anonimato durante tanto tempo: "Eu só chorava e não podia contar a ninguém. Ajoelhava no chão e pedia a Deus para tirar ele da minha vida".

Abordar as dificuldades emocionais que a família sofreu, como o sequestro de Wellington Camargo, em 1998, ou a separação conturbada dos pais, é o gancho perfeito para Wanessa falar sobre saúde mental, um dos aspectos, talvez, mais relevantes da série. Como numa sessão de terapia, ela conta que trata Síndrome do Pânico e Transtorno de Ansiedade desde os 22 anos. "Uma das coisas que mais me ajudaram no processo de encarar e entender que eu não estava ficando louca foi aceitar. Comecei a entender que eu não tenho que bater no pânico e lutar contra ele, tenho que saber conviver e deixar ele vir, sabendo que ele também vai passar. Então aceitá-lo foi muito importante", pondera.

Na viagem de não desligar a câmera em nenhum momento, Wanessa se deixa filmar numa dessas crises  de pânico: "Quando comecei a gravar a série, eu pensei em esconder isso. Mas percebi que poderia estar ajudando alguém que estava como eu e que iria se reconhecer em mim. Ia olhar e falar 'olha, eu também tenho isso, eu também sinto isso e não somos loucas', sabe?. Então esse é o meu propósito com essa série, falar de nossos desafios mentais".

Em É o Amor: Família Camargo, não tenha dúvida, a estrela é Zezé. Mas, Wanessa conduz seu papel de coadjuvante com muita propriedade. E vai além do bordão de pobre menina rica. Mostra que sofre como todas nós - menos por questões financeiras, óbvio.

Numa das cenas mais comoventes, ela e o marido, o empresário Marcus Buaiz, conversam sobre o aborto que sofreram no auge da pandemia e que lhe desencadeou crises de pânico e muita vulnerabilidade. Além da perda do bebê, que quase lhe causou infecção generalizada, ela teve covid, perdeu um grande amigo para o vírus e o avô para a fragilidade causada no organismo por um efisema pulmonar. O que fica, no final, é que os dramas estão em toda família, seja rica ou pobre. Só nos resta vivê-los.

Veja o trailer: