Do telão ao rádio no ouvido: os sustos e alívios com a Seleção no Pelourinho

Placar de 2x0 contra a Costa Rica levou alegria para a torcida nas ruas de Salvador

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  • Nilson Marinho

Publicado em 22 de junho de 2018 às 14:40

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Uma muralha tinha sido construída entre as duas traves. Não era possível. Foi sofrido, embora o resultado tenha sido favorável. O goleiro costarriquenho, de 1,82 metros, defendia, de forma majestosa, diga-se de passagem, o seu território de pouco mais de 7 metros - medida entre as duas traves. Enquanto Keylor Navas afastava o perigo dos adversários, nós, brasileiros, baianos, em especial aqueles que se concentraram no Largo do Pelourinho, na manhã desta sexta-feira (22), sofríamos, ampreensivos, a espera de um resultado que nos colacasse em primeiro na tabela do grupo E.   

No primeiro tempo, o Brasil chutou sete vezes, um deles mais próximo do gol. A seleção do país da América Central arriscou três vezes, mas a bola não chegou a assustar o goleiro Alisson ."Esse goleiro não está só, não!", dizia um dos torcedores se referindo a Keylor.

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A aposentada Edite Souza, 69 anos, sabia que seria difícil passar por cima dos costarriquenhos. Mas ela acreditava. Dessa vez seria diferente daquele resultado contra a Alemanha que nos deixou fora da Copa realizada em nossa própria casa. Deus nos livre de ser eliminados ainda na fase de grupos e passar, mais um vez, por uma humilhação. Por isso, além de estar vestida da cabeça aos pés de verde amarelo, dona Edite trouxe também galhos de arruda, para espantar os maus espirítos de dentro de campo.

"Aqui, meu filho, é para neutralizar o olho gordo, pro Brasil ganhar", disse a aposentada enquanto acompanhava, no telão armado no Largo do Pelourinho, Gabriel Jesus ultrapassar a barreira Keylor e balançar as redes aos 25 minutos do primeiro tempo. A arbitragem invalidou o lance e nós, que já comemoravámos o primeiro gol, voltamos, novamente a sofrer a cada lance.   

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A alguns metros dali, no Terreiro de Jesus, aqueles que não tinham como acompanhar a saga brasileira, apuravam a audição para saber, por meio da reação do público do Largo, o que acontecia em campo. A comerciante Valdirene Conceição, 47, precisava continuar passando o olho na sua barraca onde são servidos coquetéis.

Naquela altura do jogo, próximo ao fim da partida do primeiro tempo, o Brasil já se aproximava de 60% de posse de bola. Mas Valdirene sequer sabia quem tinha entrado em campo para defender a sua pátria. "Olha, eu até queria assistir, viu? Mas não tem ninguém aqui pra ficar na barraca. Se eu sei quantas vezes o Brasil arriscou ao gol? Daqui eu só ouvi dois gritos. O Brasil tá perdendo ou tá ganhando?", perguntava a comerciante ao seu interlocutor. 

Quem não encontrava espaço para assistir o jogo no grande telão do Largo, se apinhava nas pequenas biroscas e bares do Pelourinho. O vigilante Gabriel Henrique, 40, assistia o segundo tempo em frente a um televisor no Bar da Nete, na Rua Alfredo de Brito, já descrente na Seleção e cansado das jogadas sem finalizações.

Mas o Brasil, à aquela altura, reagia. Foram 657 passes trocados durante todo o segundo tempo e um total de 10 escanteios, contra um da Costa Rica. Mas o vigilante não se contentava, afinal o importante mesmo é sacudir a rede.

"Neymar batendo escanteio? Que nada, nunca vi Romário bater escanteio... Nunca vi centroavante fazer isso. Vai, vai, vai - bola girando sob as traves. Todas as vezes que o time jogou em função de um jogador só (Neymar), perdeu. Tomou 7x1 da Alemanha, e, agora, sei não", comentou o vigilante. 

Um dos donos do bar, Walmílio Gomes, 51, conhecido como Marrom, contrariava seus clientes torcendo, vejam só, a favor do nosso adversário. "Oooooh, ooooh, Costa Rica balança o Pelô", cantava Marrom, fazendo menção a uma música do Olodum que, minutos atrás, fazia a torcida acreditar que os gol viria no segundo tempo. 

Aos 45 minutos, já desacreditados na vitória e certos com o empate, os torcedores brasileiros foram à loucura quando Firmino lançou na área para Coutinho bater de bico e mexer no placar. 1x0 pro Brasil. O caixão foi fechado e selou a vitória canarinho nos acréscimos. No contra-ataque brasileiro, aos 51 minutos, Douglas Costa lança para Neymar e o garoto faz o segundo. Brasil 2x0. Marrom, o brasileiro do contra, coitado, foi expulso pelos próprios clientes do seu estabelecimento. 

"Eu gosto é do meu dinheiro, não sou brasileiro, não. Ser colocado pra fora do meu bar pelos clientes faz parte da farra. Olha, na realidade, realidade, tudo não passa de uma brincadeira, tem que ter aquela descontração, né?", disse o comerciante.  

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier