Doc sobre Neymar na Netflix não foge de críticas ao craque

Embora soe como oficial, filme não poupa craque e revela pai superprotetor

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 25 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

"Estamos criando um monstro", disse Renê Simões em 2010. O então técnico do Atlético-GO se referia a Neymar, o menino que, então com 17 anos, encantava o Brasil com a camisa do Santos e era apontado como a maior promessa do futebol brasileiro, mas, naquele dia, havia chamado atenção pelos graves atos de indisciplina que cometera. A frase, claro, pela repercussão que ganhou e que ainda tem, está logo no início do documentário Neymar - O Caos Perfeito, que chega hoje à Netflix, em três capítulos.

Passados quase 12 anos daquela noite, percebemos que, embora soe profética, a frase de Renê tem uma dose de exagero. Neymar, que completa 30 anos dia 5 de fevereiro,  é sem dúvida um eterno adolescente mimado, que parece muito mais preocupado em ostentar nas redes sociais que efetivamente brilhar em campo. Mas não é, em campo, aquele encrenqueiro todo como outros que marcaram o futebol. Da mesma forma, talvez, para a decepção de muita gente, seja exagero classificar Neymar como um "monstro" em campo, embora tenha momentos em que possa afirmar isso dele.

E o documentário dirigido por David Charles Rodrigues confirma: tentou-se criar Neymar em uma espécie de redoma, que o deixasse imune a críticas. E isso, no documentário, não é negado em nenhum momento pelo superprotetor pai dele, que gere sua carreira e não se constrange ao dizer no doc: "Criamos dispositivos para protegê-lo" e, para isso dispõe de uma empresa que tem 215 funcionários. 

Também não há constrangimento ao se referir ao filho como se fosse um produto ou propriedade da família."Foi o primeiro milhão que minha família ganhou", revela o empresário, se referindo provavelmente ao contrato que Neymar assinava com o Santos."Ué, mas quem ganhou o dinheiro não foi o jogador", pergunta-se espantado o espectador. O pai, um ex-atleta que fracassou no futebol, deposita no filho, muito claramente, o seu próprio desejo de se tornar um craque rico e famoso. Briga com o garoto até para determinar como ele deve usar o boné: se a aba deve ficar para o lado ou para trás.

Na produção, claro, predomina uma visão positiva do craque. Messi, Mbappé, Suárez, que jogam ou jogaram com Neymar, são só elogios às habilidades dele em campo, o que neste caso é justo, claro. Há também um esforço de mostrar Neymar como bom pai, em cenas familiares, ao lado do filho Davi, distribuindo beijos e abraços. Ou ainda revelar a atenção que o craque dispensa às crianças na hora de distribuir autógrafos.

Mas, ainda assim, o documentário não se furtou em chamar gente que crítica a ele, como o próprio Renê: "Ele perdeu essa noção de hierarquia: quem manda e quem obedece", diz, em depoimento atual. O jornalista esportivo Juca Kfouri faz elogios ao desempenho de Neymar em campo, mas não faltam ressalvas."Messi não tem a menor dúvida sobre qual é o principal oficio dele: jogar futebol. Neymar, nem isso. E temo que não venha a ser. Ele é manchete muito mais por questões extra-esportivas que por façanhas que cometa dentro de campo. Agora, acaba em dívida com o futebol...".E há, para o deleite dos fãs de um futebol bem jogado, lances e mais lances de Neymar em campo, distribuindo dribles, passes e belos chutes a gol. É arrepiante o resgate da histórica atuação do craque brasileiro no jogo Barcelona 6x1 Paris St. Germain. 

O time espanhol havia levado 4x0 dos franceses na primeira partida das oitavas de final Champions League de 2017 e precisava no mínimo devolver o placar para ter chances de se classificar. Chegou a fazer 3x0, mas levou um gol. Aí, passou a precisar fazer seis. Quando estava 3x1, Neymar marcou um gol aos 43 minutos do segundo tempo e outro nos acréscimos, aos 46. 

O milagre definitivo ocorreu já aos 50 minutos, quando o brasileiro deu um passe milimetricamente preciso para Sergi Roberto consolidar a vitória. A atuação de Neymar, brilhante, foi provavelmente, o melhor desempenho dele em um jogo na sua carreira. Esta tudo no segundo episódio, para quem quer viver ou reviver aquela emoção. 

Há ainda outros momentos históricos da carreira dele, como o protagonismo na conquista da Libertadores de 2011 pelo Santos, aos 19 anos. E outros que o mostram ainda bem franzino, com uns dez anos de idade, declarando seu amor por Pelé.

Embora escorregue em alguns momentos em uma certa idolatria a Neymar, o documentário acertou ao convocar alguns críticos a seu comportamento, como Juca Kfouri e Renê Simões. Não faltam depoimentos de torcedores do PSG, atual clube do brasileiro, criticando o comportamento de Neymar. "Ele não respeita o clube", diz um. "Tínhamos esperança quando ele chegou, mas é difícil gostar dele", revela outro. E, depois de ver o doc, é difícil dizer que o pai do jogador não tem uma parcela de responsabilidade por essa decepção da torcida francesa.