Documentário inédito em homenagem à Mãe Carmen estreia na GloboNews

O álbum ‘Obatalá: Uma Homenagem à Mãe Carmen’ foi indicado ao grammy latino 2020

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  • Laura Fernades

Publicado em 7 de janeiro de 2021 às 08:00

- Atualizado há um ano

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“Deixe a roupa do preconceito de lado e abrace, aqui, essa jornada”, convida a narração do documentário inédito Obatalá, o Pai da Criação, que estreia na GloboNews, domingo, às 23h. Feito em parceria com a Gege Produções, o filme mergulha na cultura afro-brasileira a partir do processo de gravação do álbum Obatalá: Uma Homenagem à Mãe Carmen, que celebra a Ialorixá do Terreiro do Gantois, em Salvador.

Imagens inéditas dos bastidores do encontro musical são revelados no filme gravado antes da pandemia. Gilberto Gil, Alcione, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Marisa Monte, Matheus Aleluia, Jorge Ben e Daniela Mercury estão entre os 18 artistas que se reuniram para interpretar as 17 canções do disco indicado ao Grammy Latino 2020, na categoria melhor álbum de raízes em Língua Portuguesa.

“O documentário é luminoso e esclarecedor. Há um misto de emoções quando ouvimos as canções com um pensamento claro dos valores do candomblé no mais famoso terreiro do Brasil”, destaca Cristina Aragão, roteirista e narradora, responsável pelo texto de abertura do filme. “Estivemos lá e fizemos imagens lindas dessa casa acolhedora, como bem disse Mãe Carmen, a responsável pela permissão para que a produção e a gravação do material fossem realizadas”, conta.

Cada convidado, em solo e dueto, cantou em homenagem a um Orixá e o filme mostra os bastidores com depoimentos exclusivos. Um dos destaques é o reencontro de Gilberto Gil e Jorge Ben Jor depois de 30 anos. A proposta do trabalho, porém, é ir além da música e apresentar conteúdos relevantes sobre a cultura afro-brasileira em um registro histórico de referência para a Bahia e o Brasil.

Sem preconceito Além de cenas do encontro entre os artistas, o documentário de 55 minutos de duração fala sobre a cultura do candomblé e sua fundação no Brasil a partir dos escravizados trazidos da África. Ao mesmo tempo, mostra o protagonismo das mulheres na religião e como, através das primeiras libertas por volta de 1830, a figura feminina se impôs nos terreiros, onde o matriarcardo prevalece ao longo das gerações.

Cristina conta que era importante ampliar os conteúdos das gravações do disco. Depois de assistir às imagens do making of, a roteirista, junto com a montadora Renata Baldi e a coordenadora do projeto, Leticia Muhana, decidiu que era importante ouvir grandes nomes para explicar o candomblé a quem não tem familiaridade com o tema. Falar sobre a intolerância religiosa também virou um objetivo. 

“Fomos a Salvador ouvir Gilberto Gil, que nos contou não somente sobre o candomblé, mas também sobre a importância de tirarmos a capa do preconceito que muitas vezes ronda o assunto”, comenta a roteirista. “Ouvimos também Dona Cici, mestra em tradições das religiões e culturas africanas no Brasil. Dona Cici trabalhou muitos anos com Pierre Verger, e até hoje cuida da Fundação que leva o nome dele”, conta.

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Sons do sagrado Como a pandemia restringiu os encontros e as próprias reuniões nos terreiros de candomblé, Gil defende que esse projeto retoma a relação com “esse mundo mágico da religião afro-brasileira”. O disco, em si, promove o encontro entre criadores, artistas, cantores e intérpretes com o mundo de preservação “de uma matriz religiosa importantíssima”, destaca o cantor.

O público terá, portanto, acesso a um projeto com uma dimensão artística profunda, na opinião de Gil, que envolve a música, a dança e os grandes complexos de percussão que caracterizam a música do candomblé e de raízes africanas. “Esse é o caráter do projeto Obatalá. O nosso objetivo é proporcionar diálogo entre a música popular, através de artistas representativos da Bahia, que é o grande centro do candomblé no Brasil”, explica.

Gil destaca, ainda, que a música está na expressão de todas as formas de religião. “A música está em todo lugar. No candomblé, ela tem uma característica um pouco mais fundamental. Em toda a atividade de ritual do candomblé, no que diz respeito a seus adeptos e patronos, a música é a expressão mais forte. É sempre importante lembrar que a cultura negra, no Brasil, foi difundida e levada para todos os corações brasileiros através da arte musical”, reforça.

Ao fornecer conhecimento de forma lúdica, o documentário Obatalá, o Pai da Criação se propõe a combater todas as formas de intolerância. “É sempre válido ressaltar o papel valioso que essa religião afro-brasileira tem para a formação da nossa gente, no reforço da tolerância e igualdade e, além de tudo, o candomblé é uma atividade pedagógica e de ensinamento a todos nós”, defende Gil.