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'Me Chama que Eu Vou' será exibido no Canal Brasil nesta quarta (23)
Roberto Midlej
Publicado em 23 de setembro de 2020 às 06:00
- Atualizado há um ano
“Um misto de Elvis Presley com John Travolta”, dizia o Jornal Hoje, da Globo. “Ídolo das mulheres de todo o Brasil”, afirmava Chacrinha ao apresentá-lo. “É um pássaro? É um bólide? É um disco voador?”, questionava uma revista em uma reportagem, para, em seguida, revelar de quem estava falando: Sidney Magal, o cantor que se tornou um fenômeno de popularidade na segunda metade da década de 1970, com sucessos como Sandra Rosa Madalena e O Meu Sangue Ferve Por Você.
A história do artista que, em seu auge, teve popularidade comparável à de Roberto Carlos, é agora tema do documentário Me Chama que Eu Vou, indicado ao prêmio de melhor longa brasileiro no Festival de Gramado. O filme será exibido hoje no Canal Brasil, às 20h35. A emissora da TV paga está exibindo os filmes da tradicional premiação, que acontece virtualmente devido à pandemia de covid-19.
O filme é dirigido por Joana Mariani, que se tornou amiga de Magal quando foi assistente de direção do videoclipe da canção Tenho, há cerca de 15 anos. A partir dali, a cineasta passou a frequentar a casa do cantor e, lá, encantou-se com as histórias que ele contava sobre a vida e a carreira. Mariana diz que também foi seduzida pela forma como ele se relaciona com a família e a esposa, a baiana Magaly, com quem é casado há 40 anos. Magal no auge da carreira As histórias no filme são muito interessantes e o charme de Magal ao contá-las só as enriquece. Uma das melhores passagens é aquela em que ele lembra do dia em que pediu ao primo Vinicius de Moraes (1913-1980) que compusesse uma canção pra ele cantar. Mas o Poetinha, sábio, respondeu:“Se eu tenho esse tipo físico, essa beleza, esse charme com as mulheres, eu não tava fazendo bossa nova sentado num banquinho. Eu tava me jogando pra galera mesmo e sendo um ídolo popular”.Magal seguiu o conselho e, mais tarde, viu que o primo estava certíssimo.
Para o filme, Joana realizou, além das entrevistas com Magal, uma rica pesquisa no acervo de emissoras como Globo, Band e SBT. Magal aparece sendo entrevistado por jornalistas como Marilia Gabriela, Mônica Valdwogel e Leda Nagle e ali fica evidente o personagem que ele criou, sempre sedutor e charmoso.
Foi esse personagem que despertou o interesse do argentino Robert Livi, empresário de Magal. Ele via que o estilo do cantor, muito criticado por grande parte da imprensa e tachado de “brega” era, na verdade, seu trunfo. Apostou nisso e deu certo.
Com o argentino, a carreira de Magal foi um fenômeno Mas Robert não se conformava com o casamento do cantor, já que Magaly não se comportava como uma fã: “Você não pode se casar com uma mulher que não presta atenção quando você canta. Que não aplaude quando você canta”. Magal não deixa claro, mas dá a entender que, em algum momento, o empresário o colocou na parede, como se tivesse que escolher entre o casamento e a carreira. “Se eu tivesse que não seguir com a carreira, não seguiria”. O cantor então rompeu com o argentino.
Por coincidência ou não, a carreira de Magal entrou em declínio depois de separar-se do empresário. O auge da popularidade do cantor foi entre 1976 e 1981. Ele precisou de quase dez anos para ser novamente popular: em 1990, pela primeira vez, teve uma música incluída na abertura de uma novela, Rainha da Sucata, que tinha uma média de 60 pontos de audiência. Ou seja, o Brasil todo aprendeu a cantar o refrão “Ei, eô, eô, me chama que eu vou!”.
A lambada levou Magal de volta ao topo das paradas e ele não segura as lágrimas ao lembrar disso: “Já tinha anos fora da mídia. Gritei, chorei, falei pra Magaly ‘vamo jantar’, tomar vinho, champanhe, pago pra quem for comigo”. “A carreira não tinha acabado: era só uma sensação minha”, acrescenta.
Mas, mesmo depois de tanto tempo fora da mídia, Magal não entrou em depressão não recorreu às drogas e nem guardou rancores, como observa a diretora. Isso, de alguma maneira, criou um certo problema para ela:“Tive dificuldade na hora da montagem do filme porque descobri que ele não tinha um antagonista”.
Nem Robert Livi poderia ser apontado como um antagonista, argumenta Joana: “Magal só falaria mal do Livi se eu o empurrasse para isso. Conheço Magal há 15 anos e nunca vi ele dizer ‘Livi foi um escroto’. Eu poderia manipular e contar a história de forma que mostrasse que o cara não foi legal. Mas se fizesse isso, não estaria respeitando a essência de Magal”. Mas Joana diz que acabou encontrando um antagonista: a mídia, que, segundo ela, levantava e abaixava Magal “sem dó nem piedade”.
Além dos depoimentos muito espontâneos e emocionantes de Magal, o filme traz versões um tanto inusitadas de clássicos da MPB, com o cantor acompanhado apenas por um piano, bem diferente da imagem que temos dele, sempre rebolativo. Vê-lo cantar Olha, de Roberto e Erasmo, e João Valentão, de Caymmi é, no mínimo, surpreendente.