Documento da Anvisa diz que CBF recorreu a Ciro Nogueira para manter Brasil e Argentina

Servidor da agência diz que presidente em exercício da CBF, o baiano Ednaldo Rodrigues tentou colocá-lo em contato com o ministro da Casa Civil

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  • Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2021 às 17:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Estadao Conteúdo

A saga do jogo entre Brasil e Argentina, interrompido ainda nos primeiros minutos, no último domingo, ganhou um capítulo. O servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Yunes Eiras Baptista relatou obstruções a seu trabalho e citou uma tentativa do presidente em exercício da CBF, o baiano Ednaldo Rodrigues, de colocá-lo em contato com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. As informações são de O Globo.

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O servidor, que entrou em campo para retirar quatro jogadores argentinos que violaram as normas sanitárias brasileiras, escreveu em seu relatório. "Por volta das 16:45 – Fui abordado pelo Sr. Ednaldo Rodrigues – Presidente da CBF informando que estava em contato com a Casa Civil e se eu poderia falar com o Sr. Ministro Ciro Nogueira, neguei o contato e informei que se dirigisse à diretoria da ANVISA a qual me encontrava subordinado visto que se tratava de ação sanitária e legal", diz trecho do documento.

Chefe da Casa Civil, Ciro já foi cartola. Ele é ex-presidente do River do Piauí, e tem bom trânsito entre dirigentes. O ministro ainda não se manifestou sobre o caso.

Ainda segundo o documento do servidor, outras pessoas que se identificaram como dirigentes perguntaram se seria possível alguma negociação. Yunes conta ainda que Sergio Ribas, vice-presidente da Comissão de Governança e Transferência da Conmebol tentou "conversas mais discretas". Yunes diz que Ribas perguntou se ele poderia informar o contato de algum diretor da Anvisa ao qual estaria subordinado.

"Durante todo este tempo fiquei em pé no corredor de acesso ao vestiário da Argentina e cercado por seguranças, dirigentes e comissão técnica, sendo minha proteção os policiais da PF e dois policiais militares do Estado de SP", diz trecho do relatório.   No relatório de cinco páginas, Yunes narra os fatos que antecederam a interrupção do jogo, incluindo a saga de deboches e enrolações até chegar aos argentinos. Yunes entrou sozinho no estádio, por volta de 15h, uma hora antes do jogo, escoltado por agentes da Polícia Federal. A partir daí, segundo Alex, o servidor foi 'orientado' de forma errada, propositalmente, pelas pessoas que o abordaram com crachás da partida.

Yunes só conseguiu ingressar no campo com 4 minutos de bola rolando, apoiado pelos policiais federais. Abordou o árbitro e conseguiu autuar os atletas. A Argentina retirou o time de campo, e o jogo foi suspenso. A Fifa ainda decidirá qual será o desfecho da confusão.

Pelas regras sanitárias do Brasil, os viajantes estrangeiros que tenham passado nos últimos 14 dias pelo Reino Unido, África do Sul e Índia não podem entrar no Brasil, como forma de evitar a disseminação da variante delta do coronavírus. Os quatro jogadores argentinos, Emiliano Martínez, Buendía, Cristian Romero e Giovani Lo Celso, prestaram informações falsas para não serem barrados. Além disso, no sábado, mesmo avisados sobre a quarentena no hotel, os quatro saíram para treinar.