Doença misteriosa: amostras de pele de pacientes serão coletadas nessa quinta

Equipes da SMS e Sesab confirmam 79 casos; insetos e artrópodes são as suspeitas

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 24 de outubro de 2018 às 17:27

- Atualizado há um ano

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Pacientes que apresentam sintomas como vermelhidão e coceira intensa na pele, principalmente braços e pernas, farão novos exames nessa quinta-feira (25), para identificar a doença que atingiu 79 pessoas em Salvador e Região Metropolitana - outros 11 casos são acompanhados.

É a segunda fase dos exames realizados em moradores de Patamares, onde os relatos dos sintomas surgiram. “A gente vai começar a fazer a raspagem de pele dessas pessoas que manifestaram a doença, principalmente na região atingida pelos sintomas”, destacou Jeane Magnavita, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab).

Os 79 são o número de casos confirmados na capital. Os outros 11, divulgados pela pasta, continuarão a ser monitorados, mas foram descartados para esse surto específico. Agora, todos os casos estão concentrados em Patamares.

Equipes das secretarias de Saúde do município (SMS) e da Sesab se reuniram nesta quarta-feira (24) para apresentar as novidades sobre os casos que ainda não possui um diagnóstico. A suspeita mais forte é que se trate de picadas de mosquitos ou artrópodes.

De acordo com a coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), Cristiane Cardoso, apesar das confirmações, os cerca de 40 especialistas que atuam na região apontam que o número de ocorrências deve passar de 100.

Ainda segundo ela, até agora foram feitas coleta de sangue e urina de cerca de 13 pacientes que manifestaram os sintomas. “Em casos de surto, como este, a análise da amostragem acontece, geralmente, com essa quantidade de pacientes”, explicou, se referindo ao número de exames realizados. Principais sintomas são vermelhidão na pele e coceira (Foto: Divulgação) Questionário e protocolo A Sesab ainda afirmou que a segunda etapa do questionário aplicado aos moradores do condomínio também vai ter início nessa quinta. “Eles já responderam a algumas perguntas, que foram feitas para tentarmos identificar similaridades entre os pacientes. Então, eram perguntas como ‘qual a área do condomínio que você frequentou antes de os sintomas aparecerem’, ‘qual a sensação na pele’, ‘se a pessoa ficou exposta muito tempo em áreas externas’, entre outras”, explicou Jeane.“O questionário, inicialmente, reuniu informações como as características das lesões, as regiões onde foram identificados os sintomas, e tudo isso vem sendo analisado por dermatologistas, infectologistas, biólogos, epidemiologistas e o corpo técnico da Sesab e da SMS, que vão classificar e categorizar os casos registrados. É um trabalho em conjunto”, concluiu Jeane.Um dos responsáveis pela elaboração do questionário, o infectologista e professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) de Salvador, Antônio Bandeira, falou sobre a importância de conhecer os hábitos das pessoas afetadas, para tentar achar alguma pista que indique a causa das alterações na pele.

Além disso, os governos estadual e municipal decidiram elaborar um protocolo para orientar os médicos de como proceder quando um paciente chegar com os sintomas. O material, que será distribuído entre os profissionais de saúde das redes pública e privada de toda a Bahia, também vai indicar quais exames devem ser feitos ou solicitados durante a consulta. 

Descartados A coordenadora do Cievs, Cristiane Cardoso, explicou que nem todos os casos de dermatite notificados pela SMS ou pela Sesab se encaixam nos sintomas da doença misteriosa.“A gente descartou, por exemplo, o caso de Lauro de Freitas e dos demais bairros de Salvador, porque problema de pele todo mundo tem e estes não se enquadram nas características que estamos investigando. No entanto, os órgãos vão continuar monitorando essas pessoas”, afirmou Cristiane.Jeane Magnavita, da Sesab, ressaltou que “os demais casos são isolados, são um em cada bairro, dentro daquela conta de 17 que a secretaria divulgou anteriormente, o que não se enquadra no surto da doença misteriosa”. Ainda segundo ela, a principal suspeita continua sendo picadas de insetos ou até artrópodes, como aranhas e escorpiões, mas as análises continuam em processo de execução, não sendo possível afirmar a causa certa da doença.

“É importante dizer que o estado não está fazendo uma investigação paralela ao município. O fluxo da informação é ascendente, identificada no local de ocorrência do serviço de saúde, nos postos e hospitais, públicos ou particulares, e depois repassadas às secretarias - primeiro município e depois estado. Isso quer dizer que os médicos de Salvador e Região Metropolitana já estão orientados a comunicar às autoridades em casos de sintomas semelhantes aos identificados para a doença misteriosa”, explicou Jeane.

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Armadilhas A partir das respostas dos moradores do condomínio ao questionário elaborado pela SMS e pela Sesab, foram instaladas armadilhas em algumas áreas do complexo residencial e do entorno da região. As cinco armadilhas do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) capturaram um exemplar de Flebotomínio, conhecido como mosquito-palha, e dez exemplares de maruins. Já os dois equipamentos de responsabilidade da Fiocruz resultaram na captura de insetos da classe Arachinida - ácaros.

A Prefeitura também destacou equipes do CCZ e que junto com profissionais da Fiocruz estão trabalhando na “captura de mosquitos Aedes aegypti e albopictus, principais transmissores de arbovírus no Brasil, além de outros de importância médica como carrapatos, pulgas e ácaros”, com o objetivo de investigar as causas da doença.

Por meio de nota, o Ministério da Saúde confirmou as suspeitas das secretarias e afirmou que a hipótese é que a doença seja causada por algum inseto de difícil visualização. Já a SMS confirmou que alguns moradores de Patamares manifestaram os sintomas mais de uma vez, já que as coceiras e vermelhidão têm duração entre 5 e 6 dias e o surto foi identificado no início de outubro.

Cuidados A Sesab reforçou os cuidados que devem ser tomados pela população, principalmente as residentes nas áreas atingidas pelos sintomas. “Podem ser utilizadas pomadas para diminuir a coceira, roupas que possam cobrir braços e pernas, e as pessoas devem evitar coçar em excesso, para que não tenham outras infecções e problemas relacionados à evolução das manchas”, explicou Jeane Magnavita.

De acordo com boletim informativo emitido pela SMS, o surto teve início na primeira semana de outubro, mas o primeiro caso da doença misteriosa foi registrado em no condomínio de Patamares no final de agosto. Ainda segundo o documento, dos 79 casos, 15 não souberam informar a data de início de sintomas.

Até agora, a taxa de incidência da doença misteriosa, que é o cálculo do número de pessoas residentes na região pelo número de casos notificados, é de 5,8%. O questionário foi realizado entre os dias 15 e 18 de outubro entre os moradores do conjunto residencial, sendo contatados 511 domicílios dos quais 271 atenderam a visita.

Cristiane Cardoso, do Cievs, explicou que, a partir desta quinta-feira (25), novas visitas vão ser realizadas e, em persistindo o não atendimento das equipes, as residências vão ser consideradas desocupadas e não vão fazer parte dos cálculos das análises. No entanto, os órgãos de saúde reforçaram que as investigações continuam na área afetada pelos sintomas e afirmaram que os moradores e a administração do condomínio têm colaborado com o trabalho das equipes.

Recomendações De acordo com as secretarias municipal e estadual, qualquer pessoa, profissional de saúde ou não, que identificar um paciente residente de Salvador, especialmente da área de Patamares, com quadro de dermatose sem diagnóstico conhecido, deve informar ao Cievs através do email: [email protected].

Ainda segundo o órgão, é importante que, ao notificar o caso, seja informado o quadro clínico apresentado, data de início de sintomas e contato do paciente. Já os casos identificados em outros municípios baianos devem ser comunicados à Sesab.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro.