Dois meses de salário de Neilton pagariam um ano do feminino do Vitória

Atacante recebia R$300 mil por mês quando jogava no Vitória; orçamento anual de time feminino é de R$600 mil

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 16 de março de 2019 às 06:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauricia da Matta/EC Vitória

Neste sábado (16), o time do Vitória faz a partida que marca seu retorno à Série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. O adversário da vez é o Audax-SP, no Barradão, às 17h. Durante a primeira fase, o rubro-negro terá 15 partidas contra times como Santos e Corinthians, que é o atual campeão brasileiro. Ao final da primeira fase, as oito primeiras equipes avançam para as quartas-de-final e as quatro últimas caem de divisão. 

Atualmente o time feminino do Vitória é vinculado à coordenação de Esportes Olímpicos do clube, que abrange futsal, vôlei, fut7, basquete, futevôlei, taekwondo, judô, remo, natação e vôlei de praia. As atletas têm toda a estrutura que o departamento de futebol do clube proporciona, com médicos, nutricionista, psicólogo e academia, por exemplo. Além disso, o Vitória oferece alojamento para 16 atletas que estão divididas em dois apartamentos em um prédio que fica próximo ao Barradão.

Segundo o Vitória, o investimento mensal que o clube faz para o futebol feminino é de R$ 50 mil. Por ano, cerca de R$ 600 mil saem dos cofres do clube para a modalidade existir no Barradão - algo equivalente a dois meses de salário de Neilton, jogador do futebol masculino que deixou o clube no começo desta temporada.

Coordenadora dos esportes olímpicos do clube, a ex-atleta Many Gleize conta que hoje a situação está muito melhor, mas que nem sempre foi assim. “Uma mulher como líder é bom porque é um exemplo pra elas. Ainda que em um outro esporte, se eu consegui chegar é sinal que elas também podem”, afirmou Many. Ela foi jogadora de futevôlei e pelo próprio Vitória conquistou títulos baianos.

Técnica da seleção brasileira de fut7 feminino e estudiosa do futebol, Dilma Mendes aponta que é muito importante ter uma liderança feminina à frente do projeto. Ela é uma das coordenadoras do departamento de futebol feminino da Liga de Camaçari e afirmou que a modalidade de fato tem avançado tanto na Bahia quanto em todo o país, ainda que “a passos de tartaruga”.

A treinadora explica que o apoio da legislação é fundamental, principalmente levando-se em consideração que há pouco mais de quatro décadas o futebol feminino era proibido por lei. Em 1941, o governo do então presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei 3.199, que proibia a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”. O decreto seguiu em vigor até 1979.

Em 2017, a Confederação Brasileira de Futebol passou a obrigar no Regulamento de Clubes que todos os times de Série A tivessem uma equipe de futebol feminina em seus departamentos. A regra entra em vigor a partir deste ano e os clubes que não cumprirem a obrigação podem até ser proibidos de disputar competições como Libertadores e Sul-Americana. Além do time adulto, os clubes da Série A também precisam manter um elenco feminino de base. A partir do próximo ano, os clubes da Série B também serão obrigados a cumprir as regras.

*Com supervisão do subeditor Miro Palma