Dor, rouquidão, resfriado? Veja dicas para recuperar o corpo dos excessos do Carnaval

Especialistas orientam foliões que estão com problemas após a folia

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 7 de março de 2019 às 18:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr

Como diz o ditado popular, “tudo que é bom dura pouco”. E, no caso do Carnaval, muitas vezes não é apenas a saudade que fica após os seis dias oficiais de folia. Os efeitos colaterais da festa incluem, em alguns casos, dor no corpo, rouquidão, conjuntivite e, claro, a tradicional virose que pega muita gente após o período de curtição.

Foi justamente ela que atingiu a jornalista Rafaela Oliveira, 22. A jovem se queixou de dor de garganta ainda no Furdunço, que aconteceu no domingo anterior ao Carnaval. Sem querer abrir mão da diversão, ela curtiu três dias de festa e, agora, está resfriada.

“Tive dor no corpo e na cabeça. Até agora estou me entupindo de chás para melhorar. Eu tentei dar uma descansada entre os dias, por isso saí só três, mas fui me cuidando e deu para curtir de boa”, comenta.

Já a estudante de arquitetura Tailine Figueiredo, 21, viajou durante o Carnaval, mas não conseguiu fugir do resfriado. Ela acha que o frio que enfrentou na Chapada Diamantina foi um agravante.

"Eu fiquei com febre e com a voz rouca após ir para Rio de Contas, no sábado. Acho que a temperatura facilitou eu ficar resfriada. Quando eu saía das festas, daquele calor, toda suada, me deparava com um frio que me deixava tremendo", relata.

Mesmo doente, a estudante não deixou de curtir. "Na segunda, por exemplo, eu estava com febre. Tomei uns remédios, suco de limão e consegui melhorar. Cheguei na festa só uma e meia da manhã, mas o importante é que eu não perdi o Carnaval", comemora.

Resfriado Para tranquilizar Rafaela, Tailine e muitas outras vítimas da folia, o professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e médico infectologista Robson Reis, conta que estes resfriados geralmente se curam naturalmente, de três a cinco dias após a aparição dos sintomas. De acordo com o o especialista, a principal preocupação que os pacientes e profissionais de saúde devem ter é em identificar corretamente a doença.

“Muitas vezes as pessoas dizem que é uma gripe, mas não é. Esta doença é mais grave, com sintomas mais fortes e que pode evoluir para uma pneumonia ou até mesmo levar a óbito. Outras doenças muito comuns no verão são a dengue e a chikungunya. No caso delas, caso algum paciente chegue no hospital com febre, dor de cabeça, mas sem problemas nas vias respiratórias, ele deve receber uma maior atenção”, detalha.

Dor nas pernas e coluna Já para quem terminou a folia todo quebrado, com dor no corpo, o ortopedista e presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Rogério Meira Barros, também tranquiliza. Segundo ele, a maioria dos incômodos na perna ou coluna podem ser facilmente tratados com um anti-inflamatório. Já as torções merecem uma atenção especial.

“As entorses podem ser leves, moderadas ou graves. Na mais suave, é só fazer um uso do gelo no local da lesão e tomar um anti-inflamatório. Na de grau 2 é necessária uma imobilização com a avaliação do médico. Na mais grave, existem até casos de cirurgia. Mas sempre é aconselhável procurar um ortopedista”, alerta.

Rouquidão Para aqueles que estão roucos, a recomendação é o repouso vocal, além de intensificação na hidratação e ingestão de alimentos saudáveis, como frutas e verduras. A fonoaudióloga Rafaella Góes, conta que a rouquidão após o Carnaval é comum e ocorre, normalmente, após os abusos provocados pela festa, onde as pessoas falam e cantam muito mais alto que o habitual, além de não dormirem adequadamente, beberem pouca água e se alimentarem mal.

“A ideia é que a recuperação da voz aconteça de maneira progressiva e gradativa. Se a pessoa acordou rouco hoje, amanhã tem que estar melhor. Caso isto não ocorra, é recomendável que se procure um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista. Já para evitar a perda de voz, deve-se evitar conversar em lugares barulhentos e que exijam que se fale mais alto. Outra dica é articular bastante”, explica.  Aglomeração de pessoas facilita doenças (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Por que a gente fica doente após o Carnaval? Robson Reis conta que diversas características da folia facilitam a propagação de doenças. Além da grande quantidade de foliões reunidas, que aumenta a chance de transmissão, a mudança na rotina das pessoas também é um agente facilitador.

“O Carnaval é uma verdadeira maratona. Muitas vezes as pessoas não estavam acostumadas com este esforço excessivo e o corpo acaba cobrando, baixando o sistema imunológico. As pessoas também modificam a sua alimentação e hidratação. Comem alimentos não nutritivos e bebem bebidas alcoólicas e refrigerantes, que saciam a vontade de beber água, mas não hidratam. A desregulação do sono e dormir pouco também podem ser agentes facilitadores na hora de desenvolver uma doença”, explica.

Além da mudança na rotina, o maior contato entre as pessoas faz com que seja mais fácil a transmissão dos vírus. E não é só através do beijo. De acordo com Robson, o fato de muitas mulheres se arrumarem juntas para irem à festa, por exemplo, já pode facilitar o contágio de doenças.“As mulheres, às vezes, compartilham maquiagens, uma usa o batom da outra, toalhas de rosto, também. Caso uma esteja doente, pode transferir para as demais”, alerta o infectologista. Especialista alerta que maquiagem não deve ser compartilhada (Foto: Arquivo CORREIO) Alertas A melhor maneira de evitar os efeitos colaterais do Carnaval é preparar o corpo para a folia antes da festa. Como isso não é mais possível de ser feito, é bom ficar ligado no que ainda dá para ser feito.

“Uma boa hidratação de, em média, 30ml por kg diariamente. Ou seja, se a pessoa tem 70, bebe 2 litros e 100ml de água. Além disso é importante o repouso, uma noite de sono segura para recompor as energias. Além, claro, de uma alimentação equilibrada durante o carnaval”, detalha Robson Reis.

O especialista diz ainda que é fundamental ter uma atenção especial em caso de grupos de risco, como crianças, idosos e pessoas que têm um sistema imunológico mais frágil devido a alguma doença ou medicamento.

Para essas pessoas, o infectologista recomenda que, na aparição de qualquer sintoma, o paciente seja encaminhado para uma unidade de saúde. “A chance de uma evolução da doença ou de uma complicação é maior nestas pessoas”, alerta.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela