É falsa a corrente que fala em “etapa máxima de infecção” pelo novo coronavírus até 3 de abril

Segundo especialistas, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19. E não está proibido sair de casa, o Ministério da Saúde só recomenda que as pessoas evitem ao máximo sair de casa

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Publicado em 30 de março de 2020 às 22:00

- Atualizado há um ano

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É falsa a mensagem compartilhada no WhatsApp e nas redes sociais que recomenda à população o total isolamento até o dia 3 de abril, prazo da “etapa de máxima infecção” do coronavírus. De acordo com especialistas consultados pelo Comprova, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19 e não há previsão de pico no número de infecções.

O Ministério da Saúde também disse desconhecer as informações disseminadas na mensagem viral.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos O Comprova entrou em contato com o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por especialistas das seguintes instituições: Departamento de Engenharia Industrial e Instituto Tecgraf (PUC-Rio); Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal); Divisão de Pneumologia do InCor (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo); Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro; Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino; e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Também consultamos o Ministério da Saúde, além de recomendações de quarentena em diferentes localidades e reportagens sobre projeções de evolução de casos da covid-19.

Etapa de máxima infecção? O texto que circula no WhatsApp e nas redes sociais afirma que entre os dias 23 de março e 3 de abril ocorrerá a “etapa de máxima infecção” do coronavírus e por isso a recomendação é não sair de casa “para nada”, “nem para ir comprar pão”. Isso não é verdade, de acordo com especialistas consultados pelo Comprova.

O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que faz projeções sobre a evolução no número de casos de covid-19 no País, informou, por e-mail, que não há como prever quando ocorrerá o pico da pandemia no Brasil.

Os estudos do NOIS comparam a disseminação do novo coronavírus no Brasil com a de outros países, a partir do momento em que cada nação registrou 50 casos (chamado de dia zero ou D0).

“O Brasil começou o D0 em 11 de março, ainda está no início da curva de crescimento da doença e não há como prever quando será o pico. Nem mesmo os países europeus chegaram a esse ponto”, comunicou o NOIS.

A mensagem disseminada no WhatsApp afirma ainda que a “etapa de máxima infecção” duraria duas semanas, depois das quais ocorreriam “duas semanas de calmaria” e só então, depois de mais duas semanas, os casos diminuíram.

Segundo o NOIS, essa lógica também não faz sentido. Nos Estados Unidos, 30 dias depois do “D0”, o crescimento no número de infecções pela covid-19 ainda era grande. Atualmente, o país tem o maior número de casos no mundo, superando a marca de 156 mil nesta segunda-feira, 30.

Na China, a pior fase da epidemia terminou 23 dias após o registro dos 50 casos iniciais. Passados 32 dias do “dia zero”, o número de casos diários caiu para menos de 500, e, depois de 45 dias, a menos de 100.

Na Itália, após 31 dias do “D0”, percebeu-se uma diminuição no número de novos casos, mas de acordo com o NOIS, “ainda não é possível determinar se o número de novos casos irá diminuir”.

O NOIS afirma que a evolução no número de infectados pelo coronavírus no Brasil depende das medidas tomadas para contenção da doença: “Se as medidas de isolamento e contenção propostas pelos Estados forem respeitadas, podemos considerar um crescimento da epidemia melhor do que na França”.

“Se a população seguir o que foi preconizado pelo presidente Bolsonaro, ou seja, reabertura do comércio e escolas, a trajetória da epidemia pode seguir a de países como Espanha, onde as medidas de isolamento foram tardias”, informou o grupo de estudos.

É importante destacar que as projeções sobre coronavírus mudam rapidamente; as respostas do NOIS foram enviadas ao Comprova no sábado, 27.

Nesse mesmo dia, o Grupo de Resposta à Covid-19 do Imperial College de Londres divulgou um estudo que previa 529 mil mortes no Brasil caso fossem adotadas apenas medidas de isolamento de idosos; com distanciamento social intensivo, o número de óbitos varia entre 44 mil e 206 mil, dependendo da data em que a estratégia é iniciada.

Recomendação é ‘não sair de casa nem pra comprar pão’?

O Ministério da Saúde pede que as pessoas evitem ao máximo sair de casa, principalmente as mais velhas. De acordo com a pasta, “reduzir a circulação é extremamente importante para diminuir a transmissão do coronavírus”.

Isso não quer dizer, no entanto, que é proibido sair de casa. A recomendação do Ministério é simplesmente evitar aglomerações. Ou seja, passear com o cachorro, correr sozinho, levar o filho ao parquinho — tudo isso é permitido, desde que se evite juntar pessoas e que se tome as medidas adequadas de higiene.

Ao chegar em casa, é preciso lavar as mãos, tirar os sapatos e deixar a casa bem arejada: medidas básicas de higiene.

Cada Estado brasileiro está adotando medidas próprias de quarentena, como o fechamento de serviços não essenciais. Em São Paulo, por exemplo, a quarentena vai até 7 de abril e tem como objetivo evitar aglomerações de pessoas.

Viralização Leitores do Comprova solicitaram a checagem do boato por WhatsApp (11 97795-0022). O texto também foi divulgado no Facebook, onde obteve 62 mil compartilhamentos desde o dia 27 de março.

*Esta checagem foi postada originalmente pelo Projeto Comprova, uma coalizão formada por 24 veículos de mídia, incluindo o CORREIO, a fim de identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem em sites, aplicativos de mensagens e redes sociais. Esta investigação foi conduzida por jornalistas do SBT e Estadão, e validada, através do processo de crosscheck, por três veículos: Correio do Povo, Band e BandNews FM.