‘É muito cafona querer empacotar um artista’, diz Margareth Menezes

Cantora fala sobre repercussão do seu novo álbum, Autêntica, que será lançado nesta sexta-feira (1º), no Mercado Iaô

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  • Laura Fernades

Publicado em 1 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: José de Holanda/Divulgação

A expectativa em torno do novo álbum de Margareth Menezes, Autêntica (Natura Musical), rendeu críticas e elogios à artista que disponibilizou o disco há uma semana nas plataformas digitais. Sem se abalar por não ter agradado a gregos e troianos, a cantora baiana reage com tranquilidade à repercussão dos que esperavam uma trilha de Carnaval no trabalho que será lançado nesta sexta-feira (1º), às 19h30, no Mercado Iaô, na Ribeira.

“Essa coisa de me colocar em caixinha não me diz nada. É muito cafona querer empacotar um artista”, defende Margareth, que apresenta uma variedade rítmica no disco produzido por Tito Oliveira, indo do afropop à Bossa Nova, passando por world music, axé, samba-reggae e pop romântico. “Às vezes, a pessoa vem buscar referência no meu trabalho que é idealizada por ela. Esse pacote não me cabe. Fizemos uma linguagem ampla mesmo. Sou uma artista contemporânea. Venho de um lugar que regurgita todo tipo de música”, enfatiza.

Onze anos após o lançamento de seu último trabalho, Margareth está de volta com seis músicas autorais inéditas, além de outras sete de artistas como Gilberto Gil, Luedji Luna, Flavia Wenceslau, Jorge Vercillo e Carlinhos Brown. “A expectativa alheia eu respeito, mas eu sou isso aí. Esse disco me retrata na variedade sonora”, reforça.

Presente no evento de canonização de Irmã Dulce, Margareth também rebate as críticas em torno de sua apresentação no evento, que teria sido “para cadeiras vazias”. “Nossa apresentação precedia a canonização, como previsto. As pessoas precisam parar de julgar, diminuir, isso é muito feito. Precisamos ter mais simplicidade. Não ia acontecer uma superprodução, a coisa mais importante era homenagear a santa”, enfatiza.

Feminina No show, que tem direção artística de Vavá Botelho, Margareth apresenta as novidades e canta Capim Guiné, do BaianaSystem. Por falar no grupo, o guitarrista Roberto Barreto empresta sua guitarra baiana para a dançante Vento Sã, no disco, que também tem participação do percussionista Luizinho do Gêge. Larissa Luz é outra convidada do álbum, além da cantora baiana Nabiyah Be, filha de Jimmy Cliff e atriz do filme Pantera Negra.

A força feminina está na maior parte das composições, seja naquelas feitas por mulheres, ou até mesmo por homens, como a de Gil. Composta para Margareth cantar no Percpan de 15 anos atrás, Paraguassu foi resgatada pelo maestro Alfredo Moura, que fez o arranjo. A letra, que fala da “negra flor tupinambá”, é dedicada à mãe da cantora.

“Nossa família tem raiz tupinambá. Fiz esse disco também pensando em minha mãe, homenageando ela por tudo o que fez por mim. Tem um ano que ela faleceu, então essa música reapareceu em um momento perfeito, uma personagem importante nesse momento de falar da mulher”, destaca a artista que faz valoriza o poder feminino.

Em Mulher da Minha Vida, por exemplo, Margareth canta “Meu corpo, minhas regras, tá pensando o quê?/Tá claro pra você, ou tem que desenhar?/Mulher, meu lugar é onde eu quiser/(...) Não sou uma boneca pra você comprar/(...) Não sou um sanduíche pra você comer”, diz um trecho da música dançante que lembra Jamiroquai.

Falar sobre esses temas, sobre as observações de uma mulher negra, é importante para mostrar outra narrativa, defende a artista. “Temos que tirar a ideia falsa de que a história quer reduzir a pessoa negra à escravidão”, justifica, apesar de não negar as consequências do racismo. “As pessoas foram escravizadas, tiradas de sua dignidade e isso reflete na sociedade de hoje, que não tem vergonha de expressar o racismo. Há muito a ser feito pra sair dessa pequeneza”, reconhece.

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Serviço O quê: Margareth Menezes lança o disco Autêntica Quando: Sexta-feira (1º), às 19h30 Onde: Mercado Iaô (Praça Conselheiro Nabuco, 33, Ribeira) Ingresso: R$ 20 | R$ 10. Vendas: no Sympla e no local, na hora do show