É primavera: mercado de flores movimenta mais de R$ 290 milhões na Bahia

Produção de flores gera cerca de 10 mil empregos diretos no estado

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  • Georgina Maynart

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: A comerciante Nalva Borges diz que a astromélia está ganhando a preferência dos baianos (foto: Georgina Maynart)

Uma explosão de cores, formas e cheiros. Elas estão entre nós durante todo o ano, mas na primavera exibem tons mais intensos, florescem com maior firmeza e aceleram a reprodução. Não é apenas uma sensação, teoria científica ou efeito da síndrome do calendário. Antes mesmo da chegada oficial da primavera, prevista para as 22 horas e 54 minutos de hoje (22/9), as flores já aquecem o ambiente, agitam a produção no campo, movimentam o mercado e geram empregos. Em Salvador, na filial baiana da empresa Holambelo, a maior distribuidora de flores do país, o vai-e-vem dos carregadores é grande. Os funcionários se apressam para repor as prateleiras que tinham sido preenchidas duas horas antes. Na véspera do início da estação das flores, o movimento já é 20% maior.

E olha que o baiano nem parece ser tão romântico assim. O gasto com flores no estado é de cerca de R$ 15 por pessoa por ano. A media nacional é de R$ 26. Ainda assim, produção e venda de flores e plantas ornamentais movimentam mais de R$ 290 milhões por ano no estado, gerando cerca de 10 mil empregos diretos. 

As flores vendidas na filial da Holambelo são trazidas de Holambra, cidade paulista que se orgulha de ser a maior produtora de flores do país. “São três caminhões que chegam por semana. Cada um vem carregado com 45 carrinhos cheios de flores. Tem gente que chega antes mesmo dos portões abrirem”, conta Adilson Santos coordenador operacional da loja.  A empresa responde por mais de 90% das flores comercializadas no estado. Os preços das flores variam de R$ 15 a R$ 100.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura - Ibraflor, a Bahia é responsável por apenas 2% da produção nacional. Mas apesar do baixo volume, produtores rurais, floriculturas, paisagistas e decoradores, garantem à Bahia a oitava posição no ranking nacional de cultivo de flores e plantas ornamentais. A Bahia, apesar de longe de alcançar os principais produtores do país, se destaca em variedades das flores. Girassóis, rosas, orquídeas, gérberas, flores tropicais, e até rosas do deserto podem ser encontradas nos campos baianos.  Um estudo do Sebrae indicou que apesar das condições favoráveis para expansão da floricultura no Estado, a cadeia produtiva interna ainda enfrenta problemas como a comercialização, falta de assistência técnica e treinamento da maõ de obra. Junta-se a isso as variações climáticas que atingiram muitos polos de produção de flores nos últimos anos e tem-se um retrato dos garagalos do setor no estado.

Em termos nacionais, o setor de produção e neda de flores e plantas ornamentais vem registrando crescimento de 8% a 9% ao ano. Os números são da Ibraflor, que afirma que em 2017 as flores movimentaram mais de R$ 7,5 bilhões no país, e que projeções indicam que as vendas podem atingir R$ 7,9 bilhões neste ano. Ainda segundo dados do Instituto, a Bahia representa 4% do faturamento geral do mercado de flores no Brasil. Daí, pode-se aferir que a cadeia produtiva da floricultura gera cerca de R$ 290 milhões  por ano no estado. Produção de orquídeas é destaque na Bahia (foto: Ednildo Torres)

Demanda e oferta

Em termos de procura, as rosas ainda são as mais procuradas pelos baianos, porém uma outra flor tem crescido no gosto dos consumidores. É a astromélia. Em muitos pontos de venda da capital baiana ela já se tornou o carro-chefe. “Ela é mais duradoura, pode permanecer bonita por 5 a 8 dias se souber cuidar”, diz a comerciante Nalva Cristina Borges, que mantém um box de venda de flores e produtos para paisagismo na Ceasinha do Rio Vermelho. A unidade de astromélia custa R$ 4, mesmo preço das rosas.

Do lado da produção, as orquídeas estão entre as flores de maior destaque na Bahia. Em plena Região Metropolitana, a menos de seis quilômetros das praias do Litoral Norte, o Orquidário Bahia abriga mais de 80 mil orquídeas de mais de 100 espécies do Brasil e de outros países. Elas ocupam todos os espaços. Brotam nas árvores, penduradas em pedaços de madeira, em bambus, à céu aberto ou nas centenas de prateleiras erguidas em três imensas estufas.

O orquidário foi criado pelo casal Ednildo e Silvia Torres. Há mais de vinte anos o professor universitário e a dentista se dedicam ao cultivo de orquídeas. Visitar o local é uma forma de conhecer de perto os segredos das flores que sempre foram as preferidas de reis e rainhas. “A Catiléia, por exemplo, é uma planta belíssima, tem durabilidade de 3 a 4 semanas, e uma fragância fenomenal, mais acentuada”, pontua o professor enquanto mostra um detalhe da flor. O casal de orquidófilos cultiva principalmente espécies da Bahia. O orquidário abriga ainda variedades vindas de países como a Tailândia, maior produtor de orquídeas do mundo. 

Este ano, a expectativa é de um incremento de 10% nas vendas durante a primavera. “O consumo aumenta de agosto a setembro. Nos outros anos chegamos a registrar um crescimento de até 60% na procura. Mas este ano, por causa da crise econômica, estamos sentindo o consumidor mais cauteloso”, diz Ednildo. Cada flor pode durar de 1 a 4 meses. Os preços variam de R$ 15 a 100 reais. A phalaenopsis é uma das mais procuradas. Fácil de identificar: em grego, o nome significa semelhante a borboleta. “A phalaenopsis é muito bela. Só floresce uma vez por ano, mas ela tem cores variadas e pode durar até 120 dias”, explica o especialista.

Flores dos trópicos

Elas são consideradas exóticas e durante muito tempo foram subestimadas diante das outras flores. Mas vem conquistando admiradores no exigente mercado da decoração. São as flores tropicais. Comuns nas áreas de Mata Atlântica, entre os litorais Sul e Norte da Bahia, elas possuem nomes difíceis de se pronunciar, como a “tapeinóquilos”. Por isso ganharam apelidos ao longo do tempo. A Helicônia, por exemplo, em muitos lugares é chamada de bananeira do mato ou caeté. Outras já se tornaram populares entre os consumidores. É o caso dos antúrios, das alpíneas e do bastão do imperador, uma espécie de gengibre que possui flores chamativas e textura de porcelana. 

No Sítio TropyFlora, entre os municípios de Simões Filho e de Mata de São João, as flores tropicais são cultivadas em grande escala, a céu aberto e em estufas. O negócio começou há 16 anos, e se expandiu estimulado pelo interesse dos consumidores pelas flores nativas. A grande vantagem deste tipo de flor é a durabilidade, que pode variar de 7 a 15 dias. O preço médio é de R$ 14 para o ramo com quatro unidades.

Este ano, a novidade tem sido a procura pelas folhas. Isso mesmo, as folhas têm despertado o gosto de muita gente. “Este ano nós triplicamos o volume de faturamento vendendo apenas folhagens. É a forte tendência do verde na decoração. Tem folhas que duram até 3 meses. A mais queridinha dos decoradores é a Costela de Adão. Vendemos em média trezentas folhas por semana”, diz a empresária Tatiana Simoni. O pacote de 5 a 10 folhas varia de R$ 6 a R$ 20, e está influenciando no rumo dos negócios. "Os decoradores começaram a procurar e a busca só tem crescido. Estamos alterando o escopo da loja e oferecendo mais variedade de cores e formatos”, acrescenta Tatiana, que faz parte da segunda geração da família a cultivar flores tropicais.

A espera do sol

Como o próprio nome sugere, as flores tropicais são naturais das áreas entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, na faixa que vai da região do Caribe até a América do Sul. São zonas de altas temperaturas, onde as flores precisam de grande incidência de sol e calor para florescer. A primavera marca o início da escalada do sol que vai atingir o ponto máximo no verão. Mas este ano o ritmo está mais lento. Os produtores rurais afirmam que as baixas temperaturas, registradas neste inverno, estão atrasando o sistema de desenvolvimento das flores.

“Nos outros anos, nesta época elas já estariam no início do auge da produção. Mas a gente ainda não começou a sentir o incremento da primavera e as flores ainda estão começando a aflorar. Das mais de trinta espécies plantadas no sítio, e cerca de cem variedades de flores, apenas duas estão em pico de produção. Todas as outras estão a aquecer. O calor tem que chegar na raiz. Quando isso acontecer elas vão dobrar de produção”, pondera Tatiana. “É como se as flores tivessem um relógio natural. Se a primavera perde o voo, atrasa tudo”, acrescenta a empresária.

Já as orquídeas não sofrem com temperaturas baixas. “No litoral, muitas vezes, a temperatura alcança 27 graus durante o dia e 18 graus à noite. Esta variação favorece a indução do botão floral”, explica Ednildo Torres. Produtor de flores em Maracás, Rone Botelho colhe 18 mil dúzias de rosas por mês (foto: acervo pessoal)

Cidade das flores

O nome Maracás não significa flor, mas bem poderia ser. A cidade, que tem nome de uma espécie de chocalho indígena, viu chacoalhar a economia quando os primeiros moradores começaram a cultivar flores. O município, que nos tempos coloniais dependia exclusivamente da mineração, passou a ser conhecido pelo cultivo de rosas nos últimos 15 anos.

Produtor de flores há mais de 6 anos na região, Rone Botelho colhe cerca de 18 mil dúzias de rosas por mês. São mais de 216 mil dúzias por ano. “O que estimula a produção aqui é o clima. A rosa gosta de temperatura amena, menos quente do que na caatinga. Em Maracás, durante a madrugada os termômetros marcam entre 8 a 14 graus. Já durante o dia, chega ao máximo de 28 graus”, explica Rone. O agricultor também produz gérberas, tangos e folhagens ornamentais e emprega 35 pessoas. O produtor diz que os custos para manter as plantações aumentaram cerca de 27% este ano, mas ainda não foram repassados para os compradores. O pacote com 20 unidades varia de R$ 7 a R$ 25.

A produção é irrigada e dura o ano todo. Com a chegada da primavera, as flores se espalham não apenas pelos roseirais, mas pelas ruas e praças da cidade. Dados do mais recente censo agropecuário do IBGE, divulgado este ano, mostram que dos 361 produtores rurais baianos que informaram vender flores, 41 estão em Maracás. É o município da Bahia com maior número de pessoas trabalhando no setor. Na Chapada Diamantina se destaca ainda Morro do Chapéu, com 25 estabelecimentos. Os outros produtores se concentram no Sudoeste, no Sul da Bahia, do Baixo Sul, e na Região Metropolitana de Salvador. Muitos são pequenos produtores e ocupam menos de dois hectares com a produção.