Editorial: Sob domínio do terror

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  • Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 09:24

- Atualizado há um ano

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O estudante Jonas Ribeiro dos Santos Neto, de 17 anos, se tornou símbolo do domínio imposto por facções do crime organizado sobre comunidades periféricas de Salvador, onde o terror avança sem freios. Brutalmente assassinado, o jovem que sonhava em ser boxeador profissional foi retirado à força de um ônibus por bandidos, em 15 de dezembro, no Bosque das Bromélias. Seu corpo só foi encontrado no último dia 5, no porta-malas de um carro roubado e abandonado perto da casa onde morava, no Planeta dos Macacos. 

Os sinais de tortura e os ferimentos deixados por tiros e facadas demonstravam o tamanho da crueldade a que foi submetido. Sem qualquer histórico ou envolvimento com crimes, Jonas  foi morto, provavelmente, apenas por residir em uma área controlada pela facção rival a dos seus algozes. Os dedos arrancados do estudante seriam uma forma de deixar no corpo a “marca” do Bonde do Maluco, grupo que domina o Bosque das Bromélias e que ganhou notoriedade através da sigla BDM. 

Como revelou o CORREIO na edição da última quinta-feira, o conjunto habitacional também simboliza a Salvador em que os criminosos agem livremente, sem qualquer tipo de repressão efetiva por parte dos órgãos de Segurança Pública. Lançado com pompa em dezembro de 2010, em um dos últimos compromissos de Luiz Inácio Lula da Silva  (PT) como presidente da República, o Bosque das Bromélias virou território sob domínio do crime organizado nesse curto espaço de tempo. 

Lá, como em muitas outras comunidades da capital baiana, o Estado não existe. Quem dita as regras são criminosos. Invadem casas, atiram em pessoas nas ruas, criam cemitérios clandestinos e matam aqueles que atravessam seus caminhos, seja por dívida, por quebrarem a “lei do silêncio” do tráfico ou, no caso de Jonas, por pertencerem ao bairro dos seus inimigos. O mesmo ocorre com o favelizado Planeta dos Macacos, onde outra facção, paradoxalmente batizada de  Comando da Paz (CP), é ao mesmo tempo juiz e verdugo.

O avanço desse reinado do terror coincide com o crescimento sistemático das estatísticas de mortes violentas e crimes de todo tipo na Bahia durante os últimos dez anos, como apontaram estudos elaborados por instituições respeitadas e baseados em dados oficiais, embora o governo do estado, com frequência, se apresse na tentativa de desqualificá-los. 

O sangue que corre nas ruas de bairros situados no Subúrbio, às margens da BR-324 ou até mesmo em ocupações desordenadas que surgiram no coração de bairros tradicionais dispensa negativas oficiais para provar que ele existe e tomou uma proporção nunca vista na história da cidade. Culpar as drogas e a desagregação de famílias pelo tamanho assustador da violência na cidade, como certas autoridades volta e meia costumam pregar, serve tão somente para escamotear uma verdade que não se pode esconder.

Há muito este jornal alerta o governo e a cúpula da Segurança Pública sobre a urgência de uma política efetiva de combate às facções do crime organizado. O problema não é fácil de resolver, isso é fato, e depende também do envolvimento de todos, da Justiça ao empresariado, das entidades da sociedade civil organizada ao Legislativo, das administrações municipais aos órgãos federais. Mas, sobretudo, é uma tarefa que, em um primeiro momento, cabe a quem tem o dever constituicional de zelar pela vida dos cidadãos de bem em seus estados. 

A demora em reagir ao domínio do terror sobre comunidades carentes de Salvador fez com que a criminalidade também tomasse o controle da periferia de cidades do interior e da Região Metropolitana. Não são poucos os bairros subjugados por bandidos em municípios com Itabuna, Feira de Santana, Camaçari, Lauro de Freitas e Porto Seguro, só para ficar em alguns  de uma grande lista. Se algo não for feito agora, veremos cada vez mais vítimas como Jonas.