'Ela foi embora, tá doendo muito', diz pai de vítima de acidente na Paralela

Ana Carolina deixa filho de três meses; marido, que sobreviveu ao acidente, esteve presente no enterro

  • Foto do(a) author(a) Raquel Saraiva
  • Raquel Saraiva

Publicado em 4 de abril de 2018 às 22:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A grande e unida família da assistente social Ana Carolina Andrade, 32 anos, se reuniu pela segunda vez em um funeral. A primeira foi há alguns anos, no enterro do patriarca da família, avô de Ana Carolina. Cerca de 150 pessoas estiveram presentes na tarde desta quarta (4) no cemitério Bosque da Paz, no bairro de São Rafael, para se despedir da assistente social. Menos a avó materna, de 83 anos, que ainda não sabe que a neta faleceu. "Domingo ela tava com a gente. Mainha [a avó] tá doentinha, precisa tanto dela..." lamentou uma prima, lembrando que Carol não pensava duas vezes antes de ajudar a avó ou se reunir com a família. Velório reuniu cerca de 150 familiares e amigos de Ana Carolina (Foto: Raquel Saraiva/CORREIO) Ana Carolina morreu na última terça (3), após um acidente de carro na avenida Paralela. O guard rail localizado na margem da via atravessou todo o veículo atingindo a motorista, que morreu no local. O marido dela, Leandro Nery, 36, e o filho de Carol, o bebê Caio, de três meses, estavam no carro e tiveram pequenas escoriações. "Ela deixou o bebê, a raiz dela", disse um amigo que não quis se identificar. Eliana Santos, 36, lembra que a amiga de infância era muito alegre. "A gente era vizinha desde pequena, crescemos juntas, éramos como parentes", disse emocionada. Eliana diz que esteve com Ana Carolina pela última vez há oito dias. "Ela tava dando banho de sol no neném". A amiga de infância diz que Carol era muito amada. Amigos da Ilha de Maré, onde Ana Carolina passou a infância, do bairro da Vista Alegre, onde ela cresceu, colegas da Fundação José Carvalho, onde trabalhava com crianças em situação de vulnerabilidade, irmãos da igreja evangélica que frequentava desde criança, além de familiares e outros conhecidos prestaram as últimas homenagens a ‘Carol’, como ela era chamada. Luciano, 29 anos, veio do Maranhão, onde mora, para o enterro da irmã. Com semblante abatido, ele não saiu do lado do pai, Nivaldo Soares, que estava muito emocionado. "Ela foi embora, tá doendo muito", disse o pai de Carol a um amigo. Ao seu lado, a mãe de Carol lamentava. “Minha filha foi embora”, disse Ana Lucia Andrade. O tio de Carol, Ranildo Brito, 46, disse que esteve com a sobrinha pela última vez no sábado. "A família se reuniu toda na Sexta-Feira Santa. No sábado, nos encontramos de novo. Ela era uma menina muito boa".  Ranildo disse que depois que se formou a sobrinha disse, com um sorriso, a ele: "Agora vou viver minha vida", ele lembra, ressaltando que ela era "pé no chão" e “muito familia”. Com cerca de 30 primos da família materna, Carol foi a primeira neta da família materna a se graduar em uma universidade. Recentemente ela se casou com Nery e, em janeiro, tiveram o primeiro filho, Caio. "Ela deixou o bebê, a raiz dela", disse um amigo no velório (foto: Raquel Saraiva/CORREIO) "Tava grávida da última vez que a vi. Foi em junho, ela chamou a família toda pra conhecer o apartamento deles. Estava muito ajeitadinho, família nova, estava começando”, disse Leonardo Andrade, 30, primo de Carol. Ele veio da Paraíba, onde mora, para dar adeus à prima e abraçar a família. “Nós [primos] crescemos juntos, fomos criados juntos. É todo mundo irmão, nossas tias também são nossas mães”, ele conta. Nery, marido de Carol, chegou por volta das 15h40 ao velório, ainda muito abalado e chorando muito. Usando colar cervical e com atadura na perna, ele teve alta do Hospital São Rafael hoje. O filho do casal, Caio, continua internado e seu quadro de saúde é estável. Com muita dificuldade, Nery só saiu da cadeira de rodas que estava para dar um beijo na testa da esposa. Comovido, se ajoelhou aos pés do caixão. Ele não falou nada durante o velório, chorou e foi amparado por uma tia da esposa. O pastor da igreja que Carol frequentava conduziu a cerimônia de despedida no cemitério. Nery permaneceu na cadeira de rodas, ao lado do caixão.  Três músicas religiosas foram cantadas pelos presentes. As vozes ficavam embargadas entre um verso e outro, como quando foi cantado "As lágrimas falam, Deus ouvirá". Depois das homenagens, os amigos, colegas e familiares se despediram de Carol com rosas brancas e em silêncio. “Tem um tio meu que todo dia de manhã manda mensagem bíblica no grupo da família, e todo mundo responde com amém e tal. Ela respondeu com as mãozinhas pra cima [um emoji]. Essa foi a última mensagem do grupo. Ninguém falou mais nada lá até agora”, conta Leonardo.