'Ele jogou whisky em meu cabelo e ameaçou atear fogo', diz designer vítima de agressão

Mulher foi agredida por ex-namorado neste domingo (24) em Salvador

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 04:00

- Atualizado há um ano

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Mais um caso de agressão à mulher ganhou repercussão por meio das redes sociais. Desta vez, a vítima foi a designer Silvia da Cunha Pacheco, 50 anos, que denunciou os ataques sofridos pelo ex-namorado, o engenheiro mecânico Carlos Renato Barreto Fernandes da Rosa, 50, com quem vivia em união estável desde maio de 2015.

Além de divulgar o caso em seu Instagram, ela também registrou a ocorrência na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Brotas (Deam) no início da noite de domingo e, no mesmo dia, conseguiu na Justiça uma medida protetiva contra o agressor, expedida pela juíza plantonista Bárbara Correia de Araújo Bastos.

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Muitos me avisaram que meu ex namorado iria chegar ao ponto de me agredir fisicamente de novo, pois quem faz uma, duas vezes, não para por aí. Ontem EU fui vítima da violência doméstica. Foram horas tentando me desvencilhar das agressões dele. Estou com o corpo inteiro dolorido principalmente pq ele subiu em cima de mim e me deu uma chave de braço p/ pegar o meu celular que possuía todas as provas que ele vinha me agredindo, e ele conseguiu e o jogou pela janela. Tentei me esconder em todos os cômodos do apt, mas ele conseguia forçar a entrada e por um bom tempo, exaustivamente tentei me esquivar p/ não sair mais machucada. Além disso, ele derramou whisky em mim e veio com uma caixa de fósforo, simmmm ele ia tacar fogo no meu corpo, porém durante o tempo inteiro eu gritei por socorro e os vizinhos assustados nas janelas e filmando TUDO, chamaram a polícia e as agressões só pararam quando um vizinho correu até o meu apartamento apenas p/ garantir que o meu ex namorado não fizesse mais nada e logo em seguida a polícia chegou. Ontem finalmente tive coragem de denunciá-lo na Delegacia da mulher em Salvador, mas o trauma é muito dolorido. Estou com dor no corpo inteiro e sem alma. Ontem ainda, ele não satisfeito, deixou mensagens ameaçadoras no celular do meu filho, dizendo que vai prejudicá-lo no emprego que ele acabou de conquistar, pois conhece pessoas que trabalha na empresa que o contratou. O que meu filho tem a ver com a escolha errada da mãe???? Meu filho depois de ter participado de um longo processo, foi selecionado entre 8000 candidatos para preencher uma das vagas desta gigantesca multinational e o meu ex simplesmente acha que pode tudo, inclusive me agredir moralmente e fisicamente por 3 anos e 9 meses...o nome dele? Carlos Renato Barreto Fernandes da Rosa. #violenciacontramulher #violenciadomestica #agressões #fuivitima #dor #sofrimento #doinaalma #feridas #delegaciadamulher #stopviolenceagainstwomen #pain #suffering #hurted #advogado #relacionamentoabusivo

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Esse foi o estado do apartamento que meu ex namorado deixou. Arrombou a porta mesmo depois que tocou a campainha e eu já estava a caminho p/ abri-la. Ele jogou contra a parede 90% dos meus objetos de decoração, jogou pela janela algumas peças da minha confecção e na tentativa de fugir dele, ele ainda arrombou a porta do quarto de hóspedes. O Tribunal de Justiça da Bahia já deferiu hoje medidas protetivas para que ele não se aproxime mais de mim, porém passei a madrugada acordada aterrorizada com a possibilidade que ele arrombasse novamente a porta do apt. Acabei de descobrir que ele cancelou a linha de celular que tinha de Salvador e era o número que eu havia fornecido à justiça. Não me surpreenderá se ele pedir p/ cortar a energia também. O aluguel e as contas estavam no nome dele. Não conheço muita gente aqui em Salvador, basicamente as minhas colegas de faculdade que na verdade eu não tinha tanta intimidade. Vivíamos isolados aqui. Mas, graças a Deus eu tenho recebido bastante apoio e vou superar tudo isso, mas que é humilhante e penoso, é. Não como desde ontem e só choro. #violenciacontramulher #violenciadomestica #agressões #fuivitima #dor #sofrimento #doinaalma #feridas #delegaciadamulher #stopviolenceagainstwomen #pain #suffering #hurted #advogado #relacionamentoabusivo #prefeituradesalvador

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De acordo com a magistrada, Carlos Renato, que já foi notificado da medida no hotel onde está hospedado, no Stiep, está proibido de retornar à residência onde vivia com Silvia, no bairro da Pituba, além de ter de manter distância de 500 metros da vítima. A medida também veta qualquer tipo de contato com ela ou familiares.

Leia também: Apenas 30% dos casos de violência contra a mulher na Bahia têm medida protetiva

Término e agressão O casal se mudou para Salvador em dezembro de 2017, em razão de atividades profissionais de Renato, que é natural do Rio de Janeiro e morava em Brasília, onde conheceu Silvia. A vítima contou na ocorrência que o relacionamento sempre foi abusivo e que o ex-namorado era “alcoólatra e agressivo”.

Ainda segundo Silvia, ela foi expulsa de casa por 13 vezes, desde que se mudaram para Salvador, após discussões com o acusado, além de ser agredida moralmente com frequência.

Na Deam, Silvia relatou à delegada Larissa Lage de Barros que, no sábado (23), após 14 idas e vindas, decidiu terminar o relacionamento. Eles haviam combinado que, no dia seguinte, o engenheiro retornaria ao apartamento onde moravam para buscar seus pertences e resolver detalhes sobre a separação.

A briga, segundo a mulher, começou antes mesmo de se encontrarem pessoalmente, através do WhatsApp. “Ele me humilhou, me chamando de piranha e puta”, disse ela.

No mesmo dia, após a discussão por celular, por volta das 17h, Carlos Renato chegou ao apartamento da vítima à tarde e tocou a campainha. “Eu estava indo abrir, quando ele arrombou a porta”, contou Silvia. Ainda segundo ela, o acusado estava "visivelmente alterado" e começou a quebrar os objetos de decoração da residência. Quando ela tentou filmar a ação, ele teria arremessado o celular da vítima pela janela.

Neste momento, de acordo com Silvia, ela começou a gritar por socorro e foi ouvida pelos vizinhos, que chamaram a polícia. Quando percebeu a movimentação dos outros moradores, Carlos Renato jogou whisky no cabelo da vítima e ameaçou atear fogo.“Quando os vizinhos chegaram, meu cabelo estava pingando de tanto whisky”, afirmou.“Muitos me avisaram que meu ex-namorado iria chegar ao ponto de me agredir fisicamente de novo, pois quem faz uma, duas vezes, não para por aí”, escreveu Silvia nas redes sociais.

A vítima ainda contou que foram horas em luta corporal com o agressor e que ele, além de subir em cima dela, lhe aplicou um golpe conhecido como chave de braço.“Estou com dor no corpo inteiro e sem alma”, disse a mulher.Ciúme Após registrar as agressões na Deam de Brotas, no domingo (24), Carlos Renato foi ouvido pela delegada e afirmou que o relacionamento do casal estava em crise há um mês, por Sílvia ser ciumenta.“Ela dizia que eu era amante da dona do apartamento, além de vasculhar meu perfil em uma rede social”, disse ele.Em defesa, o acusado também declarou que só arrombou a porta porque a ex-namorada se recusou a abrir e ele precisava pegar seus pertences. Quanto aos objetos quebrados, Carlos Renato afirmou que “ficou com raiva e jogou eventualmente uma coisa ou outra na parede”.

O engenheiro, que confessou ter bebido duas cervejas antes do fato, além de fazer uso de medicamentos para ansiedade e depressão, disse que, apesar de ter jogado whisky no cabelo da vítima, em nenhum momento ameaçou atear fogo, já que não tinha fósforo. Ele também negou ter agredido Silvia outras vezes.

Neste domingo (24), a juíza plantonista do Tribunal de Justiça da Bahia, Bárbara Correia de Araújo Bastos, expediu medida protetiva de urgência contra Carlos Renato. Segundo ela, o instrumento terá eficácia até que as investigações do caso sejam finalizadas.

“Concedo às Medidas Protetivas o prazo de 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da intimação do Requerido, quando, então, se terá maiores elementos para complementação, revogação ou, sendo necessária, prorrogação”, escreveu. Como justificativa, a juíza destacou que, caso contrário, “a demora na decisão pode trazer danos de difícil reparação à parte requerente”.

Na denúncia, Silvia Pacheco relatou, também, que, além do comportamento agressivo, o ex-namorado faz uso constante de bebida alcoólica, e outras substâncias que “agem diretamente no centro nervoso do cérebro, de maneira a aumentar a agressividade e suprimir os mecanismos de autocensura do indivíduo, potencializando a violência praticada”.

Homicídio culposo Carlos Renato também responde a uma ação penal no Tribunal de Justiça do Distrito Federal por homicídio no trânsito. De acordo com o processo, em 2015, ele se envolveu em um acidente, que acabou resultando na morte de uma pedestre em Brasília.

Após o pagamento de 50 salários mínimos como fiança, a juíza decretou a liberdade provisória do acusado, que, no dia do acidente, estava embriagado. Em depoimento nos autos, ele afirmou que ingeriu três taças de vinho antes de dirigir e que acabou sendo fechado por um veículo na pista, o que resultou na morte da pedestre e no ferimento de outras vítimas, que estavam no carro que o acusado bateu.

Como ficou proibido de se ausentar do Distrito Federal sem autorização judicial, Carlos Roberto fez a solicitação de mudança para Salvador, concedida em 13 de junho de 2017.

Atualmente, o processo está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), após recurso da defesa do engenheiro.

Na época do acidente, uma das testemunhas de defesa de Carlos Roberto foi a própria Silvia, que afirmou conhecer o réu desde que tinham 16 anos. “A gente tinha marcado de ir ao cinema, mas ele me enviou uma mensagem contando do acidente”, disse ela em depoimento à Justiça do Distrito Federal.

O caso ainda continua pendente de julgamento, o que só pode acontecer após a apreciação do recurso pelo STJ. O tribunal, no entanto, aguarda manifestação do Ministério Público Federal (MPF) para prosseguir com o caso. Além da ação penal, por causa do mesmo acidente, Carlos respondeu a ações de indenização por danos morais e materiais contra as vítimas - as pessoas do carro que teria dado uma fechada nele, que ficaram feridas.

O CORREIO tentou entrar em contato com Carlos Roberto em três números de telefone diferentes, dois com código 61 e outro com DDD 71, mas não obteve retorno. A equipe também tentou entrar em contato com o hotel onde o acusado está hospedado, mas ele não retornou às ligações.

Veja onde buscar ajuda em casos de violência doméstica:

Cedap (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa) – Atendimento médico, odontológico, farmacêutico e psicossocial a pessoas vivendo com HIV/AIDS. Endereço: Rua Comendador José Alves Ferreira, nº240 – Fazenda Garcia. Telefone: 3116-8888. 

Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan) – Oferece atendimento jurídico e psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência. Endereço: Rua Gregório de Matos, nº 51, 2º andar – Pelourinho. Telefone: 3321-1543/5196. 

Cras (Centro de Referência de Assistência Social) – Atende famílias em situação de vulnerabilidade social. Telefone: 3115-9917 (Coordenação estadual) e 3202-2300 (Coordenação municipal) 

Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) – Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (Coordenação Estadual) e 3176-4754 (Coordenação Municipal) 

Creasi (Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso) – Oferece atendimento psicoterapêutico e de reabilitação a idosos. Endereço: Avenida ACM, s/n, Centro de Atenção à Saúde (Cas), Edifício Professor Doutor José Maria de Magalhães Neto – Iguatemi. Telefone: 3270-5730/5750. 

CRLV (Centro de Referência Loreta Valadares) – Promove atenção à mulher em situação de violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº1 – Barris, em frente a Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268. 

Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) – Em Salvador, são duas: uma em Brotas, outra em Periperi. São delegacias que recebem denúncias de violência contra a mulher, a partir da Lei Marinha da Penha. 

Deam Brotas – Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000. 

Deam Periperi – Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217. 

Deati (Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso) – Responsável por apurar denúncias de violência contra pessoas idosas. Endereço: Rua do Salete, nº 19 – Barris. Telefone: 3117-6080. 

Derca (Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente) Endereço: Rua Agripino Dórea, nº26 – Pitangueiras de Brotas. Telefone: 3116-2153. 

Delegacias Territoriais – São as delegacias de cada Área Integrada de Segurança Pública. Segundo a Polícia Civil, os estupros que não são cometidos em contextos domésticos devem ser registrados nessas unidades. Em Salvador, existem 16 (http://www.policiacivil.ba.gov.br/capital.html). 

Disque Denúncia – Serviços de denúncia que funcionam 24 horas por dia. No caso de crianças e adolescentes, o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos oferece o Disque 100. Já as mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria de Políticas Para Mulheres da Presidência da República. Fundação Cidade Mãe – Órgão municipal, presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas. 

Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424. 

Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia) – Maternidade localizada em Salvador que é referência no serviço de aborto legal no estado. Endereço: Rua Teixeira Barros, nº 72 – Brotas. Telefone: 3116-5215/5216. 

Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935. 

Secretaria Estadual de Políticas Para Mulheres Endereço: Alameda dos Eucaliptos, nº 137 – Caminho das Árvores. Telefone: 3117-2815/2816. 

SPM (Superintendência Especial de Políticas para as Mulheres de Salvador) – Endereço: Avenida Sete de Setembro, Edifício Adolpho Basbaum, nº 202, 4º andar, Ladeira de São Bento. Telefone: 2108-7300. 

Serviço Viver – Serviço de atenção a pessoas em situação de violência sexual. Oferece atendimento social, médico, psicológico e acompanhamento jurídico às vítimas de violência sexual e às famílias. Endereço: Avenida Centenário, s/n, térreo do prédio do Instituto Médico Legal (IML) Telefone: 3117-6700. 

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar – Unidade judiciária especializada no julgamento dos processos envolvendo situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha. Endereço: Rua Conselheiro Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3328-1195/3329-5038.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela