'Ele trabalhava por amor', diz viúva de taxista morto no Barbalho

O taxista Manuel dos Reis Alves, 78, foi sepultado no final da tarde desta quarta-feira (14), no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 14 de junho de 2017 às 19:52

- Atualizado há um ano

Familiares e amigos relataram que o taxista amava o trabalho (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)O taxista Manuel dos Reis Alves, 78, foi sepultado no final da tarde desta quarta-feira (14), no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas. Manuel foi morto nesta terça (13), após ser arremessado do próprio carro, no Barbalho. Muito emocionada no enterro, Tânia Ferreira, 53, ex-mulher de Manoel, disse que, apesar da idade, “ele tinha o coração de jovem. Era um homem de paz, muito presente e trabalhava por amor porque o táxi já não dava mais sustento”. Ainda segundo ela, em janeiro, ele havia se recuperado de um problema de saúde na vesícula e voltou ao trabalho.

Colegas taxistas, que trabalhavam no ponto do Hotel Monte Pascoal junto com Manuel, também estiveram na despedida. “Ele era uma pessoa que gostava de servir. Na frente do hotel tem uma senhora que tem uma barraquinha e ele sempre fazia favores para ela, ia resolver coisas como pagar boletos ou levar em algum lugar, sem cobrar nada”, contou o amigo Paulo Campelo, 60, que conhecia o taxista há mais de 30 anos. De férias no Rio Grande do Norte, o recepcionista do hotel, Samuel Prado, 48, voltou mais cedo da viagem quando soube da morte de Seu Manoel. “Eu e ele éramos como gato e rato, a gente brigava e brincava sempre. Uma vez precisei me operar e ele saiu da Barra até o IAPI para me buscar e me levar no hospital, na amizade mesmo”, lembra ele.

Uma vizinha também contou mais uma história de solidariedade do taxista. “Esse táxi sempre foi o prazer dele. Chega uma idade que a pessoa quer manter uma atividade para se ocupar. Ele adorava fazer favores e não cobrava. Todos os dias ele levava o neto para o Cefet [Centro Federal de Educação Tecnológica] e fazia questão de levar minha filha, que estuda no mesmo lugar”, relata. A professora Isadora Fiaes, sobrinha de Manuel, conta que o tinha como pai. “Eu perdi meu pai muito cedo e ele ajudou a me criar. Ele era uma pessoa muito especial para mim. A gente precisa se fortalecer porque mataram uma pessoa sem levar nada... Quantos vão morrer para que a gente tenha segurança nessa Bahia?”, questionou, pedindo justiça para o caso.Aos 78 anos, Manuel trabalhava como taxista (Foto: Reprodução)A nora Rose Lima foi a última a vê-lo com vida. Na terça, por volta das 13h, ele a levou ao Hospital Roberto Santos, no Cabula. “Ele me deixou lá e saiu. Quando eu voltei para casa, eu vi que o carro dele não estava na esquina e imaginei que ele tivesse voltado para o trabalho, na Barra”, contou. No entanto, como eles tinham combinado de ir ao veterinário em seguida, ela estranhou o fato e ficou de ligar ao chegar em casa. Já em sua residência, ela recebeu a notícia do crime. Pelo menos 200 pessoas acompanharam o enterro. Em choque, a filha mais velha do taxista precisou ser amparada por familiares do início ao fim. Ele deixou sete filhos e cinco netos, frutos dos relacionamentos com três esposas. O taxista era morador de Pernambués e começou a vida trabalhando como mecânico, profissão que ensinou para alguns sobrinhos.

CrimeAos 78 anos, Manuel Reis, vivia para o trabalho e amava a profissão, segundo relataram amigos, colegas e familiares. No dia do crime, ele teve seu táxi roubado e foi arremessado do próprio carro – um veículo Prisma – na Rua Artur Cesar Rios, no Barbalho, próximo ao Colégio ICEIA. O carro foi encontrado na manhã desta quarta, na Av. da França, próximo à Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), na Cidade Baixa.

Para a família do idoso, Manuel dificilmente teria reagido a um assalto. "Sinceramente, eu não acredito em uma reação. Mas é aquela coisa, a gente não estava lá para saber. A única coisa que sabemos é que ele tinha uma estrutura física muito frágil, não oferecia qualquer risco a esses bandidos. Tanto, que nem usaram arma, utilizaram a própria mão", ponderou o genro, o comerciante Almir dos Santos, 54. 

Por meio de sua assessoria, a Polícia Civil informou que, embora houvesse sinais de estrangulamento no corpo do taxista, apenas os laudos periciais podem comprovar a natureza dos ferimentos.  A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, na noite de ontem, que determinou empenho e celeridade na apuração do caso.