Elton Serra: No Brasileirão, ser modesto não é pecado

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Hoje começa mais uma edição do Campeonato Brasileiro para a dupla Ba-Vi e a expectativa de todos é saber como os dois clubes tratarão a competição ao longo do ano. No entanto, numa Série A bastante segmentada, é bem provável que já saibamos em qual bloco da tabela tricolores e rubro-negros brigarão.O Brasileirão é um campeonato que divide muito bem ricos, modestos e pobres. Raramente veremos um time com orçamento pequeno brigar na parte de cima da tabela. Analisando-se a fase de cada um, os elencos e, é claro, se debruçando nas receitas, fica fácil entender o contexto: Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG saem na frente na luta pelo título, seguidos de Santos, Corinthians, Grêmio, Fluminense e Cruzeiro. São Paulo, Botafogo, Atlético-PR aparecem como equipes com potencial de brigar por Libertadores, mas também não inspiram, ainda, muita confiança.Num terceiro pelotão, aí sim, entram Bahia e Vitória. Ao lado de Vasco, Chapecoense, Ponte Preta, Sport, Coritiba, Avaí e Atlético-GO, a dupla Ba-Vi tem o perfil de buscar, a princípio, a permanência na primeira divisão. Com exceção de 2013, quando o Vitória brigou por Libertadores até o final do campeonato, é esta a ordem natural das coisas. A meta dos 45 pontos torna-se mantra para quase metade dos competidores da Série A.Não é demérito nenhum pensar desta forma. O torcedor brasileiro está acostumado a cobrar títulos, mas sabe que um campeonato de pontos corridos é segregador. Pelo que apresentou até agora e principalmente pelo que projeta até dezembro, será exitoso ver o Bahia entre os 12 primeiros. O mesmo se aplica ao Vitória, que vive reformulação em pleno mês de maio, após vencer o insosso Campeonato Baiano. A realidade de ambos é atingir o número mágico e, a partir daí, começar a sonhar mais alto.O Bahia, com Guto Ferreira, tem excelente aproveitamento em casa. Em quase um ano, apenas uma derrota - aquela para o Vitória, na primeira fase do último Campeonato Baiano. Porém, encara um cenário totalmente diferente na Série A, competição na qual os mandantes não têm vida fácil, mas os melhores anfitriões normalmente terminam no topo da tabela. O Corinthians campeão de 2015, por exemplo, conquistou 16 vitórias em casa. O tricolor terá que melhorar seu desempenho como visitante se quiser ter vida confortável na competição.O Vitória, agora comandado pelo “team manager” Dejan Petkovic, apresenta campanhas irregulares ao longo dos Brasileiros. É capaz de ser quinto lugar num ano e rebaixado no outro. Ainda não alcançou a estabilidade necessária numa Série A, e isso passa muito por metas mais realistas. Quando o rubro-negro entender que precisa, por um tempo, pensar em permanecer na primeira divisão, poderá ser um clube com mais vida útil na elite do futebol brasileiro.É claro que o Campeonato Brasileiro impõe surpresas. Ver Bahia e Vitória brigando por Libertadores é uma delas. Para isso, é preciso planejamento e um elenco forte para suportar 38 partidas altamente equilibradas. Porém, antes de sonhar, não custa nada cumprir a cartilha básica dos times mais modestos: fazer o dever de casa, liderar os confrontos diretos contra as equipes do mesmo patamar na competição, atingir os 45 pontos, se distanciar da zona do rebaixamento e, aí sim, buscar afirmação num cenário tão competitivo.Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos.