Elza Soares morre aos 91 anos no Rio

Data da morte da lenda da MPB coincide com o dia da passagem de Garrincha, seu companheiro por 17 anos

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  • Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 17:27

- Atualizado há um ano

. Crédito: Pedro Dimitrow/divulgação

A cantora Elza Soares morreu aos 91 anos nesta quinta-feira (20), no Rio de Janeiro.

"É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais", diz o comunicado enviado pela assessoria da cantora.

"Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim", diz a nota no Instagram da artista.

Elza Soares é considerada uma das maiores cantoras da música brasileira, com carreira no samba que começou nos anos 60.

Elza estava bem ativa nos ultimos dias nas redes sociais, declarando sua torcida para a cantora e atriz Linn da Quebrada no BBB22.:

"Gentem, já tô me vendo no BBB. Me enxergo inteirinha na maravilhosa Linn da Quebrada. E esse piercing igual a minha pinta da boca?! Amooo. Mulher, preta, artista, do subúrbio. E olha euzinha ali atrás dela no vídeo. Sucesso no programa, my love", escreveu Elza no dia 14/1.

Romance além da vida A morte da cantora Elza Soares nesta quinta-feira (20) acontece no mesmo dia da de Garrincha, com quem teve um relacionamento por 17 anos. O craque do Botafogo morreu também no dia 20 de janeiro, mas quase 40 anos antes: em 1983.

Em 2018, em entrevista ao programa Conversa Com Bial, Elza falou sobre a relação com o jogador:  "Eu sonho muito com o Mané. O maior amor da minha vida foi ele." Ela foi casada de 1966 até 1982 com Garrincha e tiveram um filho, Garrinchinha, que morreu em 1986, num acidente de carro. Elza Soares e o jogador Mané Garrincha (reprodução) Também no programa, ela disse que Garrincha prometeu a ela o título da Copa de 1962. Na época, Pelé era o craque do time, mas acabou se contundindo — e quem brilhou foi o "marido de Elza", como ela mesma se referiu.

"Ele me prometeu e disse: 'Olha criola, essa Copa eu vou dar pra você, vou fazer gol pra você (...) Eu nunca gostei de ser mulher de fulano. Eu sou eu. Não era preciso ser mulher do Garrincha pra ser a Elza Soares. O Garrincha era marido da Elza Soares", revelou, na ocasião.

Elza começou cantando sambalanço com Se Acaso Você Chegasse, em 1959, e se dedicou ao gênero nos anos 60. Nos 34 discos lançados, ela se aproximou do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop, do funk e diz que a mistura é proposital."Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante. Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo", dizia Elza.O último disco lançado foi Planeta Fome em 2019, e ela vinha dizendo que que não tinha planos concretos para outro álbum por enquanto. "Ainda não, mas vai surgir. Minha cabeça não para, cara", afirmou, na época do lançamento.

A única certeza é que não iria parar de cantar:"Nem de brincadeira. Parar por quê? Por que parar? Não tem por que né?".Filha de operário e lavadeira, Elza Gomes da Conceição nasceu em junho de 1930, no Rio de Janeiro. Foi criada na favela de Moça Bonita e, aos 12 anos, obrigada pelo pai a se casar com Antonio Soares, conhecido como Alaúde, de quem pegou o sobrenome. Aos 13, já era mãe. Aos 15, já tinha perdido um dos filhos para a fome. Aos 21, já era viúva.

Encontro com Lous Armstrong Elza contava que começou a fazer o scat (técnica vocal gutural criada por Louis Armstrong e popularizada por Ella Fitzgerald) sem saber. "Eu botava uma lata de água na cabeça e gemia. Eu pensei, esse barulho vai dar um som maravilhoso", disse no programa de Pedro Bial. Elza Soares e o ícone do jazz Louis Armstrong (reprodução) "Eu achava que ele [Louis Armstrong] me imitava. Eu não conhecia ele", disse a cantora sobre o encontro que teve com o músico na década de 60. "Eu substitui Ella Fitzgeral na Itália. Ela tinha um show em que cantava Tom Jobim e eu morava por lá com o Mané Garrincha. Foi o Naná Vasconcelos que disse que eu poderia substituí-la".