Em entrevista ao CORREIO, Gil diz que está com o pique do rock

Cantor fala sobre o show Trinca de Ases e projetos para 2018, como álbum com Bem Gil e ópera

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  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 11 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

Aos 75 anos, Gilberto Gil, que será homenageado no Carnaval de 2018 pela Escola de Samba paulista Vai Vai, está em plena forma ou “cheio de assunto”, como diz sua mulher Flora Gil. Antes de chegar a Salvador para o show Trinca de Ases, ele conversou com a reportagem do CORREIO e falou do shows, dos projetos e da afetividade entre ele, Gal Costa e Nando Reis. Confira:

Trinca de Ases reúne dois antigos e fraternais amigos (você e Gal Costa) e um novo que está chegando, Nando Reis. Como se deu a química desse encontro que tem se mostrado muito bonito no palco e será apresentado dia 15 em Salvador?   A química nasce da mistura, das pessoas, das personalidades, dos jeitos, dos modos de gostar de música, das afetividades, enfim, as admirações mútuas. Nasce de tudo isso. 

Como foi selecionar o repertório desse encontro em meio a tantas músicas que marcaram a carreira de cada um?   A gente escolheu em torno de 20 músicas dos repertórios meu, da Gal e do Nando. Fizemos três músicas. Eu, sozinho, Trinca de Ases; de Nando sozinho tem Dupla de Ás e, juntos, Tocarte. Discutimos se nossos dois violões, o meu e o do Nando, dariam conta do repertório e das intensidades de todas essas coisas que têm no show, se a gente convidasse dois músicos para formar uma massa sonora robusta seria suficiente.   Convidamos o Magno Brito (baixista pernambucano) e Kainan do Jêje - percussionista baiano, que trabalha com Ivete Sangalo e também com a Sinara. Ensaiamos, estreamos, fizemos os shows em São Paulo, no Rio. Helio Eichbauer fez o cenário.

Em paralelo ao Trinca de Ases, você está fazendo o Refavela 40 Anos, produzido por Bem Gil. Desde o início da carreira, o artista Gil sempre trabalhou em parceria seja em disco ou show, a exemplo de Jorge Benjor, Milton Nascimento, Rita Lee, Jimmy Cliff, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, entre outros.  E pelos resultados parece que você adora esses encontros...   Eu gosto muito. Sempre foi praxe na música brasileira, desde o Fino da Bossa. Da  Elis e Jair Rodrigues, Roberto e Wanderlea. Naquela época, todas as pessoas se juntavam. Depois, foi se criando esse hábito que se enraizou, até porque sou muito mais eclético no sentido geral do que a maioria dos artistas. Eu gosto de muitos gêneros, de muitas maneiras de fazer música,  e isso facilita e justifica também  os encontros e parcerias.

Eu assisti à estreia de Trinca de Ases no Rio de Janeiro e vi um Gilberto Gil animado, pra cima,  e totalmente envolvido no show até com uma pegada rock and roll. Seu Gilberto está com todo pique?  Todo pique que eu posso ter hoje em dia, com a idade que tenho, as limitaçoes naturais de ter estado muito tempo dedicado a uma música mais suave. Sou egresso da Bossa Nova, desse campo de uma música brasileira mais delicada. Mas eu gosto muito de rock and roll, sempre gostei, ele entrou muito em meu trabalho, não só ao pé da letra como em Punk da Periferia e Pessoa Nefasta, alguns que fiz em homenagens. A música forte, tensa, com influência do funk e do  punk, aparece estando com um músico desse campo como o Nando Reis. Gal também já teve esse lado muito forte. Eu tenho que me virar, pois não sou um guitarrista no sentido lato e  me viro para suprir ali a ausência de um guitarrista. O pique vem disso aí. As canções do Nando são muito energéticas, ele vem de uma banda de rock, dos Titãs, e boa parte do trabalho dele é muito aproximado do rock, tem o trabalho com  a Cássia Eler. Boa parte do trabalho de Nando tem a força do rock. Daí essa percepção que voce teve e outras estão tendo  dessa postura rock.  É sinal que estou gostando de fazer isso. Quando a gente concebeu o show, a primeira coisa que eu disse para Nando e Gal era que nós fizéssemos todo o show em pé, exceto três ou quatro  cançoes, tipo banquinho e violão. Mas o pique é de rock and roll. Eu adoro.

Depois que a turnê Trinca de Ases acabar, quais seus próximos projetos?   O Trinca de Ases vai ser gravado e vai virar um DVD e um CD também. Estou fazendo O Refavela, que é um projeto do Bem com os amigos, os colegas e o pessoal da geração dele, que resolveram celebrar os 40 anos desse disco. Estou indo para a Europa fazer Prelúdio, primeira apresentação de algumas das canções do Negro Amor, uma ópera que eu e Aldo Brizzi estamos escrevendo a parte musical, sobre poemas que Rogério Duarte traduziu do sânscrito e das escrituras indianas do Gita Govinda. Uma ópera que deve ser lançada no final do ano que vem ou em 2019. E tem o disco que já fiz a minha parte toda e o Bem está fazendo a finalização e que deve sair no ano que vem.