Em legítima defesa de quem, cara-pálida?

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Jolivaldo Freitas
  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Já parou para imaginar se durante o ano que passou, com tanta conflagração política, com os coxinhas e mortadelas se pegando nas ruas do país, com a esquerda e a direita se mordendo, com os bolsonaristas se atracando com os petistas, irmão xingando irmão, pais cortando a palavra com os filhos e filhos com os pais, compadres e comadres se estranhando, velhas amizades se rompendo e amores eternos acabando em segundos, os brasileiros estivessem com seus direitos de uso de armas assegurados?

Pois, Bolsonaro anunciou e assinou com sua Bic o decreto que facilita a posse de armas de fogo. Cumpriu uma promessa de campanha feita para agradar a uma pequena parcela dos brasileiros e para amimar basicamente a chamada 'Bancada da Bala' e dar um novo alento às duas únicas fábricas de armas do Brasil.

Mas, será que é bom mesmo para um país recheado de violência colocar arma na mão do povo? Bolsonaro decidiu e sequer acatou sugestões do seu ministro da Defesa e Segurança Sérgio Moro de criar maiores limites para a concessão do porte. Tem quem ache que flexibilizar também foi um intento do ministro Ônix Lorenzoni, que sempre foi apoiado em sua carreira política pela indústria de armamentos.

Bolsonaro não deu à mínima para os levantamentos que demonstram ter ocorrido em 2018 quase 64 mil assassinatos. Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi muito tiro dado e o governo a quem cabe garantir a segurança do brasileiro não pode fazer nada e, com certeza, o novo administrador do país está colocado nas mãos do cidadão a tarefa de se proteger como for capaz. Mas é o estado que deveria fazer isso. Não está na Bíblia, nem no Shastra, Torá ou Alcorão, mas está em nossa Constituição.

De nada vale restrições como o cidadão ter no mínimo, 25 anos, idoneidade, não constar de inquérito policial ou processo criminal, ter residência certa e comprovar capacidade técnica para o manuseio da arma de fogo, sem falar nos psicotestes onde tem maluco que passa numa boa. A bandidagem não é burra. O ser humano se adapta, se adequa e sendo inventivo acha um jeito de ludibriar leis, cânones e regras. Vai ser mais fácil ter armas no meio da sociedade e estas irão cair nas mãos dos bandidos. Nem precisam mais vir do Paraguai. Há cerca de 20 anos, meu irmão, que era da Polícia Militar, foi assassinado numa emboscada, não por ser PM em operação, mas porque os bandidos precisavam de uma arma para cometer assalto. Agora, sabendo a casa onde tem arma, será somente invadir, fazer reféns e pegar; quem sabe, matando seu proprietário.

Quem pensa que o lobby para colocar armas em mãos de todos os brasileiros é interno está enganado. Há quase duas décadas, o Nation Rifle Association – NRA dos Estados Unidos vem defendendo seus associados e pressionando o Brasil para não impor limites, pois isso pode refletir em toda a América do Sul e acabar com o lucro dos apaniguados. Já as ações das empresas brasileiras de armas subiram mais de 400 por cento em um ano.

Fale verdade: se arma fosse algo bom para a defesa pessoal, o presidente Bolsonaro, que foi capitão do Exército, teria sido assaltado e os bandidos levado sua pistola? Imagine eu e você, que já esquecemos até como se atira de badogue, estilingue, funda, atiradeira...

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores