Em livros, Lázaro Ramos defende o direito de sonhar das crianças

Ator e escritor lança duas publicações infantis: O Pulo do Coelho e Edith e a Velha Sentada

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de junho de 2021 às 06:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Julia Rodrigues

Lázaro Ramos adora inventar palavras e isso é ele mesmo que diz. Uma prova disso é que Caderno Sem Rimas da Maria, que ele lançou em 2018, era repleto de termos criados por ele mesmo. Agora, em seu sexto livro para crianças, O Pulo do Coelho (Carochinha/R$ 40/48 págs.), o ator e escritor baiano volta à brincadeira, na história do menino Gusmão, que vive no dilema entre ser "vivente" e "querente"."Gusmão é um menino sonhador que um dia sonha que é um coelho que está confinado na cartola de um mágico e que decide se libertar e fugir do circo porque ele mesmo quer se tornar mágico", resume Lázaro.Para o autor, trata-se de uma história sobre sonhos e luta pela liberdade. "Ao mesmo tempo, para pais e mães, fala sobre a importância da autonomia das crianças, que aprende a cuidar de seus objetos, a escovar os dentes sozinha...", acrescenta o autor, que tem dois filhos com a atriz Taís Araújo: João, de 10 anos e Maria, de 6. 

Para Lázaro, o segredo da vida está no equilíbrio entre ser "querente" e ser "vivente" e é isso que Gusmão procura. O nome do menino, que tem 11 anos, é uma homenagem ao ator baiano Mário Gusmão (1928-1996). "Ser querente é ser desejante, saber que pode desejar e sonhar. Ser vivente é ir sendo levado pela vida sem ter muitos objetivos. E Gusmão é uma criança que sonha, deseja, planeja...", diz Lázaro.

O escritor diz que, também na vida real, ele mesmo vive entre o viver e o querer."Tem horas que quero tanto que não consigo viver, fico só no desejo. E tudo que eu desejo agora é que pudesse estar com em Muribeca, com meu pai, quietinho", revela.A cidade fica perto de São Francisco do Conde. 

Com mensagens positivas para as crianças e estímulos para dar uma virada na vida, O Pulo do Coelho pode ser considerado um livro de autoajuda infantil? "Quero colaborar com as pessoas, com a existência delas. Este é meu modo de vida. Se ajudar, tá valendo. Eu só não quero atrapalhar!", afirma Lázaro com o seu bom humor habitual.

Aproveitando o embalo do lançamento de O Pulo do Coelho, Lázaro está relançando Edith e a Velha Sentada (Pallas/R$ 49/64 págs.), seu primeiro livro lançado comercialmente e em território nacional, em 2010. No ano anterior, Lázaro havia lançado Paparutas, que foi distribuído somente na Bahia, pela Edufba.

Edith é uma menina que não é muito de brincar, vive ensimesmada, e só se diverte com TV ou computador. Pouco convive com os vizinhos, quase não tem amigos e não sabe expressar seus sentimentos, especialmente a saudade que sente do pai, que foi morar fora do país. Um dia, uma amiga da mãe da menina pergunta: "Será que essa menina tem uma velha sentada dentro da cabeça?".

Lázaro diz que não era muito diferente de Edith e, quando criança, não era muito de brincar com os primos e pouco conversava com os pais."Ela é um pouco a criança que eu fui. Eu era criativo, na minha cabeça acontecia muita coisa, mas eu não mostrava para o mundo, porque eu era tímido. Mas minha cabeça foi o lugar mais criativo que eu conheci", diz o ator.O escritor se preocupa com o excesso de tecnologia na vida das crianças, mas sabe que é necessário que elas se familiarizem com computadores e celulares. Defende, porém o equilíbrio, e diz que, em casa, é isso que ele e Taís buscam para seus filhos: "Minha casa não é muito diferente da casa da maioria das pessoas. Às vezes, estou trabalhando e nesses momentos a companhia deles é o tablet ou o celular. E tem horas que estimulo outras atividades, como ultimamente temos brincado de jogos de tabuleiro". 

Lázaro também aproveitou o isolamento para mostrar a João e Maria clássicos do cinema de sua geração, como Os Goonies, De Volta Para o Futuro e Curtindo a Vida Adoidado. "É na tela, mas, ao menos, nesse caso, a família está reunida".

Edith tem ilustração de Edson Ikê e O Pulo do Coelho ganhou os traços de Lais Dias. Embora as histórias não envolvam diretamente questões de negritude, os protagonistas são representados como negros, o que corresponde a um desejo do autor. "Independente dos temas da história, ter uma criança negra ilustrando a capa e como personagem contribui para que uma criança negra se veja no papel de protagonista. E uma criança branca vê que todo e qualquer traço pode lhe contar uma história. Nós podemos experimentar situações de discriminação, mas não são apenas essas experiências que nos definem".