Em novo EP, Larissa Luz busca trazer 'leveza' a sua carreira

Embora continue engajada, cantora diz que queria falar de relacionamentos, com uma pegada de humor

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  • Roberto Midlej

Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Caio Lirio/divulgacção

Nas canções que compõe e interpreta, a baiana Larissa Luz sempre se revelou engajada e preocupada especialmente com questões raciais e femininas. Em seu novo EP, Deusa Dulov Vol.1, que chega nesta sexta-feira às plataformas de música, o engajamento permanece. Mas agora Larissa quer também levar um certo humor ao seu canto. Ou, no mínimo, alguma leveza: "Às vezes, a gente mergulha tão fundo nas nossas dores, que tudo fica muito tenso. São tantas dores, tantas questões... Mas uma hora a gente tem que dar uma respirada para rir, para fazer graça", defende a cantora. 

E, segundo Larissa, se pode ouvir um pouco desse tom mais leve na canção Cupido Erê, que ganhará um clipe em breve. "É uma música debochada, que faz graça com essa dificuldade que temos de emplacar uma relação, que tem seus erros e acertos. Fala desse caminho doido, árduo para encontrar alguém".  Ela já tinha lançado como single a sensual Afrodate (Dreadlov)” sobre um romance afrocentrado.  

Cupido Erê, como as outras quatro canções do EP, é uma parceria de Larissa com o rapper Coruja BC1 e a letra diz: "Olhe, deixe de ser levado/ Cupido danado/ Tem causado tanto fuzuê/ Olhe em quem você tem acertado/ Pra não ser desempregado (...)/ Coração não é brinquedo e é fácil de quebrar". Mas para a compositora o que vale é se arriscar no amor: "O legal é poder 'experimentar' pessoas, entender as complexidades, se dividir com alguém, mesmo que por um período curto. Mas a gente tem uma ideia romântica de que uma relação, para dar certo, tem que durar milhões de anos...", contesta Larissa.  Coruja BC1, rapper que compôs as canções do EP com Larissa (Foto: Pedro Sanaa) A parceria com Coruja BC1 surgiu depois que a cantora participou da gravação da canção Aconteceu no álbum mais recente dele, Brasil Futurista. "Mostrei a ele umas coisas que eu tinha começado e começamos a desenvolver as letras. Sou fã do trabalho dele, tem um ritmo e uma poesia muito particular. Pedi esse 'help' a ele para trazer o hip hop de forma diferente. E para ele foi desafiador compor canções que vão além do estilo dele", argumenta Larissa. 

O som marcadamente negro de Larissa continua firme e isso resulta de tudo que ela viveu em Salvador - hoje, a cantora vive em São Paulo. Ela diz que o 'pagodão' fazia parte de sua infância e juventude: "Nasci no Nordeste de Amaralina e o pagode estava em todas as esquinas. Mas também fui do rock, que também é negro. A partir de um certo ponto, comecei a ter consciência desses ritmos da diáspora".  

Ela faz questão de lembrar também o tempo em que cantou no Ara Ketu, por mais de quatro anos: "É um grupo que revolucionou a música baiana, o primeiro bloco afro a colocar harmonia no trio elétrico". Bemba Trio e BaianaSystem também são apontados como grupos que contribuíram para sua formação musical. "Pesquisei ritmos jamaicanos, vi o Bemba fazendo [essa mistura], vi Rafa Dias misturando pagodão com trap e fiquei fascinada por esse universo e em ver o quanto a gente fala a mesma língua mesmo sendo de lugares diferentes". 

A música negra também esteve sempre presente na vida de Larissa através do canto de Elza Soares, que morreu na quinta-feira passada, aos 91 anos. "Eu imitava Elza na escola", lembra. Larissa foi uma das atrizes que interpretou a cantora carioca na peça Elza - O Show, que estreou em 2018 e foi exibida em Salvador naquele mesmo ano. "Havia conhecido Elza uns anos antes no Rio de Janeiro, quando ela me viu cantar. Disse que eu tinha um 'borogodó', que havia se identificado comigo". 

Depois, Elza e Larissa acabariam dividindo o vocal na música Território Conquistado, no álbum homônimo da baiana, de 2016. "Passei a ir aos shows dela, ia ao camarim... até que uma produtora sugeriu fazer o musical sobre ela. Aí, passei a conversar mais com ela, ia à casa dela...", lembra-se Larissa. 

Para a cantora, é como se tivesse cumprido uma missão: "Queria que ela fosse homenageada em vida, pela importância que tem para essa geração, principalmente para nós, mulheres pretas. Foi muito bom vê-la no teatro, todos a ovacionando, de pé, horas aplaudindo. Poderia ter acabado no ostracismo, na depressão...".