Em novo livro, André Lemos analisa pandemia e cultura digital

Fake news, educação a distância, algoritmos e home office são temas do livro que será lançado nesta segunda (17)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos divulgação

A humanidade já passou por pandemias que talvez sejam consideradas ainda mais graves que a atual. Mas, há entre esta e as anteriores uma importante diferença: é a primeira vez que isso acontece durante um período em que a cultura digital está tão disseminada. 

O baiano André Lemos, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ao notar esse fenômeno, decidiu reunir em um livro ensaios de sua autoria sobre o assunto.

A Tecnologia é um Vírus - Pandemia e Cultura Digital (Editora Sulina/ R$ 40/ 150 págs) será lançado nesta segunda-feira (17), às 17h, no canal da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), no YouTube. A mediação será de Giselle Beiguelman, professora da  FAUUSP e autora do texto de apresentação do livro. 

Além de pesquisador, André faz comentários na Rádio Metrópole e no IGTV do seu perfil no Instagram, o @andrelemos. "Em 2020, escrevi vários ensaios sobre o tema e tinha outros que já havia escrito antes. Nos comentários na rádio e no Instagram, eu rabisco alguma coisa e eles viraram ensaios também. O livro dá um panorama sobre esses dois temas, cultura digital e pandemia", afirma o autor. 

Embora seja acadêmico, André assegura que o livro é de linguagem acessível a todo o público e não está restrito a pesquisadores: "É para o 'grande público', para entender melhor temas de interesse geral como fake news, educação a distância, algoritmos...".

O autor dividiu a publicação em duas partes: Cultura Digital e Agenciamento Pandêmico. "Mas, os textos são independentes um do outro e podem ser lidos em qualquer ordem. A primeira é mais para o leitor entender o que está acontecendo hoje, e na segunda, defendo que o vírus é um constructo social, que não existe isoladamente e que revela as particularidades de cada país e suas estruturas sociais". 

Isolamento desigual Nessa segunda parte também são analisadas as consequências impostas pelo coronavírus, como o isolamento e o trabalho a distância. Há, também, uma reflexão sobre as desigualdades impostas pela pandemia no Brasil: "Aqui, nem todos têm casa para se conectar à internet. Então, surgem problemas relacionados à educação a distância. Como lidamos com isso? Como a universidade lida com isso e como se adapta aos recursos online?", questiona o autor. 

Em seus textos, André defende ainda que as tecnologias não são algo externo ao ser humano, já que, para ele, "humano sem artefatos não existe"."No entanto, precisamos ficar atentos: isso não significa que a tecnologia seja 'neutra' e devamos simplesmente aceitá-la", alerta.Algoritmos Um  assunto que aparece com destaque no livro são os algoritmos. De maneira geral, os algoritmos podem ser entendidos como "uma sequência finita de ações executáveis que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema".

Mas,André vai além: "Os algoritmos sempre existiram, mas hoje se tornaram inteligências artificiais. Portanto, aprendem e tomam decisões. É o algoritmo que diz: 'olha, fulano postou isso aqui e deve ser interessante para você. Mas, aquela outra pessoa não vai se interessar'. O algoritmo 'escolhe' as coisas e as torna visíveis ou invisíveis para você". Segundo o pesquisador, os algoritmos são colhidos de forma enviesada por quem colhe e por quem os escreve. 

André sugere o documentário Coded Bias, na Netflix, para quem quer saber mais sobre o enviesamento dos algoritmos."O filme mostra que as câmeras reconhecem mais mulheres e homens brancos, porque quem escreve aqueles algoritmos são pessoas brancas. Mas, o sistema erra mais com mulheres e homens negros", destaca.Um dos ensaios do livro, Dobras Tecnológicas do Tempo, foi publicado na edição especial do CORREIO que celebrava os 40 anos do jornal. Em A Tecnologia é um Vírus - Pandemia e Cultura Digital, o texto está na íntegra, como saiu no jornal. André compara a tecnologia da época em que era adolescente, em janeiro de 1979, quando o CORREIO surgiu, com a evolução de 40 anos depois.