Em série do Globoplay, talentos se juntam para compor canção coletiva

Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto, aberto para não assinantes, tem três baianos e participação de Iza, Brown e Larissa Luz

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  • Roberto Midlej

Publicado em 1 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Felipe Feijão

O gênero de "talent show" - aquele em que anônimos buscam revelar seu talento para a música - se proliferou como poucos outros na TV brasileira. Ídolos (SBT e Record), Fama (Globo), X-Factor (Band), Canta Comigo (Record) e, claro, o mais popular de todos, The Voice, na Globo, são apenas alguns deles. 

Mas, enquanto todos esses são marcados por uma competição entre os participantes, em que todos brigam um contra o outro por uma premiação, chega agora um programa com uma nova proposta, em que os participantes não concorrem entre si, mas trabalham em equipe até o final. A ideia, portanto, para usar um termo da moda, é "cocriar".

A série Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto, que está no Globoplay também para não assinantes, selecionou nove talentos que, juntos, trabalharam na composição de uma música, revelada no último episódio. Os quatro capítulos já estão liberados. Para trabalhar com os selecionados, foram escolhidos três artistas: Iza, Carlinhos Brown e Larissa Luz. A produção é idealizada pela cerveja Devassa.  Leo, percussionista baiano, está na série E a Bahia tem presença expressiva: além de Brown e Larissa, três dos nove talentos são baianos: os percussionistas Leo Oliveira e Nanny Santos, além do compositor Rafael Rocha. Mas a diversidade geográfica também marcou a seleção: tem gente de São Paulo, Minas, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Uma característica em comum: os participantes são negros e têm origem nas zonas periféricas das cidades. No comando da série, foi selecionado um time de mulheres negras, com Aisha Mbikila na direção. 

No primeiro episódio, Iza fala sobre as barreiras que os músicos da periferia têm para alcançar notoriedade e os talentos falam sobre suas origens. O segundo episódio mostra uma masterclass de Carlinhos Brown sobre a história da música e a relação entre o pop e o candomblé. No terceiro episódio, começa a estruturação da música, com a colaboração criativa de Larissa Luz e de Iza. No quarto capítulo, os participantes vão para o estúdio e gravam a canção. Nanny, também baiana e percussionista Os baianos Nanny começou a se aproximar da música aos 11 anos, numa escola de percussão, em Simões Filho, onde morava. Depois, na escola, aprofundou os estudos e conheceu um professor que era do Cortejo Afro. "Comecei a me interessar pela história do bloco e aos 17 anos toquei num ensaio deles pela primeira vez. Daí, vi que podia ganhar dinheiro com a música e não saí mais", revela a percussionista.

Mas, diante da insegurança da carreira, Nanny se formou em design gráfico e hoje divide o tempo entre a percussão e o trabalho numa agência publicitária. "Se tiver que escolher entre a música e o design, fico com a música. Mas que ninguém saiba, para não ter risco de me demitirem", brinca a percussionista, que continua no Cortejo Afro.

Nanny já conhecia o colega Leo, que tocava na banda de Denny Denan. Quando os dois se deram conta de que haviam sido selecionados, se surpreenderam. "A produção criou um grupo no Whatsapp para os participantes e olhei quem eram os selecionados. Aí, vi Nanny lá e foi muito bom, porque sempre curti ela tocando", diz Leo. 

Para a seleção, o músico enviou um clipe que havia gravado, somente com sua percussão. O vídeo Realidade Percussiva está no YouTube e vale dar uma olhada. "Fiz com os amigos, sem grana, mas até drone eles trouxeram para gravar", comemora. Leo começou a estudar percussão no Pracatum. Morador de Pernambués, ele ia andando até o Candeal, para as aulas. "Eram 30 ou 40 minutos de caminhada, porque não tinha dinheiro pro ônibus. Mas às vezes eu 'traseirava' no ônibus, né", lembra, alertando para o risco que corria. Rafael é um dos compositores selecionados Nanny também mandou um vídeo em que tocava num show de Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França. "Fiz minha inscrição e nem sabia como seria o formato da série. Sabia que era apenas uma cervejaria que havia criado e, quando me dei conta, soube que ia passar cinco dias no Rio de Janeiro. E o melhor: cheguei lá, dei de cara com Iza!".

Rafael, que já tem composições gravadas por Parangolé e Leo Santana, gostou da experiência da criação coletiva. A música, que ainda não tem título, transita entre o pagode baiano, o afrobeat e o funk carioca. "Fala sobre minhas origens, minha vivência, minha rua... e sempre tive o sonho de falar dessas coisas. De falar de coisas boas e das tristezas. Mas também do talento de ser forte e resiliente", diz o compositor.

Larissa Luz, mesmo já há algum tempo na estrada, diz que não participou apenas para ensinar. "Fui para trocar! Pra aprender também, escutar,  pra que a gente pudesse criar em coletivo, o que acho incrível porque esses encontros fazem a nossa potência ser ainda maior", comemora a cantora.