Em sua 25ª edição, o Prêmio Braskem de Teatro celebra a arte livre

Cerimônia acontece na noite desta quarta-feira (13), no TCA

Publicado em 13 de junho de 2018 às 07:15

- Atualizado há um ano

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"A arte é livre!” É a partir desse mote que o 25º Prêmio Braskem de Teatro vai convocar artistas das mais diferentes gerações das artes cênicas baianas e a sociedade de modo geral a pensar sobre o lugar da arte no Brasil (e no mundo) de hoje. O evento, restrito a convidados, acontece logo mais, às 20h, no Teatro Castro Alves, e será transmitido pela TVE, no canal 10.1. 

CONFIRA ESPECIAL DO PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO

À frente da cerimônia pela sexta vez, o diretor artístico Luiz Marfuz lembra que o tema surgiu a partir da pergunta sobre o que era importante dizer. “Que temas são esses que estão nos rodeando, nos provocando? No ano passado, uma onda conservadora caiu em cima da produção dos artistas do país, em quase todas as áreas”, destaca, ao ressaltar a proibição de exposições como a Queermuseu e de espetáculos como La Bête e O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu - este último chegou a ter sua apresentação suspensa também em Salvador, durante o Festival Internacional de Artes Cênicas (Fiac).

Para Marfuz, apesar de bem característicos dos nossos tempos, esses tensionamentos “estão ligados à prórpia história das artes, que em determinados momentos é atingida por um raio de intolerância oriundo de diversos grupos e instituições”.

O clima de manifesto e celebração vai dar o tom da premiação, que será costurada a partir da metáfora da tempestade. “Isso que estamos vivendo é uma tempestade, onde cada um enfrenta de uma forma. Uns se abatem, outros encaram, outros voam”, compara Marfuz, que se inspirou ainda na última peça escrita por Shakespeare.

Teatro, música, dança e audiovisual potencializam a reflexão sobre a natureza livre da criação artística. “Tem também o humor, que por natureza é demolidor, corrosivo. O humor ameça, irrita, e entra nesse conjunto como contraponto à abordagem mais severa sobre o tema”, ressalta Marfuz.

Celebração Seis mestres de cerimônia vão lembrar a rica história de 2500 anos do teatro, junto a um corpo de 12 dançarinos. Para a missão, foram convocados Harildo Déda, Valdineia Soriano, Cyria Coentro, Hilton Cobra, Leandro Villa e Laila Garin. “É sempre difícil fazer essa composição. A ideia foi contemplar a diversidade estética e de gerações, além de artistas que residem em Salvador e artistas que decidiram morar fora da cidade. Todos, no entanto, baianos”, destaca. Com o Rei na Barriga Espetáculo infantojuvenil conta a história de um garoto que tem dificuldade de ser relacionar e, por isso, “compra” amigos; Bonito Imagem grotesca e assustadora dos monstros de infância é reelaborada por seis artistas que, mo palco, dão voz e movimento a novos monstros que são em si a força íntima de cada um (Fotos: Divulgação) A naturalidade é o que une também todos os homenageados: as atrizes Ivana Chastinet e Frieda Gutmann, mortas em agosto do ano passado e em janeiro deste ano; respectivamente; o ator Antonio Pitanga, que celebra 60 anos de carreira; e o cabeleireiro e maquiador Deo Carvalho.

Participando pela primeira vez da premiação, a atriz Laila Garin, radicada no Rio de Janeiro, se diz feliz em voltar a Salvador para a ocasião. Para ela, uma oportunidade de ver quem são os novos artistas que estão em cena, de saber um pouco do que está acontecendo. “Eu estou realmente afastada. Ano passado pensei em vir fazer um trabalho e passar um tempo, mas acabou não dando. Essa é uma falta que sinto, de conversar, de trocar experiências, de ver o que tem sido produzido aqui”, lamenta.

Concorrentes Vinte espetáculos que estrearam em Salvador ano passado concorrem a pelo menos uma das oito categorias. De abril a dezembro, a comissão julgadora do prêmio avaliou 61 peças teatrais. Os vencedores das categorias Espetáculo Adulto e Espetáculo Infantojuvenil receberão um prêmio no valor bruto de R$ 30 mil cada, enquanto os demais vencedores serão contemplados com um prêmio no valor bruto de R$ 5 mil cada. Além de dirigir artisticamente a premiação, Marfuz também está indicado à categoria de Melhor Texto pelo espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto - que concorre ainda a outras três categorias. Para ele, que conseguiu ver muitos dos espetáculos indicados, é possível dizer que o teatro baiano “sempre encontra uma forma de resitência e de afirmação”. “Vejo uma espécie de rede de resistência cultural, de uma diversidade muito grande”, argumenta, sem esquecer das dificuldades, sobretudo financeiras.  Cena do espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto (Foto: Walmyr Ferreira) Indicado também à categoria Melhor Texto por  Os Pássaros de Copacabana e Melhor Direção por Os Pássaros e Um Vânia, Gil Vicenete Tavares afirma que qualquer premiação envolve um conjunto de fatores, mas em sua história o Prêmio Braskem tem alimentado o debate e incentivado a criação local. “É uma pena que ele seja o único, falta termos outras visões sobre nosso fazer, na cidade”, diz.

Apesar das diferenças evidentes entre as duas produções que ele dirigiu ano passado, Gil Vicente diz que uma semelhança pode ser destacada: nas duas, o ator é o centro. “Esse é o teatro que busco realizar e minhas indicações a prêmios só existem porque existem atrizes e atores que foram generosos em dividir sua importância - primordial e essencial - comigo”, avalia, ao repelir a ideia de que há algo que una de modo homogêneo a cena teatral baiana.

Para o ator Fernando Santana, indicado às categorias de Melhor Ator e Melhor Texto por Mesmo Sem Te Tocar, é fundamental a inciativa do Braskem de reconhecimento aos artistas locais. “É mais um reforço na arte que vem sendo degradada com a falta de incentivo”, avalia.

Já a empresa comemora os 25 anos do prêmio. “É com muita honra que celebramos as bodas de prata do Prêmio Braskem de Teatro. A premiação - uma das mais longevas do país -, ao longo desses 25 anos, não só reconheceu o trabalho dos artistas e técnicos baianos, como valorizou e incentivou a produção teatral em nosso estado”, ressalta Milton Pradines, gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia e Alagoas.

Liberdade, liberdade Mas afinal, a arte é livre por quê?!”A arte é livre porque ela promove a liberdade e uma de suas funções é fazer com que as pessoas acreditem nos seus sonhos, não desistam deles. A arte é livre porque nosso sonho é livre”, diz Fernando. “A arte é livre porque precisamos nos libertar das prisões da vida (cafona, mas verdadeiro)”, aposta Gil.

Já Laila Garin acredita que “a arte é livre porque nós não somos só mulheres, só negros, só mães, só filhos. Nós somos imensos, somos pedaços da estrela que explodiu lá no Big Bang. A arte é livre porque a alma do ser humano não tem limite”. “No dia que qualquer instância tutelar a arte e dizer o que pode e o que não pode, aí deixa de ser arte. O sentido de fazer arte é o exercício da liberdade”, defende Marfuz.

CONFIRA OS INDICADOS AO 25º PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO:

ESPETÁCULO ADULTO De Um Tudo Mesmo Sem Te Tocar Traga-me a Cabeça de Lima Barreto Um Vânia Uma Mulher Impossível

ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL Bonito Com o Rei na Barriga Passaredo Passarinholas Sobre o Menino Que Queria Voar Virgulino Menino, Futuro Lampião  

DIREÇÃO Alda Valéria, pelo espetáculo Espanca: Um Drama em Flor Djalma Thürler, pelo espetáculo Uma Mulher Impossível Fernando Guerreiro, pelo espetáculo De Um Tudo Gil Vicente Tavares, pelos espetáculos Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia Queila Queiroz pelo espetáculo E Contar Tristes Histórias das Mortes das Bonecas  

ATOR Fernando Santana pelo espetáculo Mesmo Sem Te Tocar Hilton Cobra pelo espetáculo Traga-me a Cabeça de Lima Barreto Leonardo Teles pelo espetáculo E Contar Tristes Histórias das Mortes das Bonecas Marcelo Flores pelo espetáculo Um Vânia Marcelo Praddo pelos espetáculos: Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia  

ATRIZ Isadora Werneck pelos espetáculos Um Vânia e Eudemonia Júlia Anastácia pelo espetáculo Sublime é a Noite Mariana Moreno pelo espetáculo Uma Mulher Impossível Paula Lice pelo espetáculo A Persistência de Todas as Coisas Uerla Cardoso pelo espetáculo Espanca: Um Drama em Flor  

TEXTO Alan Miranda e Daniel Arcades por De um tudo Djalma Thürler por Uma Mulher Impossível Fernando Santana por Mesmo Sem Te Tocar Gil Vicente Tavares por Os Pássaros de Copacabana Luiz Marfuz por Traga-me a Cabeça de Lima Barreto  

REVELAÇÃO Agamenon de Abreu pela Direção do espetáculo Mesmo Sem Te Tocar Ana Mametto como Atriz pelo espetáculo De Um tudo Bira Freitas pela Cenografia do espetáculo Espanca: Um Drama em Flor Leonardo Teles por Cabelos e Maquiagem do espetáculo Com o Rei na Barriga Letícia Bianchi pela Direção do espetáculo Eudemonia  

CATEGORIA ESPECIAL Agamenon de Abreu pelo Figurino dos espetáculos Encruzilhada, Sublime é a Noite e Eca! Quanta Sujeira! Barbara Barbará pela Direção de Movimento do espetáculo Os Pássaros de Copacabana Elinas Nascimento pela Direção Musical do espetáculo Woyzeck – Zé Ninguém Gerônimo Santana pela Composição Musical do espetáculo De Um Tudo Luiz Guimarães pela Iluminação do espetáculo Sobretudo Amor