Em um ano, preço da gasolina sobe quase o dobro do diesel em Salvador

Apesar das reclamações dos caminhoneiros, a maior alta nos combustíveis atingiu um universo maior de consumidores

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  • Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2019 às 06:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

Apesar de toda a movimentação dos caminhoneiros, em torno dos aumentos no preço do óleo diesel, a gasolina foi o combustível que mais aumentou nos postos de combustíveis em Salvador nos últimos 12 meses. O preço médio de um litro do produto saiu de R$ 4,177 em abril do ano passado para R$ 4,505 no último mês de março, de acordo com o Levantamento de Preços da Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANP). Em relação aos preços praticados há um ano, a alta foi de 7,85%. 

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No mesmo período, o preço médio do diesel passou de R$ 3,325 para 3,460, registrando uma alta de 4,06%. O etanol, outra opção para motoristas que possuem veículos flex em Salvador, teve uma variação de 4,52% entre abril do ano passado e março deste ano, com o preço do produto passando de R$ 3,37 para R$ 3,488. Desde maio do ano passado, após paralisações de caminhoneiros em diversas estradas do país, o governo estabeleceu medidas para limitar os aumentos do diesel, mas deixou os demais combustíveis sujeitos às variações do mercado. 

Nacionalmente, os preços do litro do diesel registraram uma alta de 2,85% entre abril e março, mas após a mobilização nas estradas, em maio, os preços do litro caíram de R$ 3,629 para os atuais R$ 3,53, o que representa uma queda de 7,68%. De lá para cá, teve altas em setembro e outubro, quando chegou a bater nos R$ 3,706 e voltou a cair, até o último mês de janeiro, quando iniciou um movimento de alta. 

A gasolina teve alta de 0,2% no mercado nacional, entre abril de 2018 e março deste ano. Assim como o diesel, registrou o maior preço em outubro, quando atingiu a média de R$ 4,717 por litro, e vinha caindo até o último mês de fevereiro. 

Alta nas margens O que teve movimento uniforme aqui em Salvador, tanto no caso da gasolina quanto do diesel, foi o aumento nas margens aplicadas pelos postos de combustíveis nos últimos 12  meses. No caso da gasolina, a diferença entre o preço do produto adquirido junto aos distribuidores e o aplicado nas bombas teve um aumento de R$ 0,207, o que representou um acréscimo de 45% em 12  meses. 

A margem média aplicada na venda do litro do diesel passou de R$ 0,239 para R$ 0,317, registrando um aumento de aproximadamente 32%. No caso do etanol, a diferença entre o litro do combustível adquirido junto às distribuidoras e o vendido ao consumidor final foi de aproximadamente 38%. 

Nos três casos, os aumentos aplicados pelos postos de combustíveis superaram os da média nacional, de acordo com os dados da ANP.

Preços este ano   Em 2019, o reajuste promovido pela Petrobras para a gasolina vendida nas refinarias chega a quase 30%, enquanto o do diesel soma 24%.  O consumidor, porém, ainda não sentiu o impacto total desses reajustes, pelo fato de as distribuidoras estarem absorvendo parte do aumento. Além disso, a Petrobras não repassou todos os ajustes da cotação do petróleo no mercado internacional.

Pelas contas do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, para compensar integralmente a paridade internacional, só nos últimos 30 dias a estatal teria de ter elevado em R$ 0,18, e não em R$ 0,11, o preço do litro da gasolina. “Nesse período, a cotação internacional subiu 11% e a Petrobras reajustou a gasolina em 6%”, explica. 

A decisão das distribuidoras de absorver parte do reajuste praticado pela Petrobras também tem poupado um pouco os consumidores. No primeiro trimestre, o aumento nas bombas de gasolina nos postos foi de apenas 0,7%, ante uma alta de 20,2% nas refinarias no mesmo período, segundo dados da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural).

“Revendedores e distribuidores estão abrindo mão de margem para garantir o volume de vendas e manter competitividade”, explicou o presidente executivo da Plural, Leonardo Gadotti. “É preciso estar atento ao fato de que o valor dos combustíveis nunca sobe na mesma magnitude do reajuste nas refinarias. O aumento do preço na refinaria é diluído ao longo da cadeia”, disse.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a alta da gasolina começou a pesar mais no bolso do consumidor este ano a partir de março, quando foi responsável por 16% da inflação de 0,75% registrada pelo IPCA. O produto é o terceiro item que mais afeta o orçamento das famílias brasileiras, atrás apenas da refeição consumida fora de casa e do custo do empregado doméstico.

“Provavelmente os postos de combustíveis estão repassando a alta agora porque talvez tivessem estoque de combustível que compraram antes do aumento”, analisa o economista Fernando Gonçalves, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

Impacto econômico  Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar Almeida, quanto mais segurar o preço, pior para a economia, porque quando o ajuste vier terá de ser alto, levando em conta a continuidade do aumento da cotação do petróleo no mercado externo e a desvalorização do real no mercado interno. Almeida estima que o petróleo não vai parar de subir no curto prazo, por conta da pressão da demanda, junto com uma queda de oferta provocada por países como a Venezuela e a Líbia.