Em visita à Bahia, Bolsonaro despeja lenha na fogueira política

Presidente repete ameaças à democracia e fala em ultimato nos atos do dia 7

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 4 de setembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Marcos Correa/PR

Desde que entrou em rota de colisão com o Supremo Tribunal Federal (STF), a quem acusa de agir arbitrariamente para atrapalhar seu governo e emparedar aliados , o presidente Jair Bolsonaro adotou a retórica de ruptura, amplificada por frequentes ameaças de ultrapassar os limites constitucionais. O tom das declarações subiu gradativamente nos últimos dias, no compasso das manifestações marcadas para Sete de Setembro. Na sexta-feira (3), durante a terceira visita à Bahia este ano, o volume ficou ainda mais alto. Ao convocar mais uma vez apoiadores a participar dos atos na próxima terça, Bolsonaro disse que as manifestações serão um “ultimato” a “duas pessoas” que, segundo ele, estariam atrapalhando seu governo. Não citou nominalmente a quem se referia. Mas nem precisava dizer que os alvos eram os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que também comanda o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambos são considerados inimigos políticos pelo presidente. “Não podemos admitir que uma ou duas pessoas, usando a força do poder, queiram dar outro rumo para nosso país. O recado de vocês, povo brasileiro, nas ruas, na próxima terça-feira, dia 7, será um ultimato para essas duas pessoas”, declarou, ao discursar na solenidade de assinatura da concessão da Fiol, em Tanhaçu, Sudoeste baiano. “Eu duvido que aqueles um ou dois que ousam nos desafiar, desafiar a Constituição, desrespeitar o povo brasileiro, saberá voltar para o seu lugar (sic). Quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo”, emendou.

Aposta nas manifestações para sobreviver à crise e aos desgastes    Bolsonaro já deixou claro o que busca nos protestos: a imagem ao lado de uma multidão na tentativa de ganhar gás para sobreviver ao choque entre Poderes, estimulado por ele próprio, e às crises sanitária e econômica. No mesmo diapasão, quer mostrar força, em meio à perda de popularidade e de apoio nas classes política e empresarial. Para isso, vale até mirar o Estado Democrático de Direito. 

“Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Ali temos tudo o que precisamos. Mas, se alguém quiser jogar fora das quatro linhas, nós mostraremos o que poderemos fazer também (...). Vamos derrotar aqueles que querem nos levar para o caminho da Venezuela”, acrescentou, enquanto ouvia parte do público presente à cerimônia gritar o novo lema dos bolsonarista: “Eu autorizo”.

Postura incendiária enfrenta forte reação   A postura incendiária de Bolsonaro, no entanto, enfrenta forte resistência. Na quinta-feira (2), o presidente do STF, Luiz Fux, disse que a Corte está vigilante aos protestos do Dia da Independência e não tolerará atos atentatórios à democracia. Em reunião com o Fórum de Governadores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que não se negociam princípios democráticos e que qualquer “intervenção ou autoritarismo tem que ser rechaçado”. Lideranças do empresariado paulista e mineiro, dirigentes de grandes bancos e parte dos governadores também integram o coro contra as ameaças de ruptura. Em recado direto a Bolsonaro, o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, apimentou a reação:  “Muitos, em nome de ideologias, dedicam-se a agressões e ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população. Quem se diz cristã ou cristão deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com armas”.

PF prende blogueiro bolsonarista

A Polícia Federal prendeu na sexta-feira (3) o blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza, alvo do inquérito aberto para investigar a organização de atos violentos no feriado de 7 de Setembro. A ordem de prisão foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). “A medida, cumprida em Brasília, tem o objetivo de aprofundar investigações em curso nos autos de inquérito que tramita naquela Corte”, informou a PF. O blogueiro já havia sido alvo de buscas no último dia 20, na operação que atingiu o cantor Sérgio Reis. Ele também teve o canal de YouTube e o perfil no Instagram suspensos. Macedo se apresenta nas redes sociais como jornalista e coordenador nacional da Marcha da Família. Entre fevereiro e outubro de 2019, ocupou o cargo de assessor da Diretoria de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Ele foi apontado pela PGR como um dos responsáveis pela divulgação de ‘ato violento e antidemocrático’ previsto para o feriado.

Embaixada dos EUA pede que americanos evitem locais de protestos

No mesmo dia, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil alertou americanos que estejam no país a evitar áreas próximas aos protestos.  “São esperadas manifestações nas principais cidades do Brasil na terça-feira. A Embaixada adverte os cidadãos dos EUA a evitar áreas próximas a protestos e manifestações, já que mesmo as manifestações destinadas a ser pacíficas podem se tornar conflitantes”, diz a postagem publicada pela embaixada no Twitter.