Embalagens são porta de entrada para pragas

Pesquisa feita no Porto de Santos mostra aponta riscos para o setor agropecuário do Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

A fiscalização de produtos importados embalados em madeira deve aumentar nas próximas semanas. Um estudo realizado por auditores fiscais federais agropecuários apontou riscos de entrada de pragas no Brasil através destas embalagens.

A pesquisa foi realizada a partir da análise de 461 casos de pragas encontradas em caixas, pallets e outras embalagens de madeira que chegaram ao Brasil pelo Porto de Santos. O período do estudo começou em 2015 e terminou em 2017.

Em 18% dos casos, as pragas encontradas ainda não existem no Brasil. Mas os auditores adiantam que elas podem causar impactos econômicos graves caso se instalem no pais."A introdução de pragas florestais atualmente ausentes no Brasil pode causar prejuízo econômico e social direto, caso atinja as florestas plantadas, e danos ambientais imensuráveis, caso atinja matas e florestas naturais", conta o auditor fiscal federal agropecuário, Marlos Vicenzi.Exemplos não faltam. Desde que se instalou no Brasil, em 2001, a praga da “ferrugem asiática da soja”, causada pelo fungo Phajopsora pachyrhizie, provocou um prejuízo de US$ 20,8 bilhões de dólares para os produtores rurais.

O estudo mostrou também que 57% das pragas quarentenárias detectadas durante a fiscalização vieram da Índia. A Cingapura é o segundo país de origem com maior percentual de pragas nas embalagens, cerca de 6%.

As pragas quarentenárias são aquelas originárias em outros países, mas que mesmo sob controle permanente, são consideradas uma ameaça para a agricultura do país que fez a importação. 

A maioria das pragas analisadas no estudo foi detectada através da presença de vespas e besouros que estavam nas embalagens.

Segundo a Embrapa, entre as pragas consideradas quarentenárias para o Brasil, estão as moscas das frutas. Como o próprio nome sugere, elas atingem a fruticultura brasileira, principalmente as mangueiras.

O Porto de Santos é o maior da América Latina, serve de ponto de partida e entrada para mais de 113 milhões de toneladas de carga. Dos mais de 2 milhões de contêineres que passaram por lá entre 2015 e 2017, aproximadamente 700 mil transportavam cargas importadas.

Os auditores agropecuários dizem que é necessário implementar mais estratégias de fiscalização e gerenciamento de risco em todos os portos do Brasil."Com um sistema que permita correlacionar de maneira objetiva as informações sobre as cargas importadas com nosso histórico de interceptações de pragas é possível atuar de maneira mais assertiva. Hoje, abrimos 16% dos contêineres e encontramos irregularidades em 1%. Com o avanço no gerenciamento de risco teríamos uma redução significativa destes números, contribuindo para a facilitação do comércio internacional", aponta Vicenzi.Portaria

O estudo está sendo divulgado seis meses depois do próprio Ministério da Agricultura ter publicado uma portaria que tornava mais simples e segura a vigilância dos produtos agropecuários. A medida definiu regras e novos procedimentos de controle através do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro).

Com um número reduzido de fiscais e técnicos para atuar em todo o país, os fiscais sugerem uma alternativa para diminuir os riscos. "O objetivo do gerenciamento de risco é direcionar as ações de inspeção, reduzindo o número de inspeções nas importações de menor risco fitossanitário, que são a maioria, e aumentando o número de intervenções nas importações de maior risco", complementa.

Atualmente existem 2,7 mil fiscais na ativa. Eles atuam nas áreas de auditoria e fiscalização, desde a fabricação de insumos, como vacinas, rações, sementes, fertilizantes e agrotóxicos, até o produto final, como sucos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e produtos vegetais.

Em fevereiro deste ano, fiscais da vigilância agropecuária internacional, ligados ao Ministério da Agricultura, evitaram a entrada no Brasil do besouro chinês ou oriental. A praga, que poderia ter causado prejuízos milionários à fruticultura brasileira, foi encontrada em restos de embalagem de madeira usados como calços de cargas no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O material era procedente de um voo de Amsterdã, na Holanda, e foi destruído assim que detectado o problema.

As embalagens de madeira são usadas para transportar produtos vegetais e outros tipos de cargas como motores, veículos desmontados, máquinas e autopeças. O estudo completo foi divulgado esta semana na Revista de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Desde setembro deste ano, o MAPA determinou também o reforço da vigilância nos portos, aeroportos e fronteiras, para diminuir os riscos de entrada da Peste Suína Africana (PSA) no Brasil. A doença está erradicada no país desde 1984, mas vem se alastrando em nações da Ásia, África e Europa.

No último dia 6 de outubro, um foco da Peste Suína Clássica (PSC) foi confirmado em Forquilha, no Ceará. A doença afeta apenas suínos, é menos agressiva que a PSA, e não causa danos a saúde humana. A PSC já existe no Brasil, mas nenhum caso era registrado desde 2009.

Para evitar que a doença se espalhe por zonas livres, um plano de contenção do surto está sendo colocado em prática pelo Ministério da Agricultura.