Empoderadas, Larissa Luz, Pitty e Karina Buhr clamam por respeito

À frente do Respeite as Minas, as cantoras puxaram trio sem cordas no Circuito Osmar 

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  • Tailane Muniz

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Marina Silva/CORREIO

Elas chegaram impondo respeito. O trio parada dura composto pelas cantoras Larissa Luz, Pitty e Karina Buhr entrou na passarela oficial do Circuito Osmar, no Campo Grande, e mandou o recado: "a culpa nunca é nossa, ok?", disse Larissa, anfitriã da noite, em referência aos casos de violência contra as mulheres.

Com um look black ousado, a cantora encarou a missão não só de arrastar uma multidão - que, empolvorosa, colou no trio sem cordas puxado pelas minas -, mas também de levar conhecimento aos foliões que curtiram a folia no Centro, nesta segunda-feira (12)."Usar nossa arte como camisa política para provocar uma emancipação dos nossos corpos, por meio do Respeite as Minas, alcançar uma liberdade tão necessária para que a gente possa andar nas ruas, usar a roupa que a gente quiser e tirar a visão de que nosso corpo é um objeto sexual é muito bom. É libertador", afirmou Larissa ao CORREIO. E foi a busca pela liberdade de ser quem quiser que levou a economista Priscila Martins, 29 anos, a fechar com minas atrás do trio. "É importante porque incentiva e ajuda a combater os casos de violência e falta de respeito para conosco. A ideia do trio traz visibilidade, faz com que a sociedade baiana esteja mais consciente dessa causa, que é de todas nós", ponderou ela, que estava acompanhada das amigas. As economistas Priscila Martis, Eline Matos e Rayane Nunes colaram no trio (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Ao som de Admirável Chip Novo, um de seus maiores sucessos, Pitty deu o ar da graça. Acompanhada, em coro, por mulheres, homens, adolescentes e até crianças, a baiana não poupou sorrisos. Fãs da roqueira, as estudantes Glenda Silva, 22, e Trícia Pablina, 18, eram só alegria. "Estamos felizes por ser algo voltado para nós e pela participação de Pitty. "Precisamos ser respeitadas hoje e sempre, porque a luta é diária", salientaram as jovens, que, pelo segundo ano, acompanharam o Respeite as Minas.

Convidada da anfitriã, Pitty afirmou que o Carnaval de Salvador passa por um processo de redemocratização."É um espaço que se abre, dentro da folia, para diálogos, conversas sobre um tema tão importante. Fiquei muito feliz com o convite para participar desse trio e desse projeto com outras artistas que admiro tanto", comentou ela, que cantou algumas de suas músicas com uma roupagem mais voltada para o axé. Segundo Pitty, para ficar mais "na pegada" de Larissa Luz.Antes mesmo das artitas subirem no trio, o jornalista Ruan Fernandes, 24, já estava lá, na concentração, à espera do power trio. "Trazer isso [o projeto] para essa festa gigantesca, com gente de tantos lugares, de tantas idades é de uma grandiosidade enorme. Eu, como homem, me sinto muito feliz de poder participar e poder pregar o respeito às mina, ao manos e às monas", salientou, aos risos. Para ele, a campanha é importante para que os homens se conscientizem.  Os amigos Denner Abreu, Rafael Santos, Ruan Fernandes, Felipe Araújo e Laila Lopes chegaram cedo (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Segunda convidada da noite, a cantora Karina Buhr avaliou como importante a presença dos homens no movimento."É bom que eles estejam aqui, afinal, é um recado para eles, porque o problema não está na gente, está neles. Nós somos vítimas, eles é que têm que mudar. Às vezes parece que nossas bundas são coisas independentes dos nossos corpos, é uma coisa insuportável", salientou Buhr, que é baiana e foi radicada em Pernambuco. Violência no Carnaval Em cima do trio, a secretária estadual de Política para as Mulheres, Julieta Palmeira, disse que o Respeite as Minas é um projeto que veio para ficar. "É muito importante para nós realizar essa campanha, que é permanente. Trazer essa discussão para o Carnaval é essencial porque nós sabemos que é uma questão de machismo, sexismo, misoginia. É algo que precisa ter um fim e essa é nossa maneira de contribuir", disse à reportagem. 

Conforme Julieta, os registros de violência contra as mulheres diminuíram em relação à folia em 2017. "Os boletins da Secretaria da Segurança Pública têm mostrado que [os números] são menores, em relação ao ano passado, sim", concluiu ela, acrescentando que um balanço deve ser divulgado na quarta-feira (14).

Embora, segundo Julieta, os números de violência tenham um indicativo menor, para Larissa Luz o respeito às mulheres é uma luta diária. "É um caminho longo, árduo, não  é uma ação avulsa que vai resolver as coisas. A gente tem que tocar nisso o tempo inteiro. A gente vai ter que ficar falando".

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"Podemos falar de outras coisas, de outros temas, mas isso vai estar sempre permeando o meu discurso, meu repertório, minhas vivências, minhas experiências, porque é algo que me incomoda e eu não consigo ver e ser conivente, fingir que não estou vendo", salientou Larissa.

Munida com as plaquinhas de 'pode' e 'não pode', a estudante Laila Lopes, 16, acredita que o Respeite as Minas funciona como a voz das mulheres dentro da folia. "São cantoras lindas, empoderadas e elas falam por todas nós. É preciso ter respeito", disse ao CORREIO. E na hora de responder o que pode e não pode, sem titubear, Laila manda a resposta na lata: "só pode o que a gente quiser".