Empolgados turistas no Carnaval

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  • Nelson Cadena

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 05:00

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Italianos, americanos, argentinos, uruguaios e, brasileiros do sul do país, foram alguns dos grupos de turistas qualificados, recepcionados em alto estilo pelos órgãos de turismo da Bahia, convidados de ocasião, para brincar o Carnaval em diferentes épocas.

Os italianos de Turim chegaram no escaldante verão de 1934, a bordo do navio Neptunia, após ter enfrentado temperaturas, vários graus abaixo de zero, nas montanhas da Pérsia (Irã). Eram alpinistas e a folia baiana foi apenas um refresco, logo mais enfrentariam as alturas e o frio da cordilheira andina, no Chile. Na Bahia foram recepcionados pela colônia italiana, na comitiva uma mulher: a Marquesa Thaon de Revel, filha do ministro da Marinha, o almirante Revel.

Os americanos invadiram as ruas e clubes da cidade e alguns desfilaram em corsos, no Carnaval de 1943. A maioria de cabelos loiros, olhos azuis, atléticos. Portavam garrafas de whisky na mão e assoviavam para as mulheres que maravilhadas com os estrangeiros abriam um sorriso de boca a boca. Não eram turistas convencionais e sim fuzileiros navais que se encontravam em Salvador desde o ano anterior. Praticavam exercícios no Solar do Unhão e na base militar de Santo Amaro do Ipitanga.

A Tarde noticiou: “Marinheiros do Tio Sam participam do Carnaval baiano” e destacou “Guizos no lugar de bombas”. A reportagem descreveu “os marines, no meio das gurias, para lá de exaltadas” e contou que já animados pelo álcool entravam nos cordões “fazendo extravagâncias e passos de suingue, ora com a cadência dos novos frevos e sambas”. Se fartaram de bebidas e lança-perfumes.

Argentinos e uruguaios já eram presença regular no Carnaval baiano, desde a década de 1920, em pequeno número. A longa viagem de navio era um empecilho. Na década de 1960, já representavam um contingente expressivo, graças ao trabalho de divulgação de Vasconcelos Maia, à frente da Secretaria de Turismo. A Prefeitura, empolgada, exagerou na receptividade e botou representantes no júri oficial para avaliar Escolas de Samba, Cordões e Pequenos Clubes. Sem entenderem patativas de nossa música, coreografias e estética das agremiações, podemos imaginar a qualidade e confiabilidade das notas desses turistas nas planilhas.

Os brasileiros vieram, centenas deles oriundos do Rio, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, em voos fretados da Cruzeiro do Sul. Turistas endinheirados, da alta sociedade, estimulados pela campanha publicitária e de relações públicas que envolveu formadores de opinião das colunas sociais dos principais jornais e revistas. Jacinto de Thormes e Ibrahim Sued, inclusive. Campanha da Dória & Associados, de João Dória, na época coordenador de um audacioso plano de turismo para Salvador.

Os turistas vieram em 1956, a pretexto de participar do baile do Galo Vermelho, no Hotel da Bahia. Os anúncios ilustrados por Carybé e com o logotipo do galo criado pelo artista cearense Aldemir Martins, destacavam uma convidativa programação de extensão do baile referido: banho a fantasia nas praias de Itapuã; almoço típico com exibição de capoeira, na Lagoa de Abaeté; excursão marítima pela Baia de Todos os Santos com danças a bordo e ingressos para as festas dos melhores clubes sociais de Salvador.

O baile propriamente dito exibiu em cenário de sonhos, na competente decoração-ambientação criada por três ases das artes plásticas: Mario Cravo, Carybé e Genaro de Carvalho. No palco, Linda Baptista mereceu os aplausos da plateia; Russo do Pandeiro, também, no comando das baterias das três Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras.