Empresário baiano é eleito presidente de fórum das Nações Unidas

Após dois anos de contribuição efetiva, foi reeleito em outubro do ano passado para mais um mandado de dois anos

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O empresário e economista Wilson Andrade, que é o diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf),  foi eleito presidente do Conselho Consultivo (CC) do Fundo Comum de Commodities (CFC) da Organização das Nações Unidas (ONU), para o biênio 2019 e 2020. O CFC é formado por 104 países-membros com a missão de apoiar o desenvolvimento econômico, social e ambiental através de incentivos à produção de commodities em todo o mundo.

A eleição (unânime) aconteceu durante a reunião realizada na última semana de janeiro.  Ele acredita que a sua presença no órgão amplia a oportunidade de financiamento para pesquisas e projetos de desenvolvimento de commodities na Bahia e no Brasil. Andrade é conhecido pela forte atuação na área internacional defendendo o agronegócio da Bahia e do Brasil e foi foi indicado como conselheiro do CFC em 2017/2018, sendo reeleito para mais um mandato antes de ser escolhido como presidente do conselho.

Wilson Andrade (de gravata azul à direita) integra o Conselho Consultivo, órgão que tem a responsabilidade de sugerir sistemas de análise de risco dos projetos, efeitos ambientais e impacto social e econômicovisando os 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis da ONU (foto:Divulgação)  Quais serão suas principais metas como presidente do Conselho Consultivo (CC) do Fundo Comum de Commodities (CFC) da Organização das Nações Unidas (ONU)?

Rever e aprimorar as metas do CFC para os anos de 2019 e 2020 de acordo com as sugestões recebidas dos colegas do CC, que tem representantes dos seguintes países: Rússia, China, Argentina, Uganda, Burundi, Índia, Malásia, Brasil, além da União Europeia. Estes representantes são especialistas em desenvolvimento na área de commodities, alguns deles tendo ocupado importantes cargos do agronegócio em seus países, tanto na área empresarial quanto governamental, e são escolhidos e indicados pelos 104 países-membro do CFC. Isso visa o cumprimento do objetivo principal do fundo, que é o desenvolvimento das commodities com benefício para todos. Iremos acompanhar também uma distribuição, tanto quanto possível, equânime dos projetos aprovados para evitar a concentração por tipo de commoditie, por país (e continente) de destino e por segmento da cadeia produtiva de valor. Estes segmentos incluem não somente a produção, mas também o processamento, embalagem, marketing e inovação transversal. O CC tem também a responsabilidade de sugerir sistemas de análise de risco dos projetos, efeitos ambientais e impacto social e econômico sempre visando os 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis da ONU (ODS). 

Qual a importância de um baiano estar à frente da CC?

Significa buscar e trazer informações e oportunidades que sejam diretamente de interesse do Brasil e da Bahia. Um representante brasileiro terá conhecimento não só das oportunidades do fundo (que são muitas), mas também de outros órgãos da ONU e de fundos de investimentos internacionais de vários países, a exemplo do Governo da Alemanha, da Bélgica, da Holanda, e da OPEP. Os especialistas que fazem parte do CC têm a oportunidade de conhecer e analisar, em primeira mão e detalhadamente, cerca de 50 projetos por cada edital de abertura de propostas do CFC (que acontece duas vezes por ano, em abril e agosto), além do acervo de projetos anteriormente aprovados e em andamento. Estes projetos contemplam as principais commodities que temos no Brasil, como madeira, cacau, pescado, grãos, frutas, café, mandioca, fibras naturais e vegetais. Além disso, podemos levar projetos e oportunidades demandados pelo agronegócio brasileiro e trazer informações adicionais sobre todos os projetos analisados. Com isso podemos aprender com outros exemplos e projetos.

Na sua opinião, como a Bahia e o Brasil podem ampliar as relações e negociações no âmbito das commodities no mundo?

O Brasil já tem uma posição de líder na área do agronegócio mundial. É o celeiro mundial e tende a crescer ainda mais, ampliando seu fornecimento de alimentos, fibras e energia a partir da nossa produção agropecuária. A preocupação, então, com as ações do CFC é fazer com que os benefícios gerados pelas commodities possam atingir todos os envolvidos nas cadeias produtivas, notadamente os pequenos produtores e em regiões menos favorecidas.   Como o agronegócio pode ajudar nesse processo?

Mesmo com este excelente resultado, tendo um bom mercado interno, terras disponíveis para novos investimentos e uma população carente de trabalho e empreendedorismo, o agronegócio brasileiro ocupa apenas 7% do território nacional. Cabe, portanto, a necessidade de os players nacionais buscarem os fundos de desenvolvimento como o CFC, e muitos outros, para crescer ainda mais. Registre-se que somos a 6ª economia do mundo e temos apenas 1% das exportações mundiais, mesmo percentual de 15 anos atrás. Vejo aí, portanto, uma oportunidade de crescimento para os produtores e indústrias, ou seja, para o agronegócio e o Brasil como um todo.

Em termos de desenvolvimento sustentável, como a sua gestão pretende atuar?

Um dos principais itens considerados para indicação dos projetos apresentados é o impacto social e econômico, além de sua abrangência e a possibilidade de inclusão. Mas o item meio ambiente é também fortemente contemplado. Todos os projetos devem utilizar boas práticas agrícolas, trabalho justo, reciclagem de resíduos, economia de água, utilização de energias renováveis, atingindo assim vários dos ODSs da ONU. Ou seja, há a preocupação de gerar emprego, renda e negócios com benefícios para o meio ambiente, visando a produção de mais com menos e com a meta de lixo zero. Vamos ver o exemplo do sisal, que tem forte importância no social do semiárido baiano, mas gera 2 bilhões de litros de líquido (resíduo do desfibramento) por ano que ainda não são aproveitados. Estamos buscando recursos do fundo com este objetivo, pois o “suco” do sisal pode ser utilizado na indústria de produtos veterinários e fármacos, resultando em benefícios para a cadeia produtiva e para o meio ambiente.

Quais as possibilidades de atuação no Estado, especificamente no quesito geração de emprego e renda?

A Bahia tem grandes áreas e regiões com grande potencial agropecuário ainda não devidamente explorados e dispõe de mão de obra, insumos e terras abundantes. Além disso, temos conhecimento técnico. Faltam recursos que podem ser buscados internacionalmente. Por isso é importante a nossa participação no sistema da ONU, através do CFC, que apoia projetos de commodities. Para melhor disseminação das oportunidades que o CFC representa, estamos montando com a Unijorge (Centro Universitário Jorge Amado) e a Comissão de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Associação Comercial da Bahia (Comex-ACB) uma parceria que visa a divulgação da oportunidade, capacitação de projetistas e acompanhamento de projetos locais. A divulgação é feita junto às entidades empresariais (Faeb, Fieb, Fecomércio, ACB, Aiba, Abrapa, ABAF, Assocafé, sindicatos industriais, sindicados rurais, cooperativas etc.), aos agentes de desenvolvimento (bancos, Desenbahia, Sebrae, fórum das pequenas empresas da SDE, câmaras setoriais etc), aos agentes governamentais (Seagri, SDE, SDR etc.),na área nacional (CNI, CNA, CNC, academias, institutos de pesquisas, consultorias especializadas em desenvolvimento de projetos agro etc.), entre outros. Mais negócios geram mais emprego e renda. Por exemplo, quantas agrovilas podem ser criadas ao longo da Ferrovia Leste-Oeste, com custo de logística viável? O planejamento e a implantação de 10 agroempreendimentos ao longo da ferrovia, principalmente no conceito Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (iLPF) gerariam milhares de empregos, ajudando na desconcentração do desenvolvimento regional. As cidades ao longo da ferrovia podem e devem ser, desde que devidamente planejadas e executadas por governo e iniciativa privada, grandes centros produtores, a exemplo do Oeste da Bahia, com os grãos e as fibras, do Sul da Bahia com o setor florestal, da região do semiárido com o sisal e da pecuária espalhada em todo o estado.  

Algumas empresas brasileiras estão se dedicando a cumprir das ODS com bastante êxito e destaque. Na sua opinião, como os setores da economia baiana podem avançar no desenvolvimento sustentável?

Os projetos elegíveis para aprovação no CFC visam todos os 17 ODSs, dentro os quais destacamos quatro principais: objetivo 1 – fim da pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares; objetivo 2 – reduzir a fome, promovendo a segurança alimentar e elevando a nutrição através da agricultura sustentável; objetivo 8 – promover o crescimento econômico sustentado incluindo empregos produtivos e trabalho decente para todos; e objetivo 10 – reduzir as inequidades dentro e entre os países.

No aspecto desenvolvimento sustentável, especificamente no que tange à agricultura, há parcerias ou planos a serem desenvolvidos com o governo do Estado? 

Sim. Dentre as organizações privadas e governamentais que indicaram nosso nome para o CFC, em nível estadual e nacional, está a Secretaria de Agricultura da Bahia, a qual estamos buscando para – em conjunto com as demais secretarias relacionadas com o tema – reuniões e seminários de divulgação das oportunidades do CFC e da criação de caminhos que facilitem o acesso do agronegócio da Bahia, principalmente dos pequenos produtores que podem estar reunidos em associações, cooperativas, sindicatos etc.

Quais as novidades para a apresentação de projetos da CFC?

Foi publicada em 12 de fevereiro uma nova chamada de propostas, com prazo de inscrição até 15 de março. Estas propostas serão consideradas na próxima reunião do CFC na primeira semana de julho. O segundo edital do ano será lançado em agosto, cujas propostas serão consideradas em janeiro de 2020. São dois editais por ano e que podem participar empresas (pequenas, médias e grandes), agências de desenvolvimento, fundos de financiamento agropecuário, cooperativas, associações de produtores etc. Por fim, o mundo está pleno de oportunidades, e todos nós - Governo, iniciativa privada, produtores, academia - devemos conhecer e explorá-las, trazendo o capital que nos falta, com mais eficácia, para contribuir com a nossa maior internacionalização. Tudo isso visando uma recuperação mais célere do nosso país, aproveitando o momento positivo de novos investimentos e abundância dos recursos naturais brasileiros somados à tecnologia e empreendedorismo do nosso país. Tudo isso trará a todos melhor condições de vida e crescimento sustentável.

Quem é

ONU  Diretor Executivo da ABAF que congrega empresas produtoras de celulose, papel, mineração,energia, móveis, que utilizam madeira de florestas plantadas. É representante da FIEB na Coalisão Empresarial Brasileira(CEB).Professor de Economia Internacional, Comércio Exterior.Presidente do Conselho Consultivo (CC) do Fundo Comum de Commodities (CFC) das Nações Unidas para o período de 2019/2020.