Empresários na mira: Governo aponta certeza da participação de empresas na greve

Polícia Federal instaura 37 inquéritos em 25 estados para apurar a prática ilegal de locaute na paralisação dos caminhoneiros

Publicado em 28 de maio de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

No sexto dia de paralizações das estradas pelo país, o governo federal reuniu o gabinete de crise instalado no Palácio do Planalto e passou o sábado em reuniões para avaliar perdas e decidir as medidas que poderiam acabar com a greve. Nos discursos ficou clara uma certeza – a participação dos empresários no movimento que parou o país.

A Polícia Federal instaurou 37 inquéritos em 25 estados para apurar a prática ilegal de locaute, quando a paralisação dos funcionários tem iniciativa ou apoio das empresas. Segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, mandados de prisão já foram expedidos, mas ele disse que não poderia informar se já tinham sido cumpridos por uma questão de segurança. De acordo com ele, os responsáveis estão sendo convocados para prestar depoimentos.

“Temos comprovado, seguramente, que essa paralisação por caminhoneiros autônomos, em parte, teve desde seu início a promoção e o apoio criminoso de proprietários e patrões de empresas transportadoras distribuidoras e podem ter certeza que irão pagar por isso”, afirmou o ministro, em coletiva de imprensa ontem à noite, após a segunda reunião do gabinete de crise que acompanha a greve dos caminhoneiros. 

“Identificamos com a maior clareza movimento criminoso de parte dos senhores proprietários donos de grandes empresas, que não permitem, não engajam, não liberam os caminhoneiros. Pelo contrário, lhes dão apoio para permanecer paralisados”, disse Jungmann.

Medidas

Para sufocar o movimento, o governo Michel Temer buscou atuar em três frentes: a Polícia Rodoviária Federal (PRF) entregará ao Ministério Público Federal relatório atualizado de todas as multas aplicadas a caminhoneiros autuados nas estradas no processo de desobstrução; o governo diz que também passou a aplicar multas de R$ 10 mil por dia para caminhoneiros e R$ 100 mil por hora para empresas que continuarem resistindo na greve; e atuação mais efetiva das Forças Armadas na liberação das rodovias consideradas fundamentais para distribuição de combustíveis e produtos essenciais, como hospitalares.

Mais cedo, Temer assinou um decreto no qual permitiu ao governo assumir o controle de caminhões para desobstruir as rodovias. A medida, chamada de requisição de bens, já havia sido anunciada pelo governo na sexta-feira, mas, só seria tomada se houvesse necessidade. Este foi considerado mais um passo de endurecimento com os manifestantes, com que o Planalto está em queda de braço desde sexta, quando não cumpriram o acordo de desobstruir as estradas.

Pelo menos 800 motoristas das classes D e E do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão de prontidão em todo o país para serem empregados, caso haja necessidade. Mas este é considerado um último recurso pelo governo. 

Ao longo do dia, a estratégia do governo de acionar as forças federais conseguiu levar combustível para alguns aeroportos, entre eles o de Brasília, e postos de combustível. A decisão foi tomada depois da primeira reunião de Temer com os ministros, pela manhã, que considerou importante abrir caminho para entrar em todas as refinarias e viabilizar a distribuição de combustível, com militares dirigindo os caminhões.

CADE TAMBÉM APURA PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS NO ATO

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) está investigando a Federação de Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo (Fetcesp) após a divulgação de um vídeo que sugere “sumir com caminhões” e fala de “caos para todo lado”, narrando em detalhes as consequências de uma paralisação durante cinco dias.

Cerca de 20 pessoas físicas e associações estão sendo investigadas pelo Cade por suposta ação coordenada entre competidores e concorrentes para prejudicar a livre concorrência. Em nota, o presidente da federação, Flavio Benatti, afirmou que a intenção “clara” do vídeo é a “conscientização da população sobre a importância do transporte rodoviário de cargas”. Ele disse ainda que o vídeo é de maio do ano passado, embora o site da Federação dê destaque para o “novo” vídeo da Fetcesp.

Um dos trechos do vídeo diz: “Então, os caminhões são o problema? Vamos sumir com eles por apenas cinco dias!”. Em seguida, o locutor narra as consequências do dia a dia sem caminhões: “Já no primeiro dia, você vai perceber que não foi uma boa ideia. Alimentos frescos, essenciais, esgotam nos mercados”. A narrativa aponta que no terceiro dia “postos de gasolina já não têm combustível para vender. No campo, as produções estão estragando, porque não há transporte”.

No quarto dia, afirma o locutor, “os aeroportos são fechados pois, sem combustível, os aviões não podem decolar. Lixo se acumula por toda a cidade, indústrias de vários segmentos não conseguem produzir”. O vídeo então relata a situação no que seria o último dos cinco dias sem caminhões: “Agora o caos está por todo lado. A sociedade entra em colapso, não há transporte público, hospitais e escolas. As pessoas não conseguem seguir sua rotina”.