Empresas compram energia limpa e batem recordes em 2018

Por Eduardo Athayde*

  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 14:57

- Atualizado há um ano

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Os custos dos módulos fotovoltaicos caíram 84% em todo o mundo desde 2010, enquanto os custos das turbinas eólicas caíram 32% em relação ao mesmo período. Um novo relatório da Bloomberg mostra que as corporações já compraram 7,2 GW de energia limpa globalmente até julho de 2018, quebrando o recorde anterior de 5,4 GW para todo o ano de 2017. As empresas já assinaram contratos de longo prazo para comprar energia solar e eólica. 

Junto com as  melhorias de eficiência que impulsionaram as usinas renováveis, essas quedas nos custos tornaram as energias renováveis competitivas em termos de custo, com preços de energia no atacado e fontes tradicionais de eletricidade. Como resultado, as empresas têm fechado contratos de energia limpa, fixos e de longo prazo.

Os Estados Unidos e os países nórdicos representaram  cerca  de 80% da atividade de compras corporativas em 2018. Nos EUA, as empresas ficaram mais confortáveis investindo em projetos solares e eólicos. Nos países nórdicos - um mercado com predominância de corporações com alta demanda de eletricidade e objetivos de sustentabilidade - as empresas são atraídas pelos fortes recursos eólicos e pelo mercado de energia chamado Nordpool, que permite que a eletricidade seja comprada, entregue e vendida entre a Suécia e a Noruega. A Austrália, México e Brasil continuam sendo mercados jovens onde a atividade começa a crescer.

As empresas de tecnologia são as maiores compradoras de energia limpa, comprando 1.8 GW até agora em 2018. O Facebook tem sido o maior comprador corporativo neste ano, trabalhando com empresas reguladas nos EUA e assinando um contrato de energia eólica na Noruega para levar suas compras totais de energia limpa a 1.1GW em 2018.  Fabricantes de alumínio Norsk Hydro e Alcoa, nos países nórdicos, compraram 1,4GW em 2018 e estão usando credenciais de baixo carbono para vender alumínio a um preço premium alguns mercados.

A   AT&T encabeçou um recente empurrão das empresas de telecomunicações para comprar energia limpa comprando 820 MW de capacidade de geração eólica em 2018 - suas primeiras compras de renováveis de todos os tempos. A T-Mobile também anunciou seu compromisso de se tornar 100% renovável.

Empresas já compraram volumes recorde de energia limpa em 2018  

A Bloomberg prevê que essas empresas deverão  de compensar 100% da demanda de eletricidade por fontes renováveis e precisarão comprar mais 197 TWh (Terawatts) de energia limpa até 2030 para alcançar suas metas. Se este déficit for atingido com contratos de longo prazo para novos projetos de energia solar e eólica,  ele vai dar  um adicional de 100 GW de construção, maior do que toda a rede de eletricidade da Califórnia hoje.

No Brasil, o sistema de geração distribuída cresceu rapidamente a partir de 2015 quando, por decisão da Aneel, os consumidores passaram e ser capazes de gerar energia em casa recebendo descontos na conta de luz, o que tornou vantajosa a instalação dos geradores de energia solar. Se uma casa consome 300 kWh no mês e instala painéis solares no telhado que geram 200 kWh, a residência paga apenas os 100 kWh que não gerou. O investimento inicial feito para comprar o equipamento é compensado ao longo dos anos. Em 2015 havia 1.823 unidades geradoras, com potência de 17 mil kW. Em julho de 2018, eram 33,3 mil geradores, com 403 mil kW.

De acordo com a ANEEL hoje existem 32.622 unidades de usinas fotovoltaicas instaladas no país. Só em Minas Gerais estão instaladas 6.595 sistemas, 20% do total, seguido por São Paulo e Rio Grande do Sul com 6.238 e 3.973 sistemas respectivamente. Minas destaca-se também na quantidade de unidades consumidoras que recebem créditos, com 16.037 unidades, correspondendo a aproximadamente 35% do total de 45.917 unidades no país.

Há uma preocupação das distribuidoras em relação ao crescimento acelerado deste mercado. O potencial é grande, a geração de energia solar em telhados de residências em todo o país pode chegar a 286 GWh por ano, o que equivale a quase a metade da geração anual do Brasil, segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética - órgão público responsável por estudos no setor elétrico).  Nas próximas três décadas, segundo a Bloomberg, à medida que os custos das fontes renováveis caírem e a tecnologia aprimorar a flexibilidade das redes em todo o mundo, cerca de US$ 11,5 trilhões em investimentos serão destinados à geração de eletricidade até 2040. Desse total, 85%, ou US$ 9,8 trilhões, serão destinados às energias eólica e solar e a outras tecnologias de emissão zero. 

*É diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil.