Enem: saiba como aproveitar os 30 minutos a mais na prova do segundo dia

Confira aqui dicas de como otimizar o tempo para resolver as questões de Matemática e Ciências da Natureza

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 5 de setembro de 2018 às 02:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O tempo que o metrô de Salvador leva da Estação Mussurunga à Estação da Lapa é exatamente a quantidade extra de minutos concedida pelo Ministério da Educação aos estudantes que vão realizar o Exame Nacional do Ensino Médio 2018 (Enem).  Mas, a meia hora a mais é dada apenas no segundo domingo de prova, que acontece em 11 de novembro deste ano, quando devem ser feitas em 5h as 90 questões de Matemática e Ciências da Natureza, que incluem Química, Física e Biologia.

E, segundo os especialistas, não adianta tentar resolver logo as questões difíceis - gastar muito tempo -, e acabar deixando de lado uma quantidade grande de questões fáceis que poderiam render uma maior quantidade de pontos. Conforme Victor Benevides, professor de Química da Fundação Baiana de Engenharia e do Curso Universitário, quanto mais questões de fácil resolução o aluno fizer, melhor para ele. 

"Tem que responder logo as mais fáceis, sinalizar as médias, e pular as difíceis. O tempo que sobrar, aí sim, ele resolve as difíceis e, desta forma, garante mais pontos", afirmou Victor. O professor explicou, ainda, que o Programa de Resposta Integrada (PRI) - utilizando na correção do Enem - valoriza questões mais fáceis e dá a elas uma pontuação maior. As mais difíceis, segundo o Victor, são menos valorizadas pelo PRI.

"Sendo assim, se o candidato responder o máximo de questões mais fáceis, e voltar para de resolução mais complexa só depois, no tempo que restar, a pontuação dele vai ser muito maior do que se ele seguir a ordem das questões", garante. 

Tempo amigo Victor defende que é importante se planejar para o exame. "São 300 minutos. Ele precisa separar 30 minutos para passar as respostas para o gabarito oficial, porque o aluno não pode nem pensar em errar gabarito", acrescentou. 

O aluno que errar o gabarito, alerta o professor, pode se considerar "praticamente eliminado" do Enem. "Sobram 270 min, que dá uma média de 3 minutos por questão. Obviamente que uma questao mais fácil ele não vai usar os 3 min, vai usar um tempo menor, e esse tempo que sobra que pode ser 1 min. Os 30 segundos ele vai usar para resolver questões mais difíceis e com isso ele consegue administrar, fazendo essa reengenharia de tempo na prova para que ele consiga resolver o máximo de questões possíveis".

Professor de Química no Instituto Dom Educar (Rede FTC), Paulo Castro concorda que as questões mais difíceis devem, sim, ser deixadas para depois. "É uma prova extensa e, se não tiver administração do tempo, que é um aliado, a pessoa sai com oito, nove, dez questões sem responder. É preciso interpretar a questão, identificar a qual conteúdo ela pertence e a partir daí tentar pensar no caminho até a resposta", disse.

"Se ele [estudante] percebe que o formato de resolução é demorada, ele tem que pular essa questão imediatamente", acrescentou.

Paulo comentou, ainda, que é preciso estar atento à estrutura das questões, especialmente Química e Física. "Às vezes têm uns textos que não fazem a manor diferença para a resolução e que consomem muito o tempo. O aluno deve olhar a estrutura e ver se consegue resolver de um modo rápido, uns dois minutos", orientou o professor, que lembrou que as questões mais fáceis têm um peso maior no PRI.

Só no segundo dia As provas de linguagens, ciências humanas e redação, que acontecem no primeiro domingo (4 de novembro), não sofreram alteração no tempo e os alunos continuam dispondo de 5h30 para responder a todas as questões. O coordenador pedagógico do curso Descomplica, Eduardo Valladares, afirma que o segundo domingo concentra questões mais difíceis e que exigem maior atenção dos alunos. “Esse acréscimo de 30 minutos no tempo das provas de Matemática e Ciências Naturais é uma conquista dos próprios alunos, que foi reconhecida pelo Ministério da Educação e vai ser implantada no próximo Enem”, comentou.

Ainda segundo Eduardo, o tempo de realização do exame faz parte da estratégia adotada por cada estudante e não deve se tornar uma regra na hora da prova. Para ele, é necessário conhecer a metodologia adotada pelo Enem antes mesmo de realizar a prova. “As pessoas que fazem concurso com frequência já têm a expertise de realizar provas anteriores, sabem que é necessário conhecer as pegadinhas, os macetes. E isso só acontece com a prática, com a maturidade. O aluno de ensino médio não pode ficar apenas preocupado com o conteúdo da prova, mas, sim, com a forma como o conteúdo vai ser exigido”, afirmou.

O subsecretário de Educação da Bahia, Nildon Pitombo, avalia que o tempo extra deveria ser disponibilizado, também, no primeiro domingo de provas. No entanto, reconhece que o ganho de 30 minutos nas provas de Matemática e Ciências da Natureza é fundamental para a ampliação do desempenho do estudante do Enem. “As provas são de cálculo, de teste de hipóteses e, de fato, precisam de mais tempo para serem resolvidas. O ganho de meia hora vai ajudar o aluno a revisar respostas, refazer questões que tenham ficado incompletas”, disse.

Na Bahia, a escola estadual com melhor desempenho no Enem 2017 foi o Colégio da Polícia Militar Eraldo Tinoco, em Feira de Santana, que ocupou a posição 99 no ranking das escolas baianas da rede pública. Em segundo lugar, aparece o Colégio Militar do Lobato, em Salvador, na posição 203 para as provas objetivas. Neste aspecto, Nildon Pitombo afirmou que o estado disponibiliza aos alunos a participação em clubes de leitura e de ciências, o que permite melhor proficiências nos conteúdos cobrados no Enem.

Eduardo Valladares, do Descomplica, deu uma dica fundamental na hora de fazer a prova, já que o aluno vai estar sem acesso a relógios. “É importante pensar que, se o que se tem são 3 minutos para responder cada questão, em 10 minutos, o aluno deve ter respondido uma média de 4. Então, quando o fiscal da prova retirar do quadro aquele papel que marca 30 minutos de exame, o aluno deve estar com uma média de 12 questões feitas. Mas, isso não é uma regra, já que existem questões que pode ser resolvidas em mais ou menos tempo”, disse.

Método TRI O segundo dia de Enem conta com 90 questões, divididas em 45 de Ciências da Natureza e 45 de Matemática. Desta forma, ao dispor de 5h para realizar todo o exame, o estudante tem uma média de 3,3 minutos para resolver cada questão. Mas, isso não vira regra, uma vez que o MEC utiliza o método TRI para calcular a nota dos estudantes. Essa pontuação funciona como uma régua, na qual a nota 500 é a média de notas obtidas em exames anteriores, e as questões são divididas em fáceis, médias e difíceis, considerando o grau de complexidade. 

Desta forma, no momento da correção do gabarito, se um aluno teve mais acertos de questões médias e difíceis, o sistema pressupõe que os problemas fáceis, tidos como pré-requisitos para os demais, não foram resolvidos de maneira adequada. Há, portanto, a perda de uma pontuação maior pelo aluno. Ou seja, cada nota depende do desempenho do estudante nessa divisão e não apenas no número de questões acertadas.

O professor Neylon Barboza, que ensina Atualidades, Filosofia e Sociologia do Colégio Vitória Régia, em Salvador, explicou o sistema TRI a partir da comparação entre operações simples da Matemática. “Se o estudante acerta uma equação e erra uma conta de soma, o sistema pressupõe que o acerto aconteceu no chute, sem que o aluno tivesse certeza da resposta marcada, e isso impacta na nota final. Há pré-requisitos entre as questões, ou seja, acertar uma difícil significa que deve-se acertar uma fácil também”, afirmou.

Essa divisão de complexidade das questões é um dos pontos indicados pelos educadores para os benefícios dos 30 minutos extras aplicado às provas de Matemática e Ciências da Natureza. A diretora do Ensino Médio do Colégio Vitória Régia, Débora Dove, ressaltou que o aluno “pode utilizar o tempo que sobrar para focar no que tenha mais dificuldade”. Ainda segundo a educadora, uma dica para o aluno é aconselhar ele “a fazer um ciclo de respostas, resolvendo questões de diferentes disciplinas em blocos, o que permite que ele responda, às vezes, as mais fáceis de cada matéria mais rápido, o que faz com que sobre tempo extra para as demais”.

Para o aluno do 3º ano do Ensino Médio, Gabriel Andrade, que pretende utilizar a nota do Enem para entrar em uma faculdade de direito, “às vezes, o nervosismo faz o estudante errar uma questão fácil e ele pode aproveitar o tempo extra para rever e modificar, se for necessário, a resposta”, comentou.

Simulados Outra medida apontada pelos educadores para a otimização do tempo do Exame Nacional do Ensino Médio é a realização frequente de simulados, com questões de provas anteriores. A diretora do Vitória Régia, Débora Dove, afirmou que, na escola, os estudantes são submetidos, por ano, a 8 simulados com questões do Enem. O aluno Gabriel Andrade confirmou a eficácia da estratégia. “Os simulados fazem parte de minha rotina de estudo, porque me fazem ter noção do tempo que vou ter no dia da prova. Mas, o aluno sempre acaba ficando nervoso e pressionado no dia do exame, porque é decisivo, e nessa hora os 30 minutos extras fazem a diferença no resultado”, concluiu.

A professora de Matemática do Instituto Dom de Educar, ligado à Rede FTC, Andréia Patrícia Santos, reconheceu a importância do ganho de tempo no segundo dia de provas do Enem. “Esse tempo é mais uma oportunidade dada ao aluno de rever as questões com calma, verificar se, no processo de execução da prova, aquela questão inicial deixada em branco pode ser ajudada com algum elemento obtido em questões posteriores”, disse. Além disso, a professora chama a atenção para uma rotina saudável pré-Enem, que envolve descanso, boa alimentação e tranquilidade do estudante de Ensino Médio.

Já Eduardo Valladares, do curso Descomplica, afirmou que cada aluno deve se preocupar com a própria prova. “Não é porque o colega já está na questão de nº 50 e você está na 13ª, que ele já resolveu mais a prova. Às vezes, ele apenas tem uma estratégia diferente de resolução”, explicou. O professor também pede que os alunos deixem o famoso chute para a última opção, apenas em casos extremos, e tentem ao máximo se familiarizar com antecedência com os conteúdos das provas. Com o mesmo pensamento, Neylon Barboza, do Vitória Régia, ressaltou que, no Enem e em qualquer outro concurso, “cada item é feito para distrair o aluno, com as múltiplas escolhas, e, por isso, a atenção e o foco são amigos do estudante”.

Com o resultado do Enem 2018, o estudante vai poder concorrer a vagas no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas de estudo em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para obter financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Confira o nono fascículo da 12ª edição do projeto Revisão Enem, com questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Os simulados são elaborados por professores da SAS Plataforma de Educação, que desenvolve conteúdo, tecnologia e serviços para mais de 700 escolas e 230 mil alunos em todo o país.

Veja dez dicas para enriquecer o tempo extraOrganização: Organizar as questões em blocos, por nível de dificuldade; Prioridade: Responder primeiro as mais fáceis, sinalizar as questões medianas e deixar as difíceis por último; Atenção: Olhar a estrutura das questões de Química, Física e Matemática antes de ler o texto do item; Calma: Tentar ler o texto das questões apenas uma vez; Tema: Tentar identificar qual o tema específico da questão; Tempo: No caso de utilizar cronômetro, escolher um que seja de fácil manuseio; Agilidade: Tentar resolver cada questão em, no máximo, três minutos; Interrupções: Agilizar o tempo de ida ao banheiro e/ou alimentação (durante a prova); Hora: Tentar não se preocupar em ficar olhando para o relógio; Respostas: Reservar 30 minutos para preencher o gabarito oficial da prova.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier