'Enquanto houver bambu haverá flechas', diz Janot sobre fim de mandato

"Não é possível que, para pegar um picareta, tem de tirar fotografia tirando a carteira do outro. É quase uma prova satânica", afirmou ainda

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  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2017 às 15:41

- Atualizado há um ano

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se pronunciou sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de soltar o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Ele disse que a situação 'faz parte do processo', mas em sua avaliação havia provas suficientes para pedir a prisão cautelar do parlamentar, já que se tratava de uma autoridade no 'curso de cometimento de crime'. O procurador, que fica no cargo até dia 17 de setembro, afirmou que até lá vai continuar no mesmo ritmo atual.

"Enquanto houver bambu, haverá flechas. Até 17 de setembro, a caneta está na minha mão. No dia 18 não está mais. Ainda bem. Vou continuar nesse ritmo que estou", disse Janot, em palestra no 12.º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo.

Janot apresentou na segunda-feira (26) denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva - a ação já chegou à Câmara, que precisa analisar a petição e autorizar ou não a análise na Corte. No dia seguinte, o presidente classificou a denúncia de "ficção" em meio a uma "guerra" e, na quarta-feira, nomeou uma rival de Janot para a Procuradoria Geral da República (PGR).

Questionado sobre se há prova cabal contra Temer, Janot respondeu: "Não é possível que, para pegar um picareta, tem de tirar fotografia tirando a carteira do outro. É quase uma prova satânica. Tem de olhar a narrativa". De acordo com a denúncia, o presidente apontou seu ex-assessor e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) como interlocutor dos interesses da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. As delações do Grupo J&F, da família Batista, embasam a denúncia contra Temer e Loures, que foi filmado após receber uma mala com R$ 500 mil de executivos do grupo.

O procurador-geral afirmou também que não se sente confortável ao propor ação penal contra o presidente. "Não gostei de apresentar denúncia. Ninguém tem esse prazer louco", disse. "Quando me dirijo a um determinado político, não é por ser político, mas por ter cometido crime", afirmou. 

Criticado por ter concedido benefícios aos Batista, Janot defendeu o acordo de delação da J&F. "Escolha de Sofia: não fazer o acordo e fingir que não vi? Deixar que continue porque imunidade é alta ou baixa? Foi a escolha de Sofia. Foi a escolha que eu tive. Sem imunidade não teria acordo. E mais malas teriam toda semana", afirmou o procurador-geral. Segundo ele, há "um zilhão de hipóteses de rompimento do acordo".

Sucessora. Segundo Janot, a escolha do nome de Raquel como sua substituta foi legítima e representa um avanço institucional, apesar de seu favorito ser Nicolau Dino, o mais votado. "Participei de dois processos e integrei a lista em primeiro lugar. Nas minhas campanhas, eu disse que o primeiro nome da lista não é obrigatório. O importante é consolidar a lista. Isso ele (Temer) fez. É um avanço constitucional enorme. A lista é tríplice. A escolha para mim foi legítima", disse ele.

Questionado sobre a rivalidade com a sua sucessora, ele afirmou que não a persegue e suas divergências são apenas de entendimento. "Dizem que persigo ela. Que sou inimigo. Não tenho nada contra a doutora Raquel. Temos diferença de entendimento. Tenho que ter flexibilidade para fazer acordo de delação. Caso contrário, não tem acordo", disse Janot.

Raquel assume a PGR no dia 18 de setembro. O mais votado da lista da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) foi o subprocurador-geral Nicolau Dino, com 621 votos. Raquel recebeu 587 votos e Mário Bonsaglia ficou com 564.