'Entraram no posto pra não morrer', diz testemunha sobre grupo que fez 16 reféns

Pacientes e servidores feitos de reféns em posto de saúde prestaram depoimento no DHPP

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  • Tailane Muniz

Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 21:15

- Atualizado há um ano

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Depois de quase três horas de negociações entre policiais e suspeitos, algumas das 16 pessoas feitas de refém no Centro de Saúde Osvaldo Caldas Campos, no Complexo do Nordeste de Amaralina, foram levadas, na noite desta segunda-feira (10) até o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, onde prestam depoimento. Entre eles, estão servidores e pacientes do posto de saúde, incluindo uma adolescente de 12 anos. Ao CORREIO, sem se identificar, uma das reféns garantiu que ninguém sofreu violência. "Não ameaçaram a gente de morte. O negócio todo foi o susto. A incerteza do que ia acontecer. Mas graças a Deus, tudo terminou bem", afirmou a mulher, que havia ido até o posto buscar remédios. Um outro rapaz, funcionário da unidade, confirmou que não sofreram ameaças ou foram agredidos nas quase quatro horas em que permaneceram dentro do posto."Eu não sei como foi ao certo, de repente ouvi uma gritaria e uma pessoa armada. Ficamos numa sala de triagem. Senti medo, mas acreditei que tudo ficaria bem", disse, também sem se identificar.Dois dos suspeitos, identificados como Danilo Santos Nascimento, 28 anos, e Caíque Silva Cerqueira, 19, além de outros dois, que ainda não tiveram os nomes divulgados pela polícia, também foram levados à sede da unidade da Polícia Civil. No local, familiares de Caíque e Danilo contestam a versão da Polícia Militar - que afirma ter sido recebida a tiros por cerca de 20 homens armados. Com os suspeitos, de acordo com capitão Luiz Henrique, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), um revólver calibre 38 foi apreendido. Já a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), em nota enviada à imprensa pouco depois do final da negociação, afirma que quatro armas foram encontradas sob posse do grupo.

Troca de tiros Mãe de Caíque, a manicure Bárbara Silva Cerqueira, 43, foi levada até o posto de saúde e ajudou nas negociações. "Eu pedi a ele que se entregasse, que ele não ia ser morto. Minha única preocupação era que ele saísse de lá sem vida. Infelizmente, minha dor é enorme, de ver meu filho nessa situação. Ele não tinha necessidade disso", afirmou ao CORREIO. Mães e irmã dos suspeitos aguardam momento da liberação dentro de posto (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Segundo ela, Caíque, que é nascido e criado no Nordeste, foi preso por tráfico de drogas há cerca de dois anos. "Ele passou três meses preso. Saiu e já não estava mais se envolvendo como antes. Eu não acredito que hoje ele estava armado", disse. Uma testemunha ouvida pelo CORREIO contou que era por volta de 15h30 quando militares das Rondas Especiais (Rondesp) chegaram no Largo do Teodoro, em frente ao posto médico. "Já chegaram atirando. Eu sei que alguns deles se envolviam, mas não houve troca de tiros. Entraram no posto pra não morrer, por medo", disse. Ainda segundo a moradora da Rua do Posto, localidade da Disneylândia, na tentativa de fugir, um dos homens perseguidos pela polícia entrou em uma casa e foi alcançado. "Mataram ele lá mesmo. Levaram uma quantia de R$ 2 mil da dona da casa, uma idosa, que não tinha a ver com nada. Como é que pode?", indagou à reportagem. Por volta de 20h30, dois dos suspeitos, entre eles Danilo, foram levados por uma viatura da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Nordeste de Amaralina), segundo a PM, até um hospital. Mãe de Danilo, a comerciante Rosemeire Lima dos Santos, 45, disse que o filho estava ferido no pé. "Eu tenho medo de para onde estão levando ele. Eu vi que ele está machucado, não deu pra ver se foi um tiro, mas ele parecia estar sentindo dor", disse. Acompanhada de familiares, a comerciante saiu do DHPP e foi para o Hospital Geral do Estado (HGE), para onde acredita que o filho pode ter sido levado.